BURRICE CONVENIENTE

Em uma certa ocasião, em meu antigo trabalho, um cliente me abordou com a seguinte frase: “Posso te fazer uma pergunta? Eu quero ver se você é inteligente. A frase me intrigou, afinal, como o conceito de inteligência é amplo e em alguns momentos até vago, fiquei pensando de que ponto de partida aquele homem estava partindo para me definir como inteligente (ou não). Eu respondi, intrigado: “Você está dizendo então que se eu discordar de você, eu não sou uma pessoa inteligente?”, inteligente, segundo o seu ponto de vista, são apenas aqueles que concordam com você?

O homem ficou atônito, não havia percebido a contradição de sua frase, e com um bom diálogo, descobrimos como muitas vezes os nossos pontos de vistas são muitos simplistas.

Lembro sempre deste acontecimento quando eu vejo discussões e alguns juízos de valores proferidos na internet. Constantemente percebo muitos considerando alguns burros, apenas porque estes possuem uma opinião diferente da sua. É uma burrice conveniente, que classifica de modo simplista, aqueles que não gostamos, e exalta aqueles no qual nós concordamos. Classificando como inteligente apenas aqueles que nós aceitamos a opinião.

Com isso, quem não tem a mesma opção política que eu, não é inteligente, quem não segue a mesma religião, é alienado. A pessoa que possui determinados pontos de vista, com certeza é um néscio e por aí vai. É fácil avaliar os outros usando apenas os nossos pontos de partida.

O erro é usarmos nós como parâmetro, é definirmos alguns tendo como base nossas habilidades, conhecimentos e motivações, seja profissional, ou política. O equívoco é não perceber que nem todos são iguais, e isso sabemos muito bem, embora na prática, não usamos esta verdade como norte.

Outro erro comum é crermos que a pessoa que não concorda conosco não é inteligente. Por isso, cremos que aqueles que possuem uma outra religião, opção política ou gosto musical, não é capaz, por não ser igual a nós. As vezes agimos assim até de forma inconsciente. Podemos até falar que pensamos diferente, mas na prática, agimos assim, cometendo um erro dos mais gigantes.

Cada ser humano tem os seus anseios, gostos e motivações, por isso que ao olhar, preciso ver muito mais do que as minhas projeções. É entender quem a pessoa é, o quanto é coerente e relevante em sua área.

Não é por discordarmos de uma opinião que precisamos crer que aquele indivíduo não é inteligente. Podemos discordar, mas perceber que o seu pensamento é embasado, coerente e que tal pessoa possui consistência no que fala.

Nem todos os autores eu concordo por completo, mesmo aqueles autores que eu gosto e acompanho, as vezes eu discordo de sua forma de pensar, mas nem por isso os considero inferiores, ou coisa parecida. Costumo ler livros com pensamentos bem opostos ao meu, e mesmo nestes autores, é possível encontrar pérolas, ensinos e pontos de vistas realmente relevantes, mesmo não concordando com o todo da obra.

A sabedoria e o conhecimento estão na forma como vemos as coisas, em nosso modo de avaliar e ponderar. É importante saber separar o que acreditamos, das coisas que não concordamos, entendendo que uma pessoa pode ter uma opinião oposta, mas ser sábio.

O conhecimento é muito complexo para dividirmos em nós e eles. A vida é intrínseca demais para simplificarmos com pontos de vistas que não compreendem o todo, e muito menos percebem como alguns assuntos são complexos demais, para propormos estes tipos de divisões.

No final, existem pessoas que pensam e pessoas que seguem a manada. O resto são apenas opiniões que divergem, por conta dos nossos comprometimentos internos.

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