A ARTE DE OUVIR
Aprecio uma boa conversa, seja de coisas triviais ou assuntos importantes, é fundamental tirarmos um tempo para passar com os nossos amigos e bater um bom papo. Isso não só fortalece a amizade, mas também nos une. É muito bom dialogar, a questão é definir o que é uma conversa do que não é, pois nem sempre as nossas conversas são diálogos.
Não é raro eu me encontrar entre diálogos sem sentido, e em meio a estas conversas, tenho uma grande dificuldade de conversar com pessoas que parecem não ouvir e onde eu tenho a nítida impressão de que a pessoa parenta estar apenas esperando uma oportunidade para falar. Sendo que na maioria das vezes a fala é sobre si e suas experiências.
É claro que é muito bom falar sobre nós, contar sobre a nossa vida, nossos pontos de vistas e anseios, mas um diálogo não é somente isso. Uma boa conversa é acompanhada de ouvir e falar, de opinar e também de se calar. Richard Foster no livro “A liberdade da simplicidade”, acrescenta um ponto importante sobre as palavras e o silêncio:
“Quando ficamos em silêncio e abrimos mão de tentar controlar as pessoas, aprendemos a sentir compaixão por elas” (FOSTER, 2008, p.90).
Quem fala controla, principalmente quem fala muito e ouve pouco. O tagarela controla o assunto, o teor da conversa e até o tempo dela. Sendo que as vezes a motivação do diálogo é justamente fazer os outros concordarem conosco, ou que entendam o nosso ponto de vista, que em alguns casos (ou até na maioria deles), acreditamos serem os mais corretos. Precisamos defender a nossa reputação ou mesmo, fazer com que nos entendam, sendo este um dos grandes motivos no qual muitos não ouvem o próximo.
Outro grande motivo é a falta de curiosidade de entender o assunto, com isso, alguém fala algo e o outro não se importa em saber, ouvir ou mergulhar no tema. Ele prefere que o outro ouça, ou invés de ouvir e aprender.
No final, este tipo de pessoa não consegue nem se ouvir, quem dirá, ouvir o próximo. A ânsia em discorrer sobre suas opiniões, o faz controlar o diálogo, transformando a conversa, em alguns casos, em um monólogo.
O silêncio, para muitos, é impraticável, justamente por ser difícil tomar as rédeas do momento. Parar para ouvir, mesmo que seja a si mesmo, os sinais em seu entorno ou refletir sobre suas ações, requer um controle pessoal e um autoconhecimento que nem todos possuem ou buscam ter.
A arte de ouvir é muito ligado a largar o controle e deixar que o assunto flua, as vezes até para caminhos no qual não entendemos. O silêncio coloca um freio em nosso ego, na vontade de opinar e deixar bem claro o nosso ponto de vista. Ou mesmo em justificar nossas falhas e erros. O silêncio é doloroso, embora seja também curador. Já que é ouvindo que percebemos as coisas, e entendemos que não controlamos nada.
Ficar em silêncio é largar o controle, é aprender a ouvir e deixar a vida falar com você. Quando você aprender a se aquietar, você vai se impressionar com o quanto deixou de aprender e entender, quando se concentrou mais em falar do que em ouvir.
BIBLIOGRAFIA
FOSTER, Richard, A liberdade da simplicidade: encontrando harmonia num mundo complexo, Editora Vida, São Paulo, 2008.
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