A FIGUEIRA SECA

    A família do meu pai mora no interior em uma colônia leiteira. Como não é muito longe de onde moro, cerca de uma hora de viagem, na minha infância visitávamos meus avós regularmente. Eu também passava minhas férias lá. Tenho ótimas lembranças desse tempo. Era muito bom andar a cavalo, tomar banho de rio, ouvir as histórias do meu avô, entre outras coisas. Mas lembro muito bem que eu gostava do pomar, pois havia muitas árvores frutíferas. Eu me deliciava com maçãs, peras e pêssegos. Ver aquelas árvores carregadas de frutas enchia os olhos. Mas em uma propriedade daquele tamanho, sempre havia uma ou outra árvore doente. Quando não havia mais jeito ela era cortada e outra era plantada em seu lugar, pois ela não produzia mais frutos.

Na Bíblia lemos um relato que tem muito a ver com isso. No evangelho de Marcos, no capítulo 11, há um relato no qual Jesus estava saindo de Betânia e ficou com fome. No caminho viu uma figueira cheia de folhas, foi colher figos para come-los, mas não encontrou nenhum. Jesus amaldiçoou aquela árvore que acabou secando completamente. Há alguns detalhes que são interessantes de serem avaliados. Um deles é que esse é o único relato bíblico no qual Jesus destrói algo. Pouco depois ele viria a purificar o templo virando as mesas e cadeiras dos que profanaram aquele lugar, mas destruir a figueira foi único, pois ele destruiu um ser vivo. Outro detalhe é que havia algo muito errado com essa figueira. Na região de Israel, as figueiras começam a brotar folhas nos meses de março ou abril, e não frutificam antes de estarem com sua folhagem plenamente formada, o que ocorre no mês de junho. Era a época da páscoa e a figueira já estava totalmente tomada pelas folhas, mas sem seus frutos. Já que as folhas tinham tomaram conta da árvore, Jesus imaginou que encontraria frutos, mas, procurando pelos figos, não os encontrou. Essa passagem é um simples relato, mas podemos aprender um princípio muito importante nele. Há algumas interpretações distintas para esse episódio, mas quero me ater a uma a qual podemos aplicar à nossa vida.

Assim como a figueira, o ser humano também é criação de Deus. Assim como a figueira, nós também temos um papel a desempenhar. Entre os cristãos, e até na própria Bíblia, é comum encontrarmos a idéia de que os filhos de Deus devem frutificar. Da mesma forma que se espera que a figueira produza figos, se espera que um cristão, cuja vida foi transformada por Deus, produza algo. Mas afinal, o que é esse algo?

Acho que podemos dividir os frutos que o cristão deve gerar em duas categorias. A primeira é o que o próprio cristão deve gerar e a segunda é aquilo que o Espírito Santo gera na vida do cristão. Se estudarmos o assunto de forma mais profunda, acabaremos escrevendo um livro; bem… Pelo menos um, mas provavelmente seriam mais. Mas eu gostaria de tecer breves comentários sobre os frutos do cristão. Vamos começar por aquilo que o próprio cristão deve gerar.

Estamos falando de frutos. Quando pensamos em árvores, principalmente as frutíferas, ao refletir sobre o principal papel delas, logo lembramos dos seus frutos. Pensamos naquelas peras, maçãs e pêssegos que podem saciar nossa fome ou simplesmente a vontade de degustar uma fruta gostosa. Mas a principal função dos frutos não é matar nossa fome, mas sim gerar a semente que produzirá uma nova árvore. Assim também, o principal fruto que um cristão deve produzir é um novo cristão. Da mesma forma que as árvores se reproduzem através das sementes, os cristãos devem reproduzir sua fé na vida das pessoas que os rodeiam. Sabemos que não é tão simples assim, mas acredito que haja algo de errado na vida de um cristão que não oferece a semente da palavra para os que o rodeiam. A aceitação da palavra não depende de nós, homens, mas sim do agir de Deus na vida da pessoa e da disposição da pessoa em aceitar a necessidade de uma vida com Deus. Mas a minha e a tua vida devem ser a semente que pode fazer a vida brotar no coração das pessoas. Esse é o principal objetivo do cristão e da própria igreja. Esse é o principal fruto que a vida do cristão deve produzir. Será que temos uma vida tal que as pessoas são influenciadas a ver Deus em nossa vida? Será que a minha e a tua vida são atraentes aos que convivem conosco?

Há porém, aqueles que o Espírito Santo gera na vida dos filhos de Deus. Esses frutos não são opcionais, mas sim uma conseqüência natural do relacionamento do cristão com seu criador. Na carta aos Gálatas encontramos uma lista de itens que compõe o fruto que deve ser visível na vida de todo cristão: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé,mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5,22). Como já citei, essas características, ou atitudes, são desenvolvidos pelo Espírito Santo e são uma conseqüência natural do nosso relacionamento com Deus. É um fruto que vai se desenvolvendo e amadurecendo a medida que crescemos na intimidade com Deus. Não se trata de um fruto facultativo, mas que deve ser evidente na vida de toda pessoa que professa a fé cristã. Todos nós temos nossas falhas, nossos pontos fracos, mas se tivermos uma vida sadia com nosso Deus, Ele trabalha para que nosso caráter seja aperfeiçoado. Com certeza não chegaremos a perfeição, pelo menos nessa vida, mas devemos desenvolver essas áreas citadas em Gálatas. Aquele que não desenvolve esse fruto deve fazer uma séria avaliação da sua vida.

Da mesma forma que havia algo muito errado com a figueira na qual Jesus esperava encontrar frutos, há algo de errado na vida do cristão que não evidencia os frutos que dele se espera. Mesmo fora de época, a figueira estava cheia de folhas, fato que evidenciava que deveria estar em época de produção. Mas era apenas aparência, pois não produzia nenhum fruto. Infelizmente isso também ocorre com muitas pessoas que sentam nas cadeiras das igrejas. Sua aparência é impecável. Olhando para essas pessoas podemos imaginar que se tratam das pessoas mais fiéis que existem. Estão em todos cultos e demais reuniões, contribuem com generosas ofertas, levantam as mãos quando entoam seus cânticos e até falam o “evangeliquês”. Não fumam, não bebem, não jogam, mas tudo não passa de aparência. É como a figueira: bonita, vistosa, tomada por belas folhas, mas era só isso. Será que esse comportamento descrito é o que Deus quer daqueles que o seguem? Seguidamente vejo os evangélicos criticando a hipocrisia dos fariseus e da religiosidade judaica, mas será que a igreja cristã está longe dessa realidade? O último senso constatou que no Brasil há aproximadamente 42 milhões de evangélicos. Será que se houvesse 42 milhões de pessoas comprometidas com Deus, o país estaria nessa situação? Não estou me referindo à situação econômica, mas a corrupção, desonestidade e falta de princípios permeia toda a sociedade, e infelizmente a própria igreja.

Sou uma pessoa bastante crítica. Acho difícil me conformar com a atual situação da igreja brasileira. Mas não vou responder pelas atitudes da igreja, mas sim pelas minhas próprias atitudes. Será que eu, que critico tanto a igreja, desenvolvo os frutos que Deus espera de mim, ou sou apenas mais um daqueles que tenta enganar a si mesmo? E quanto a você; que vive uma vida de intimidade com Deus e, como conseqüência, apresenta os frutos que se espera de todo cristão, ou é apenas mais um freqüentador de igreja? Comumente confundimos religiosidade com vida com Deus. A religiosidade gera, no máximo, belas folhas na árvore, mas não passa disso. Uma bela aparência que agrada a muitos mas que não traz resultados práticos. Vida com Deus gera frutos que são perceptíveis a todos que convivem conosco. É para isso que Deus nos criou.

A figueira, que deveria alimentar Jesus, era inútil e perdeu sua vida. Da mesma forma, se não apresentarmos os frutos que Deus espera de cada um de nós, não alcançaremos a vida eterna. Não como castigo, mas sim como conseqüência das nossas escolhas. A pessoa que não gera frutos evidencia que está longe de Deus. Ele está muito interessado em mim e em você; provavelmente mais interessado em nós, do que nós nele. Deveria ser exatamente o contrário, mas esse interesse de Deus por todos os homens mostra seu amor. Nossa vida é muito valiosa para produzir somente belas folhas. Como está tua figueira? Desenvolva tua vida com Deus, lance tuas raízes nele e gere todos os frutos que tua vida pode gerar.

 

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