Se há uma capacidade que o homem tem, é de complicar as coisas. Muito do conhecimento que o homem adquiriu e da inteligência que desenvolveu, se esvaem pela falta de sabedoria em saber lidar com o que ele aprendeu. É mais ou menos o que diz aquele ditado: “Pra que simplificar se posso complicar?”. É exatamente isso que o homem gosta de fazer. Isso atrapalha muito a vida de todos nós e torna-se mais impactante quando essa atitude alcança o ambiente da igreja.
A teologia é uma ferramenta maravilhosa que nos auxilia na compreensão um pouco maior sobre Deus e seu reino. Nunca conseguiremos compreendê-lo em sua totalidade pelo simples fato de ele ser Deus e nós sua criação. Mesmo sabendo que nunca o entenderemos completamente, devemos conhecê-lo da forma mais profunda que conseguimos, e, como falei, a teologia pode nos auxiliar nesse objetivo. Mas aí é que começa a confusão; o que é uma ferramenta passou a ser regra de fé para muitos. Temos um exemplo que ocorreu em 1517, quando o padre católico Martin Lutero tomou a iniciativa de propor uma reforma na igreja católica romana, que, em seu entendimento, estava se desviando do caminho da verdade. Em momento algum Lutero tinha como objetivo romper com a igreja romana para fundar uma nova religião. Ele propôs uma reflexão e queria colaborar para que a igreja voltasse ao caminho de onde ela se perdeu. O resultado é conhecido por todos. Não estou afirmando que ele errou, mas chamando atenção para a incapacidade que o homem demonstra em refletir e até mesmo conviver com opiniões divergentes.
É óbvio que quando o assunto é Reino de Deus, há princípios inegociáveis aos quais não se pode ceder. Mas, olhando para a igreja protestante, vejo uma cisão tão grande, ou talvez até maior, do que a que ocorreu em 1517. Citei essa data somente como exemplo, mas há relatos que já no primeiro século da era cristã acontecia algo semelhante. Basta lermos um pouco da Bíblia para percebermos que o homem é o mesmo em todo lugar e em todas as épocas. Em 1ª Coríntios 1,10-13 vemos que acontecia exatamente isso naquele igreja. “Irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo suplico a todos vocês que concordem uns com os outros no que falam, para que não haja divisões entre vocês, e, sim, que todos estejam unidos num só pensamento e num só parecer. Meus irmãos, fui informado por alguns da casa de Cloe de que há
divisões entre vocês.Com isso quero dizer que cada um de vocês afirma: “Eu sou de Paulo”; “eu de Apolo”; “eu de Pedro”; e “eu de Cristo”. Acaso
Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vocês? Foram vocês batizados em nome de Paulo?” Não estou propondo uma igreja uniforme, mas uma igreja com unidade. É aquele chavão que conhecemos muito bem, mas que infelizmente não conseguimos viver: “Unidade na diversidade”.
Paulo é muito claro em afirmar que em Cristo não pode haver divisão. Podemos perfeitamente conviver com opiniões teológicas diferentes e não é errado termos opiniões divergentes. Mas o problema começa quando o reino de Deus se divide por essas opiniões. Quando você e eu não conseguimos conviver com opiniões contrárias, fica comprovado que pelo menos um de nós está vivendo mais em função de uma linha teológica do que em função de Cristo. É comum vermos cristãos históricos não conseguindo relacionar-se com os pentecostais (e vice versa), calvinistas e arminianos em uma infindável batalha, pós-milenistas saindo no tapa com pré-milenistas e amilenistas, e por aí vai. Em outras palavras, as idéias de teólogos que propuseram, falam mais alto na vida das pessoas do que o evangelho que Deus pregou e viveu. Concordamos com Paulo nesse texto de 1ª Coríntios, mas no dia a dia agimos como se Lutero, Armínio, Calvino, Wycliffe, Tauler, Huss, Edir Macedo ou sei lá quem tivessem morrido crucificados para nos justificar. Podemos e até mesmo precisamos de opiniões e convicções teológicas, mas a partir do momento em que se passa a desrespeitar um irmão em Cristo, ou se afastar dele por esse motivo, defendendo outra bandeira, é porque se está no caminho errado e se deixou de olhar para a cruz. Se carregamos o nome de Cristo, que vivamos por ele, e não por teologias. Nenhuma teologia tem condições de transformar a vida de uma pessoa; é Cristo que transforma.
Quando a teologia é utilizada para discussões vãs, ela é uma ferramenta muito eficaz nas mãos do diabo para dividir a igreja, ao invés de ser uma ferramenta através da qual podemos conhecer mais a Deus. Você e eu temos que cuidar para não sermos enganados para tirarmos os olhos e o coração de Deus e vivermos nossa fé em função da teologia. Nos achamos sábios o suficiente para não cair nessa armadilha, mas o diabo é astuto, falando e até mesmo pregando em nome de Deus e assim consegue enganar muitos. Tome cuidado quando a pessoa que tem ascendência espiritual sobre tua vida dá uma ênfase exagerada em alguma teologia. Na grande maioria das pessoas esse é o primeiro passo para tirar teus olhos da cruz e lançá-los sobre homens. Se somos cristãos, que vivamos por Cristo e não por teologias.
