O homem tem uma característica interessante. Parece que dificilmente estamos satisfeitos com alguma coisa, e sempre, ou quase sempre achamos que está faltando algo em nossa vida. Se trabalharmos com essa característica da forma correta, podemos ser beneficiados pois buscaremos um constante crescimento. Mas não é o que acontece na maioria das vezes. Temos a tendência de transformar isso em ingratidão. Muitas vezes temos mais do que precisamos e até mesmo que sonhamos, mas na ânsia de conquistar ainda mais, esquecemos de ser gratos por tudo o que temos, e até mesmo de usufruir daquilo que temos. Há inúmeros exemplos de pessoas que tem literalmente milhões e até bilhões de reais, mas vivem ansiosos e preocupados em aumentar os lucros e simplesmente não conseguem aproveitar a vida. Se isso acontecesse somente na área material, dos males seria o menor. Nossa vida não é segmentada e geralmente agimos em todas as áreas com os mesmos critérios e com o mesmo pensamento. Quem nunca valoriza a vida que tem, dificilmente valorizará as pessoas que fazem parte de sua vida, e pior, nem Deus é suficiente.
Acredito que a maioria conhece a história do povo hebreu. Geralmente conhecemos ao menos os principais acontecimentos, tendo uma visão global da vida desse povo. Mas vamos lá; vamos recapitular alguns detalhes. Deus quis revelar-se ao homem, e tomou a decisão de criar um povo exclusivamente para isso. Ele queria uma nação que não apresentasse traços culturais religiosos dos que já existiam na terra. Ele chamou Abrão, que foi o início de tudo; ele teve alguns filhos, e entre eles, Isaque foi aquele escolhido para dar seqüência à genealogia do Messias. Isaque teve dois filhos, Esaú e Jacó, sendo que os 12 filhos deste eram origem das tribos do povo hebreu. Esse povo ficou cativo por 400 anos no Egito, e foi liberto por Moisés que preparou Josué para sucedê-lo na liderança do povo. E foi com Josué adiante do povo, que a terra prometida foi conquistada. Deus sempre se manifestava diretamente ao líder do povo e as promessas do Senhor foram se cumprindo. Depois de Josué, Israel foi liderada pelos juízes, que podemos dizer que eram os representantes de Deus para o povo. Quando o juiz Samuel estava velho e instituiu seus dois filhos como juízes, as coisas não foram bem. Eles não faziam a vontade de Deus e o povo de Israel pediu que Samuel levantasse um rei para Israel, já que todos os outros povos tinham um rei. Para eles, Deus não era suficiente. Queriam uma autoridade humana, alguém palpável e visível para os liderar. Esse relato encontra-se em 1ª Samuel 8. Apesar de ser algo que ia contra a vontade de Deus, ele permitiu que Samuel ungisse um Rei, mas ordenou que Samuel advertisse o povo dos direitos do rei e como o reinado iria funcionar. Nos versículos 18,19 e 20 vemos o final do discurso de Samuel e a resposta do povo: “Naquele dia, (quando o povo estiver vivendo no regime que escolheu) vocês clamarão por causa do rei que vocês mesmo escolheram, e o Senhor não os ouvirá. Todavia, o povo recusou-se a ouvir Samuel e disse: Não! Queremos ter um rei. Seremos como todas as nações, um rei nos governará, e sairá à nossa frente para combater em nossas batalhas”. A resposta de Deus foi mais ou menos a seguinte: Se é o que eles querem, então ok….que tenham. O restante da história todos conhecemos. Israel teve poucos reis que realmente se importavam com o povo; a grande maioria eram tiranos, opressores, corruptos e o povo sofreu muito. Não é à toa que os reinos do Norte e do Sul caíram.
Mas o que isso tem a ver com a minha e a tua vida? Acho que tem tudo a ver, pois muitas vezes repetimos a atitude do povo de Israel. Talvez não pedindo reis para nossa vida, mas somos iguais quando temos atitudes que evidenciam que Deus não é suficiente para nos guiar pela vida. É claro que um dos princípios básicos de uma vida saudável é o equilíbrio. Não estou me referindo a ter uma vida com Deus alienando-se do mundo como se vivêssemos 27 horas por dia no sobrenatural e se já estivéssemos na eternidade. Mas o fato é que, de uma forma geral, o cristão vive muito mais em função de si, no aqui e agora, do que em função de Deus. Dizemos que confiamos em Deus, mas temos uma imensa dificuldade de viver na sua dependência. Fazemos pedidos e quando Deus responde, queremos outra resposta. E assim como o povo que pediu um rei, buscamos algo a mais para ancorar nossa vida.
Talvez a área que mas evidencia isso sejam a financeira. É normal que nos preocupemos, afinal Deus não quer que sejamos irresponsáveis. Mas o que se percebe é que a grande maioria dos cristãos dão um valor demasiado ao que é material. O ciclo de vida do homem é mais ou menos esse: desde cedo estuda, estuda, para conseguir um bom emprego para conseguir um salário legal. O próximo passo é trabalhar muito para ter um carro, uma casa e conseguir se estabilizar. Quando consegue o seu objetivo é continuar estudando, se preparando para ganhar ainda mais, para que garanta o que já tem, com medo de perder. Com o passar do tempo a preocupação passa a ser a velhice, a aposentadoria e se investe o restante da vida nisso. Enquanto isso, a família, os amigos e até Deus ficam esperando sua vez chegar. É claro que é bom planejar a vida e investir na área profissional, mas, como falei no inicio tudo demanda equilíbrio. Parece que não confiamos em Deus e tentamos garantir que, caso Ele falhe, nosso plano nos salve. O que ocorre é que dessa forma nossa vida com Deus é que falha. Quando enfim se pára (se realmente se pára), percebe-se que a vida passou e não sobrou muita coisa. Só uma vida de trabalho e sonhos enterrados pois nunca se teve tempo para eles, e muito menos para Deus.
Outro aspecto interessante que ocorre nessa área, de Deus não nos bastar, é a questão pessoal. Somos relacionais e precisamos de outras pessoas. Deus nos fez para vivermos na coletividade, em comunhão com os outros, mas algo que é muito comum nas igrejas, é que as pessoas tentam substituir Deus pelo pastor ou outro líder. Precisamos dessas pessoas a nosso lado, mas são simples pessoas. Nosso relacionamento com Deus deve ser mais intenso do que com o pastor. Mas parece que é mais fácil confiar na figura do pastor do que em Deus, afinal conseguimos ver e até tocar no pastor. Qualquer probleminha que se tenha, e lá vai o povo correndo para o pastor. Até parece que são discípulos do pastor e não de Cristo. Quando falo pastor, entenda-se qualquer outra pessoa com ascensão espiritual. Uma situação que beira o ridículo, que não é rara de ser vista, é quando um irmão chega para o pastor ou para outra pessoa e pergunta: Deus me disse que devo fazer isso; o que você acha? Quanta estupidez!!! Se foi Deus que disse, porque perguntar a opinião de outra pessoa? Das duas uma: ou a pessoa não tem certeza que foi Deus que disse, ou não confia mais na resposta que a pessoa vai dar do que o que Deus falou.
Esses podem ser simples exemplos, mas por mais inocentes que possam parecer evidenciam que em boa parte dos casos a igreja cristã vive uma vida de superficialidade. O ensino de Cristo é que tenhamos uma comunhão íntima com Deus e que isso é suficiente para que sejamos felizes. A comunhão com outros irmãos, e as outras áreas que envolvem a vida da igreja são conseqüência da nossa vida com Deus. Quando Deus nos basta, as outras peças da vida se encaixam naturalmente, mas quando nossa vida com Deus é rasa, buscamos suprir nossa necessidade escolhendo reis para nossa vida. Escolher reis é afirmar que Deus não é suficiente. O meu e o teu chamado é sermos discípulos de Cristo, tendo uma vida aos pés da cruz. A partir do momento que realmente tivermos intimidade e conhecermos Deus, veremos que Ele é suficiente para suprir tudo o que necessitamos, pois Deus nos basta.
