A Bíblia é repleta de ilustrações, metáforas, parábolas, pois usando-as a compreensão de ensinos torna-se mais fácil. Outro fator que leva ao uso dessas técnicas é que a cultura judaica é rica em vincular significados a vários elementos. Há vários exemplos onde o significado é importante, e entre eles destacam-se duas plantas: a oliveira e a videira. A primeira tem fundamental importância pois produz a azeitona de onde é extraído o óleo da oliveira que era usado para ungir os homens de Deus. Já a videira é importante pela importância da uva como alimento, principalmente o vinho. Quero chamar atenção à videira.
Desde o primeiro até o último livro da Bíblia temos referência à videira. Trata-se de uma das plantas mais importantes do dia a dia do povo judeu. Seguidamente o fruto dele é relacionado à alegria. Há diversas ilustrações e parábolas usando essa planta, e quero citar uma delas que encontra-se em João 15,1-2, onde vemos as palavras do próprio Jesus: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto poda, para que produza mais fruto ainda”. Essa ilustração é auto explicativa. É interessante que o texto seja lido pelo menos até o versículo 8, pois algumas questões ficam realçadas. Aqui vemos a relação de Deus, Jesus e os homens comparados a um agricultor e sua videira. Vemos duas questões bem claras. Há dois tipos de ramos, e para cada um deles há uma ação de Deus. Há aqueles ramos que dão fruto e os que não os dão. Jesus afirma que ele mesmo é a videira, e seus seguidores os ramos, ou a vide. O tronco é a parte que sustenta toda a planta, mantendo-a em pé, assim como em relação aos nutrientes. É o tronco que mantém os ramos vivos, mas são esses ramos que produzem a uva. A uva não nasce no tronco, mas na vide; na videira em questão, somos nós que devemos dar os frutos. Como já citado, há dois tipos de ramos.
O primeiro citado é aquele que não dá frutos. Jesus é categórico em afirmar que esse será cortado pelo próprio Deus. Acho que todos já vimos alguma planta, geralmente árvores, com ramos ou galhos doentes. O restante da planta está saudável, mas esses ramos, por algum motivo adoeceu. Ele está ligado ao tronco, mas não serve para nada. O que nós fazemos com uma galho desse? Ele é cortado e descartado. Há linhas teológicas que entendem que a salvação é vitalícia, ou seja, que nunca será perdida. Respeito a opinião de quem pensa assim, mas essa passagem, assim como várias outras, é clara ao afirmar que uma pessoa pode, e vai ser cortada em algumas situações especificas. O argumento contrário dirá que os ramos cortados se trata de pessoas que nunca fizeram parte da videira, mas não é o que o próprio Deus encarnado está dizendo.”Todo ramos que, estando em mim não der fruto….”. Jesus poderia simplesmente ter dito que todo o ramo que não der fruto será cortado, mas ele fez questão, e foi claro, ao afirmar que esses ramos estão nele, ou seja, fazem parte da videira, fazem parte de Cristo.
Mas a questão teológica não é o que quero enfatizar. Citei isso apenas para alertar à esse detalhe, pois podemos nos acomodar em algumas questões, e no dia “D” ter uma surpresa infeliz. O que quero enfatizar é o que leva o ramo a não produzir fruto. Por que, mesmo estando em Cristo muitos não produzem aquilo que Deus espera e aquilo para o que foram criados? Deus é justo e todos os ramos podem produzir uva; todos são ligados à videira e tem acesso aos nutrientes. Mas será que estamos nos nutrindo da palavra? Será que deixamos que a luz que brilha (Deus), nos dê a saúde da qual precisamos? Quando conhecemos Jesus, e nos entregamos à ele, temos tudo o que é necessário para nos desenvolvermos. Mas temos que buscar os nutrientes, pois são eles que nos manterão saudáveis e produtivos. Os ramos de uma planta não morrem do dia para a noite. Trata-se de um processo que é facilmente percebido. Estamos fazendo todo o possível para não adoecer? Se postergarmos a cura, estaremos morrendo lentamente e sem perceber, e cedo ou tarde seremos cortados; cortados e descartados.
Há o outro ramo que é saudável, produz seus frutos, mas que pode produzir ainda mais. Em determinada época do ano, as árvores frutíferas são submetidas a uma poda, através da qual há um aumento da produção. Alguns ramalhetes e folhas são cortados para que o ramo se fortaleça e produza mais. Da mesma forma, há alguns detalhes na vida que atrapalham nosso desenvolvimento. Deus quer uma produção farta e essa responsabilidade é nossa. Se tivermos intimidade com Deus e nossa vida realmente estiver em suas mãos, aceitaremos a poda. Geralmente a poda é um tanto quanto doída, e ninguém gosta de passar por isso, mas é o agricultor que sabe o que é bom e o que não é para sua videira.
Não acredito em um Deus determinista que faz tudo o que quer. Acredito na sinergia, onde temos nossa participação no rumo da vida. Se não for assim, temos que aceitar o fato que o pecado, o mau e o inferno são todos da vontade de Deus, e assim teremos um sério problema em relação a definir quem é Jeová e qual é seu caráter. Por isso tudo creio que nem sempre a vontade de Deus é feita. Não falo isso para propor uma discussão teológica, mas para fazer uma pergunta. Você e eu estamos permitindo que Deus faça a poda necessária na nossa vida? Somos corrompidos pelo pecado original e isso só será resolvido na eternidade. Até lá, mesmo que estejamos na caminhada com Cristo, teremos áreas da vida para trabalhar. E é exatamente essa a poda da qual Cristo fala. Não se trata necessariamente de pecado na vida, mas às vezes há situações as quais tiram nosso foco de Deus ou alguns caminhos que não são da vontade de Deus, como por exemplo uma carreira profissional, que pode nos afastar da sua vontade. Será que deixamos que ele nos pode? Como falei, geralmente a poda é doída, pois temos que abrir mão de algo que queremos, mas em sua onisciência, Deus sabe o que é melhor para nós. A verdadeira entrega inclui entregar uma tesoura nas mãos de Deus, para que ele promova a poda sempre que necessário. Ela não é agradável, mas quando os frutos vem, colhemos os benefícios de nos submetermos a Deus. A colheita é muito mais gratificante.
Todos são chamados a ter uma vida com Deus e desenvolver nossos frutos. É dessa forma que ajudamos para a edificação do Reino de Deus na terra. Deus nos dá todas as condições para que frutifiquemos. Ele plantou a videira na nossa vida e promove tudo para que a colheita seja farta. A nós cabe ficarmos ligados à videira, e permitir o trabalho do agricultor. Se agirmos dessa forma, daremos frutos como a terra prometida, onde os cachos de uva eram tão grandes que precisavam ser carregados por duas pessoas. Deus quer que produzamos os frutos para os quais ele nos preparou.
