Uma dos detalhes que chama minha atenção nos cristãos é sua intolerância, e muitas vezes em relação a seus próprios irmãos. É comum vermos uns querendo impor suas convicções pessoais àqueles que pensam de forma diferente. Mas isso não é de hoje. É só olharmos para a Bíblia, veremos que isso é uma questão que atravessa as fronteiras do tempo. Em vários textos do Novo Testamento encontramos escritos que tratam dessa questão. A questão histórica e político-religiosa da época proporcionou vários embates que adentraram no âmbito da fé. A grande dificuldade da época foi entender que muitos dos ritos judaicos não eram questões espirituais, mas sim culturais ou somente litúrgicas. Como bom teólogo, o apóstolo Paulo aborda esse assunto em diversas oportunidades. Uma delas foi quando escreveu uma carta aos cristãos em Roma. Todo o capítulo 14 de Romanos trata desse assunto, mas quero citar somente os primeiros quatro versículos: “Aceitem o que é fraco na fé, sem discutir assuntos controvertidos. Um crê que pode comer de tudo; já outro, cuja fé é fraca, come apenas alimentos vegetais. Aquele que come de tudo não deve desprezar o que não come, e aquele que não come de tudo não deve condenar aquele que come, pois Deus o aceitou.Quem é você para julgar o servo alheio? É para o seu senhor que ele está de pé ou cai. E ficará de pé, pois o Senhor é capaz de o sustentar”. Podemos entender que esses poucos versículos são uma síntese de todo o capítulo, pois no restante do mesmo, Paulo trabalha essa questão mais detalhadamente.
Mas, ao que parece, boa parte dos cristãos nunca leu esse capítulo da Bíblia. É impressionante como cristãos criticam e até mesmo julgam irmãos, muitas vezes até mesmo condenando-os ao inferno. Acredito que uma das causas desse comportamento é o conhecimento muito raso da palavra de Deus. Assuntos como estilos de vestimenta, consumo, mesmo que moderado, de bebidas alcoólicas, entre outras questões, são colocadas em patamares espirituais da mais alta importância, quando na verdade não encontramos isso na Bíblia; ou seja, é falta de ler a Bíblia. Você não quer ser um fraco na fé? Estude a Bíblia; mas estude da forma correta. Mas esse texto de Romanos não tem objetivo de nos incentivar a crescermos no conhecimento bíblico ou teológico, mas como nos relacionar com nossos irmãos que estão em uma realidade diferente da nossa. A questão é absurdamente simples. A resposta para esse problema, que chega a dividir igrejas e fazer com que muitos até desistam da caminhada com Cristo, é o simples ato da tolerância. É algo que não requer uma grande espiritualidade ou um conhecimento teológico avançado. Basta querer, amar nosso próximo e ter o mínimo de sabedoria. O que infelizmente vemos, é que em muitos casos, quanto maior o conhecimento do indivíduo, maior é sua falta de sabedoria. Quanto mais sabe, menos consegue compreender seu próximo. Ou talvez não queira compreender o próximo.
A mensagem de Paulo é muito simples. Seja sábio, respeitando teu próximo. Se ele é fraco na fé, não adianta, pois provavelmente ele não vai entender teu posicionamento. Não discuta assuntos controvertidos que só trarão confusão e divisão. Não estou fomentando a ignorância dos cristãos. Acredito que o ensino bíblico e até mesmo teológico é fundamental para que tenhamos cristãos relevantes na sociedade, mas ensinar é muito diferente de discutir. Geralmente se discute por uma questão pessoal. Discute-se para provar que se sabe mais que o outro. É possível vencer uma discussão, arrasar os argumentos da outra pessoa mesmo estando errado. Vencer uma discussão não prova necessariamente que se está certo ou que se sabe mais; a certeza é que a pessoa vencedora argumenta melhor que seu oponente, mas pode estar totalmente errada. Infelizmente vejo intermináveis discussões entre os cristãos, discussões essas que não levam a lugar algum. Qual o resultado disso? Muitas vezes se ganha a discussão e se perde a pessoa. Com certeza Deus irá cobrar essa atitude daqueles que agem assim.
O que Paulo propõe é que haja respeito mútuo. O “forte” na fé não deve desprezar o “fraco”, e vice versa. Trata-se de respeito mútuo. É claro que é muito mais fácil o forte compreender o fraco do que o contrário. Mas infelizmente nosso ego, orgulho e até mesmo a auto-estima baixa levam muitos a buscar um reconhecimento público investindo em embates fúteis. Uma das atitudes que podemos ter que contribui para o bem estar social, e principalmente dentro da igreja, é a tolerância. A vida comum entre os cristãos não deve basear-se na concordância de todos os assuntos, principalmente nos controvertidos. Devemos ter a mesma fé, os mesmos princípios, mas na diversidade do corpo de Cristo há lugar para opiniões divergentes em assuntos periféricos. Os cristãos não concordam a respeito de todas as questões que se referem à vida cristã, e não precisa ser assim. O que é necessário, é que o amor ao próximo e ao Reino de Deus esteja acima do ego que nos leva a querer impor nossa opinião por mera vaidade.
