ESCRAVO TECNOLÓGICO

“O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis.

 Este pequeno texto faz parte do discurso final do filme O Grande Ditador, de Chaplin (1940), e apesar de ser de muitos anos atrás ele ainda é de uma atualidade incrível. Vivemos em tempos de ouro, temos informações em tempo real. A tecnologia é acessível, o mundo segue em constante evolução. Mas penso que o homem, como indivíduo, está regredindo. Relacionamentos vazios, troca de valores, desrespeito com pontos de vista opostos é muito comum em nossos dias, isso tudo regado a pedantismo e hedonismo.

Alguns vão dizer que a geração que está vindo não está regredindo, mas evoluindo e o fator superficialidade, falta de contato ou  apatia, é só um modo de enxergar destas pessoas, que se relacionam da maneira que eles acham ser corretos, ou como sua geração foi movida a agir. Posso até concordar com tudo isso e entender que eles podem não ter culpa, mas isso não quer dizer que é correto viver uma vida apática, com total descaso com o próximo, a natureza e o mundo. Uma coisa não exclui a outra e o resultado destes relacionamentos rasos e superficiais vemos em nossa própria sociedade, como fruto desta nossa evolução toda.

A natureza vem sendo devastada como se não houvesse amanhã, pessoas sendo tratadas como objetos por empresários, ou mendigos sem qualquer condição de vida jogados na sarjeta, sendo julgados e sentenciados sem ao menos serem ouvidos. Nem todos são vagabundos, nem todos são ladrões, nem todos são aproveitadores e aparência não diz quem uma pessoa é.

Vivemos escravos da tecnologia e o que ela divulga como verdade, compramos como lei. Muitos perderam o senso crítico e seguem divulgando verdades sem o mínimo de provas concretas, enquanto o mundo vai se desconstruindo. A Bíblia, que muitos creem ser uma mentira, já havia previsto isso. Mateus 24:12, em uma parte onde Cristo começa a falar do fim do mundo, fala justamente sobre isso:

“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará”.


Ou conforme a Bíblia A mensagem de Eugene Peterson (2012):

“Para muitos, a proliferação da maldade será fatal. Do amor que possuíam, restará apenas cinzas”.

Depois de dar inúmeros sinais do fim, falar de muitos falsos mestres, de sofrimentos e perseguições o texto nos dá algumas boas certezas. A primeira é que o pecado esfria o amor. A maldade, o engano destes falsos mestres, o mal, ou quem sabe, ver continuamente o mal e a injustiça, nos faz decair e esfriar. Nesta parte do texto, iniquidade significa desregramento, rebeldia, falta de autoridade. O distanciamento do verdadeiro evangelho, do amor fraternal das igrejas, nos separa e esfria o nosso amor (CHAMPLIN, 2014, p. 633).

Iniquidade em grego anomia, significa justamente desobedecer, viver uma vida sem regras (LOUW, NIDA, 2013 p. 674). E sabemos que a vida cristã não é uma vida sem regras. A palavra, que devemos estudar e entender, é o ensino do próprio Deus, onde nós temos que obedecer e sem demora estudar para cumprir seus mandamentos.

 A segunda verdade é que ser cristão é ser nascido de novo, e quem é nascido de novo tem uma nova vida, não repete sua vida passada, nem vive como vivia no passado. Não estou pregando legalismos, e nem falando que não pecamos nunca. Mas a mudança de vida é primordial para quem é cristão, e a graça que não traz mudanças, não é graça, como bem pontua John Macarthur:

Graça que não afeta o comportamento de uma pessoa não é a graça de Deus (MACARTHUR, 2013, p. 40).

Vivemos em um contexto onde todos fazem o que querem, e seguem as suas próprias ideias, que não é o nosso caso. Somos cristãos, imitamos a Cristo e com isso, temos um padrão a seguir. Creio que um dos grandes males de nossa época é a superficialidade e falta de conhecimento. E isso nos separa de Deus. Temos que parar de buscar as coisas prontas da internet e aprender a estudar para crescer como pessoa e entender o padrão de Cristo.

O mal do século é a superficialidade, é não se aprofundar, concordar com a primeira cara bonitinha que aparece em um vídeo. Ser relevante é saber o que se quer, é definir bem o que se pensa e o que se crê, não só comprar coisas prontas na internet e usar como verdade. Eu sei que tem muita coisa boa na internet, eu mesmo leio sites e vídeos com conteúdos realmente sólidos e fundamentados, mas temos que ter cuidado com o que compramos como verdade. Se não estudarmos, lermos e nos aprofundarmos no conhecimento bíblico, como vamos classificar o que é relevante ou não?

A Bíblia fala que a fé vem pelo ouvir a mensagem (Romanos 10:17). Se não ouvirmos, nem buscarmos, como teremos fé? Um cristão sem força de vontade para estudar, sem se regrar no estudo para entender a palavra, certamente esfriará. Esta é a nossa missão diária, nos esforçar para não voltarmos às velhas práticas. Devemos tomar cuidado com o mal do século, que é a superficialidade, para que com isso, não sigamos sendo cristãos frios e sem gosto. Ou sermos aquelas pessoas que quando olham para alguém passando por dificuldade, não fingem que não é com elas. Uma das maiores marcas de um cristão é o amor, um amor que vem de Deus. Mas se não buscarmos ler a sua palavra, continuaremos superficiais, longe de fazer a sua vontade e com isso provavelmente esfriaremos.

BIBLIOGRAFIA

PETERSON, Eugene, A mensagem: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Editora Vida, São, 2012.

Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje. São Paulo: Ed. Soc. Bíblica do Brasil, 2005. 

MACARTHUR, John. O Evangelho Segundo os Apóstolos: O Papel da Fé e das Obras na Vida Cristã. São Paulo: Editora Fiel, 2013.

RIENECKER, Fritz. Comentário esperança. Curitiba: Editora Esperança, 1993.

LOUW, Johannes.; NIDA, Eugene. Léxico Grego-português do Novo Testamento. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 2013.

CHAMPLIM, RN. O Novo Testamento interpretado Versículo a Versículo. São Paulo: Editora Hagnos, 2014.

Deixe um comentário