CURAS QUE NÃO CURAM

 Os quatro evangelhos relatam muitos dos milagres que Cristo fez. Particularmente acredito que a Bíblia não contém todos os atos extraordinários que Jesus realizou, mas apenas alguns deles. O que será que levava Cristo a realizar esses milagres? Quando penso nisso, dois motivos me vêm à mente: o primeiro era mostrar quem ele era/é. Era o Deus encarnado em forma humana, e todos os prodígios que fez, foram uma das formas que o povo tinha de reconhecê-lo. Mas também acho que muitos dos milagres que foram realizados por Jesus, foram movidos pelo amor e compaixão pelas pessoas. Esses eram os motivos para que Jesus realizava milagres; mas como isso fica da perspectiva de quem se beneficia dos favores do Messias?

 A grande maioria das pessoas quer um milagre em sua vida. Há diversas letras de músicas de louvor que expressam isso. Mas para que o homem quer que Deus faça um milagre em sua vida? Acho que uma das respostas está no texto de Lucas 17,11-19.  Trata-se da cura dos dez leprosos. A lepra, hoje denominada hanseníase, era uma doença terrível, para a qual não havia cura. A pele e a carne sofre decomposição, e a pessoa literalmente vai apodrecendo. Portadores dessa doença eram segregados da sociedade, viviam isolados e havia uma série de leis que regulamentavam seu comportamento. Um deles é que não podiam interagir diretamente com pessoas que não tinham a doença. Tinham que manter uma grande distância para evitar o contágio. Eram consideradas pessoas impuras e viviam esperando ser consumidos pela morte. Trata-se de uma realidade inimaginável para nós. Lucas relata que Jesus, passando pela Samaria e Galiléia, deparou-se com um grupo de dez leprosos, que mantendo distância clamaram pela misericórdia de Cristo. Ele os curou e mais tarde somente um veio ao encontro de Jesus glorificando-o. Jesus olha para ele, e diz: “Levanta-te, e vai; tua fé te salvou”.

Esse homem foi salvo duas vezes por Jesus: uma da morte física através da lepra e também foi salvo da perdição eterna. É difícil saber qual era sua real motivação quando clamou pela misericórdia de Cristo. Não sabemos se era para curá-lo da lepra ou também buscava vida eterna. Os outros nove deixaram claro que não se importavam muito com Deus. Quando Jesus resolveu o problema deles, a lepra, viraram as costas a Jesus, e nem voltaram para agradecer. Mas o que eles esqueceram é que essa atitude não lhes livrava de um problema muito maior que a lepra; seus pecados. Seus corpos foram curados, mas seu espírito não. Este continuava em estado de decomposição.

 Nos admiramos com essa atitude ingrata dos nove leprosos, mas ao olhar em volta, ou talvez até mesmo para nossas atitudes, talvez encontramos uma realidade similar. É comum que cristãos vivam uma vidinha bem aquém do que Deus quer, de vez em quando abrem suas bíblias, até oram algumas vezes na semana e vão aos cultos. Mas quando se deparam com uma lepra na vida, entram em desespero e reconhecem que só Deus pode ajudá-los. Correm em direção a Deus, imploram por misericórdia e perdão, e quando a questão é resolvida voltam ao conforto da vida descompromissada. Conheço pessoas que foram curadas milagrosamente de doenças fatais, que acabaram deixando Deus de lado. Mas fico feliz em conhecer outras que foram curadas do câncer, que firmaram ainda mais sua fé em Deus. A que conclusão que podemos chegar? Talvez a principal seja de que nossa fé não deve se basear em milagre. Não são os milagres que sustentam nossa fé, mas nossa fé que abre caminho a eventuais milagres. Bultmann, um dos pilares da teologia liberal, falou algo que acho muito interessante. “Não preciso dos milagres para crer em Deus”. Estes acontecem e boa parte das pessoas que os experimentam acabam não desenvolvendo uma vida consistente com Deus. São curadas, mas continuam doentes. Nossa fé deve ser baseada naquele que Deus realmente é. Quem é Deus para você? O que você é diante de Deus? Refletindo sobre essas duas perguntas, damos um grande passo para ter uma vida com Deus. Jeremias 29,13 diz: “Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o coração”. Se buscarmos Deus, como aquele leproso que voltou a Cristo, aí sim teremos nossa verdadeira cura. Enquanto buscarmos Deus somente para que ele resolva nossos problemas, nossa verdadeira lepra nunca será curada. Quando, porém, o buscarmos de todo o coração, aí sim experimentamos o verdadeiro milagre. Como, e para o que você busca a Deus?

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