Há quem diga que a pessoa que não gosta de política, vai ser governado por quem gosta. Porém, neste período conturbado, nem sei mais qual político presta ou não presta, é um desafio falar que se gosta de política. Superfaturamentos, roubos, trapaças, tudo vindo à tona, e eu já não me impressionaria mais se o maior santo dos homens for denunciado por roubo. O engraçado são os especialistas de plantão, que malham quem foi protestar e os que malham quem não foi, como se reclamação ajudasse. Isso sem contar na guerra de discussões para provar qual dos políticos é melhor ou pior. Sendo está bagunça toda, a meu ver, um reflexo da própria confusão mental que as pessoas se encontram.
Platão em seu livro A República, tece uma crítica bem ácida a política que ocorria em sua época. Pois tal qual nos dias de hoje, só fazia política, quem tinha direitos de cidadania, o dom da oratória, ou grana para proporcionar tais coisas. É por isso que só poderosos e ricos, acabavam ocupando os lugares de destaque (PLATÃO, 1990, PG. 6, 7, 8). Muito igual aos dias de hoje, que para ser político, é deveras trabalhoso e custoso, sendo possível apenas a quem tem poder ou alguma influência. Coisa que o próprio Platão discordava.
Porém engana-se muito, quem acha que política só se faz em Brasília ou nas prefeituras e órgão públicos. Nas ruas, no mercado e até no trabalho, exercemos uma posição política, direta ou indiretamente, nós querendo isso ou não. Veja bem, no trabalho, o mais articulado ou influente, é sempre o que está em cargos de destaque. Na igreja, o irmão com mais grana, status, ou melhor discurso é o que tem melhor posição. É a lei da política, presente em todas as áreas de nossa sociedade. E é isso que me faz ver a política e sociedade, como algo interligado e sistêmico, como um resultado natural de como a máquina funciona. Gosto de uma frase de um autor desconhecido que diz:
“Cada povo tem o governo que merece”.
E olhando o caos, e as pessoas que reclamam do governo atual, não posso deixar de concordar com a frase. Raciocine comigo, quase todos os brasileiros são corruptos, e muitas vezes nem nos damos conta disso. Desde o download ilegal, o livro em PDF que não é pago, até o troco errado que não devolvemos. Fazemos isso, muitas vezes sem nos dar conta que é um roubo, que é algo ilegal ou que não é correto fazer. Aí quando vemos um governo corrupto, nos indignamos, como se isso não fosse características nossas.
Isso sem contar que nem ligamos para o salário absurdamente alto dos políticos, e muitas vezes, nem acompanhamos o político em que votamos, e o tempo passa, e ninguém da bola para isso, nós passamos a ligar apenas quando tudo está um caos, ou quando afeta nosso bolso. Todos falam em corrupção, como se até agora, todos estes homens eleitos não vivessem uma vida de gastos obscenos e dispendiosos.
Quando falamos em mudanças, muito mais coisas deveriam ser mudadas, principalmente a nossa forma deturpada de ver o mundo. Aceitamos qualquer esmola deles, idolatramos qualquer pessoa famosa, concordamos com o político que rouba, mas faz, enquanto estes enxovalham e massacram a nossa dignidade pelas costas.
Não estou dizendo que eu sou contra os protestos, ao contrário, o insatisfeito tem que protestar. Mas penso que se não mudarmos, não aprendermos a olhar o próximo com mais amor, e respeitar a opinião alheia, continuaremos acabando com a nossa nação, pela falta de união enquanto eles estão unidos para roubar. Penso que a corrupção é muito grave, é um ato de egoísmo, e quem pratica deve ser punido severamente. Mas penso também que a mudança deve começar em nós. O homem é um egoísta por natureza, mas pelo menos, pode tentar ser mais justo e respeitar o espaço do próximo, deixar de cometer estes pequenos delitos, e não justificar o download ilegal com a premissa que o material original é muito caro acho que isso já seria uma grande evolução.
Viver em sociedade é pensar coletivo, é não jogar lixo na rua, e pensar que tudo que fazemos gera uma consequência. Ser honesto não é só não roubar, é fazer o que é preciso, para a próxima geração, tenha as mesmas condições que nós temos. Caso contrário estaremos roubando o futuro delas. E quanto à política, se não aprendermos a lidar com ela, como um assunto sério que é, continuaremos na mesma. E fiscalizar, votar em boas propostas, se informar, depende de nós e a nossa falta de interesse nisso, continuará gerando ladrões e corruptos, para governar a nossa nação.
BIBLIOGRAFIA
PLATÃO, Diálogos, Editora Nova Cultural, São Paulo, 1990.
