CICATRIZ

Algumas pessoas marcam a vida da gente, nos deixam cicatrizes que custamos muito a esquecer, isso quando esquecemos. Madre Teresa de Calcutá disse certa vez:

“Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir melhor e mais feliz”.

Eu fui por muitos anos alguém que guardava ressentimento, as feridas que eu sofria de gente ignorante, custavam a fechar, talvez porque eu ainda as cultivava. Sempre remoía ofensas e chegava a sonhar com o dia que eu retribuiria em dobro o mal que faziam a mim. Isso me consumia, até encontrar a cura com muita reflexão e oração.

Há uns anos, encontrei uma pessoa que há dez anos eu não via, por conta de um desentendimento. Na época, tentei me retratar mas não tive sucesso, ele não aceitou as desculpas. O tempo passou e eu não achei que aquele episódio ainda estaria vivo na mente daquele camarada. Porém quando ele me viu, se transformou, havia fúria em seus olhos e raiva transbordando em sua face, modificando o seu rosto por inteiro. Aquele episódio ainda estava vivo para ele, todos aqueles acontecimentos viviam em sua mente por estes dez anos todos. Confesso, não por me achar melhor que todos, que fiquei triste, o meu sentimento era de pesar e pena. Não acreditei que alguém pudesse carregar por tantos anos um sentimento que só o consumia e o destruía. Salmos 37:8 diz:

“Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal”.

 Ninguém acorda de manhã e pensa, hoje vou dar uma erradinha para variar. Somos seres humanos e como tal, estamos propícios ao erro, a falha. Contudo, a maneira que encaramos os problemas e conflitos determinará a paz, ou não em nosso interior. Uma vez ouvi que quem não perdoa, carrega o ofensor em sua vida toda hora. Perdoar é se livrar de uma carga é se libertar e continuar olhando para frente. Eu sei que muitas ofensas são difíceis de esquecer, muitas lembranças ruins carregaremos para o resto de nossa vida, porém, superar o mal é necessário, para que possamos continuar tranquilos e saudáveis. Odiar é se autodestruir, guardar rancor é se envenenar dia após dia. Quando não perdoamos ou não tentamos superar a ofensa, nos tornamos vítima de novo, afinal quem morre aos poucos é quem guarda rancor.

Perdoar não é se rebaixar é ser humilde e reconhecer quem somos. Leandro Karnal, no Livro Pecar e Perdoar, Deus e o Homem na História, escreve algo interessante sobre este tema:

Perdoar é igualar-se e considerar que, se um errou, pertence a minha espécie. O fato de eu não cometer aquele erro em particular, apenas torna o erro alheio distinto dos meus, não me torna melhor”.

Perdoar é reconhecer a nossa humanidade, é enxergar que todos erram, a diferença é só o nome do erro, além  de que perdoar é um mandamento divino, é entender que se Deus nos perdoa, nós, como seus seguidores, devemos perdoar também. Assim, além de obedecermos a Deus, fecharemos mais rápido a ferida de nossa alma. E por mais que fique uma cicatriz, afinal, perdoar não é esquecer, mas lembrar sem mágoas, aquela marca não mais nos incomodará, existirá como a lembrança de uma experiência que provavelmente não se repetirá.

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