Quem nunca duvidou em um momento de falta de fé? Quem nunca achou, em meio ao caos, que Deus devia estar de má vontade para te auxiliar? Às vezes é difícil enxergar luz em meio a tormenta, ou visualizar esperança em meio a nossa dor, normal. Mas a grande verdade é que quase sempre vemos Deus tendo nossas atitudes, e nossas reações diante dos problemas. Ou esperamos que Ele faça conforme achamos correto agir, é por isso que nos decepcionamos. Esquecemos que Deus é Deus e não um estagiário aprendendo como o ser humano funciona, tentando descobrir qual é a melhor maneira de resolver seus problemas.
Eu vim de uma família cristã e apesar de eu não me considerar cristão naquela época, eu conhecia a verdade, ou parte dela pelo menos. Aprendi ainda novo que para conseguirmos as coisas tínhamos que pedir a Deus com fé, trabalhar na obra e dar o dízimo, para não ser roubado pelo devorador. Aprendi também que a pessoa que não tem as coisas, é porque não tem fé. Que o cristão que tem depressão ou problemas é porque não ora, ou que somos filhos do rei aqui na terra e temos que ter de tudo. Esta era a minha crença quando novo, um pensamento que questionei muito quando cheguei em minha maioridade.
Primeiro porque sou um cara um tanto quanto racional e sempre fiquei com um pé atrás com o evangelho da emoção. Nunca acreditei que Deus se manifestava apenas em meio ao povo que fala em línguas, e tem sentimentos estranhos e variados, e se um dia eu estive presente em ambientes deste estilo, foi porque ou estava tentando entender tudo aquilo, ou eu era obrigado por meus pais a frequentar.
Segundo porque eu não acredito que Deus deva nos servir, realizar nossos desejos e caprichos. Eu sei que Ele é o nosso pai, e também sei que como pai, devemos recorrer a ele, a clamar por sua ajuda e saída, e eu também sei que toda a oração é um apelo a sua misericórdia, é reconhecer que só Ele tem poder. Mas sei também que Deus faz as coisas de sua maneira e não da nossa. E por mais que isso seja difícil de compreender, é assim que ele é, nós gostando disso ou não.
Penso que as vezes invertemos as bolas, acreditamos em Deus pelo que Ele pode fazer a nós e não pelo o que Ele fez, seu sacrifício na cruz, ou nos ter dado vida. Uma vez ouvi uma menina falar a um pastor amigo meu, que ela não tinha gostado das músicas do louvor, prontamente o pastor respondeu, ok, quando o culto for feito para adorar a você, tocarei as músicas que você gosta. Nunca esqueci este episódio, não pela resposta do pastor, mas porque as vezes sem querer pensamos assim. Achamos que tudo é para nós, que o evangelho gira em torno do nosso umbigo, contudo se abrirmos a Bíblia, descobriremos que não é bem assim.
Hoje, depois de anos e anos nesta caminhada com Deus, já mais maduro e centrado, eu ainda passo por momentos de dificuldades e falta de confiança, em momentos que me sinto sozinho e desamparado. A diferença é que de uma maneira ou de outra, creio que eu sigo o evangelho porque fui chamado, sigo nesta terra, mesmo em dificuldades e perrengues, sabendo que não estou só e que Cristo está ao meu lado eu sentindo isso ou não. Não fui chamado a sentir, e sim a obedecer e a servir a Deus. Gosto muito do texto de Filipenses 4:12-13, ainda mais vindo da Bíblia A Mensagem, de Eugene Peterson:
“Já aprendi a estar contente, a despeito das circunstâncias. Fico satisfeito com muito ou com pouco. Encontrei a receita para estar alegre, com fome ou alimentado, com as mãos cheias ou com as mãos vazias.
Onde eu estiver e com o que estiver, posso fazer qualquer coisa por meio daquele que faz de mim o que sou”.
Nossa certeza, segurança e fé deve estar n’Ele, sem esquecer que quem deve ser servido é Ele. Deus é pai, Ele não nos abandona e nos ajuda, mas Deus, ainda é o nosso alvo principal e não o nosso umbigo. Temos que parar de ficar olhando para o milagre de Deus e viver o evangelho, confiando em sua vontade e em sua maneira de agir.
