BODE EXPIATÓRIO

É comum quando algo dá errado procurarmos um culpado, é sempre mais fácil jogar a culpa em outros do que assumir os próprios erros e aprender com eles. E este comportamento vicioso se repete como fábula, contada e recontada desde que o mundo é mundo. É curioso ver que durante este nosso período negro na economia a procura do culpado deste caos é grande, nunca achamos ser nós o problema é sempre o outro, como bem pontua Arnaldo Jabor:

“Todos nós falamos da desgraça nacional como se fosse feita por outros, seres impalpáveis que são responsáveis por tudo. Eles podem ser o governo, o operariado, os americanos, os jornalistas, até os judeus talvez…Todos menos nós” (JABOR, 1993, Pg20).

Se o mundo está um caos é culpa do político, se você não conseguiu estudar e se formar é culpa de sua mãe. Você não é valorizado no trabalho é culpa do seu chefe, enfim, as desculpas não tem fim… Por isso quando ouço alguém falar em crise, imediatamente tento entender, qual crise?

A crise de ética, que nos leva a chamar de burro quem devolve o dinheiro que não é dele? Ou talvez seja a crise do conhecimento, já que muitos mal leem algumas linhas sem se sentirem entediados, imagine um livro inteiro. Sendo que o analfabetismo funcional está cada vez mais crescente em nosso país, por conta de pessoas que não se interessam em estudar e se aprofundar em nada. Pessoas mal conseguem interpretar uma bula de remédio, quanto mais verificar se todas as notícias divulgadas na internet são verdadeiras. Ou quem sabe uma crise de diálogo, afinal, duas pessoa que pensam diferentes geralmente não conseguem nem conversar, discutir ideias e chegar a um consenso mútuo, quanto mais falar sobre pontos de vistas.

Nesta internet da vida, tenho visto muitos citarem o mesmo texto de Provérbios 29:4:

“Quando o governo é honesto, o país tem segurança; mas, quando o governo cobra impostos demais, a nação acaba em desgraça!”.

Que não deixa de ser verdadeiro, porém poucos têm usado Provérbios 19:8:

“O que adquire entendimento ama a sua alma; o que cultiva a inteligência achará o bem”.

Será que estamos achando o bem?

Acredito que se há um culpado nesta política toda somos nós, por votarmos em pessoas erradas, não nos informarmos e deixarmos ser manipulados. Quando aprendermos a votar em pessoas certas, não em palhaços ou incompetentes e conseguirmos seguir lendo, aprendendo e se informando, o mundo se torna um pouco melhor, ou pelo menos existe a possibilidade de tal coisa.

Eu sempre digo que é só lendo para sermos relevantes. Pondé no livro Filosofia Para Corajosos nos dá uma ótima lição:

“Quem nunca leu nada não tem opinião sólida sobre nada, apenas achismo, uma opinião vazia, como diria Platão, quando fazia a diferença entre ter opinião (doxa) e conhecer algo (episteme). Conhecer demanda trabalho, conversar com outras pessoas e ler alguns livros. Na maioria dos casos, conversar com mortos. Uma opinião vazia, qualquer bêbado tem” (PONDÉ, 2016, p. 29).

Conhecer, ser relevante e fazer a diferença da trabalho, mas é preciso. Sair do comum, do automático, não é fácil, mas é importante para não sermos fantoches nas mãos de pessoas desonestas. Ninguém manipula uma pessoa com conhecimento, ninguém engana um cidadão esclarecido. O maior ato de revolução que podemos fazer hoje é ler e nos informar e como diria Monteiro Lobato: “Um País se faz com homens e livros” Então vamos começar a ler.

BIBLIOGRAFIA

JABOR, Arnaldo, Os canibais Estão na Sala de Jantar, Editora Siciliano, São Paulo, 1993.

PONDÉ, Luiz Felipe, Filosofia Para Corajosos, Pense Com a Própria Cabeça, Editora Planeta, São Paulo, 2016.

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