Por muitos anos o deserto fez parte da prática espiritual de algumas pessoas. Estar em solitude, desacelerar do cotidiano corrido e seguir na busca de um encontro verdadeiro com Deus, fez parte da vida de muitos do século III a XV. Como bem explica Ricardo Barbosa em seu livro o caminho do coração:
“Na verdade, muitos destes movimentos nasceram, não de uma revolução hermenêutica como foi a Reforma do século dezesseis, ou a mais recente Teologia da Libertação, mas de um desejo sincero e profundo de conhecer a Deus e obedecer seus mandamentos. Foram movimentos que nasceram da sede da alma por uma relação mais pessoal e íntima com Deus (BARBOSA, 2014, p. 96)”.
Fugir do barulho, estar em silêncio ou buscar na solitude refrigério e a vontade de Deus é uma ação que perdemos há décadas.
Nossa sociedade com sua tecnologia, suas informações e evoluções, há tempos nos tirou a capacidade de nos aquietar e refletir. A busca pelo ter, pelo ser, ou para provar nosso valor ante o mundo, tem tirado a nossa capacidade de observar o simples, buscar o sossego e a paz de espírito.
Quando falamos de solitude, não falamos de eremitas vivendo em cavernas. Quando falamos de espiritualidade no deserto, não falamos em viver distante do conforto e das facilidades que a tecnologia nos traz e sim, em aprender a buscar o silêncio e a contemplação como estes eremitas buscavam tempos atrás.
O deserto é um lugar importante para os monges, não era só um modo de se distanciar da bagunça da cidade, mas era um local onde não tinha nada, onde ninguém era nada, logo, a única coisa que era feita era buscar a Deus:
“A preocupação destes monges não era simplesmente fugir do mundo, mas imitar a Cristo em todos os sentidos. Da mesma forma como a experiência de Jesus no deserto da Judéia foi crucial na definição do seu ministério, os primeiros monges sentiram-se compelidos pela realidade do mundo e pelo poder da Palavra de Deus a deixar o mundo e iniciar uma busca por Deus nas regiões desérticas do Egito e da Palestina (BARBOSA, 2014, p. 98)”.
Em diversas partes a Bíblia mostra Cristo se retirando para lugares reservados afim de buscar a Deus e ficar em solitude. Era essencial para seu ministério estes momentos, tanto que muitas das vezes ele levava apenas três dos seus apóstolos, outras vezes ficava sozinho.
Confesso que tenho um sonho de passar um fim de semana em um mosteiro, apenas orando e lendo a Bíblia. Eu confesso também que passo muitas horas na solitude lendo, pensando e escrevendo quando estou em casa. E ter estes períodos desligado do caos da cidade é fundamental para a minha sanidade mental. A pergunta que eu quero deixar a você é: Você tem aprendido a ficar na solitude? Você tem passado um tempo a sós com seu criador? Ou você acha que não tem mais tempo para estas coisas.
Muitos destes monges viveram a vida para imitar a Cristo e você tem tentado viver esta vida? Não estou falando para você vender tudo e viver a vida na pobreza, nem acredito que você deva passar dias e horas em uma caverna em busca de Deus, a reflexão que eu quero deixar é se você tem separado um tempo para seu criador.
As vezes o caos, o deserto, o momento de vazio, é um período onde nos machuca e nos fere com dores sem tamanho. Mas as vezes também o deserto pode ser uma oportunidade de se ajoelhar e buscar a Deus.
Quando não temos nada, ou nos encontramos no nada, temos uma ótima oportunidade para nos dedicar ao Criador que é único. Quando estamos na solidão, perdidos com nossos pensamentos, nos vemos em uma ótima oportunidade para oferecer um pouco do nosso tempo para o grande Deus.
BIBLIOGRAFIA
BARBOSA, Ricardo. O Caminho do Coração: Ensaios Sobre a Trindade e a Espiritualidade Cristã. Curitiba: Editora Encontro, 2014.
