SILÊNCIO

Em um primeiro momento,

O silêncio é pura privação,

Carência, vazio enfadonho,

Um desapegar-se das pessoas,

Das coisas e das atividades atraentes.

O silêncio é percebido

Como inútil, aborrecido,

Perda de tempo.

 

Cheio de eco, confuso, desconexo,

Ansioso das coisas deixadas para trás,

Preocupado com o que vem pela frente,

Carente de companhia e ocupação,

Exigente de distrações.

 

Porém, quando se ultrapassa este momento,

O silencio se faz palavra.

Os fantasmas escondidos

Começam a sair a luz

E a gritar todas as exigências.

Antes trabalhavam na clandestinidade,

Mascarados e escondidos no ativismo,

Projetos e relacionamento,

E passavam quase despercebidos.

No entanto, também a vida encorajada

Começa a brotar mais firme e sólida,

E nos surpreende a profundidade ignorada

Que surge em nós mesmos,

A partir de nossa abertura

Para o infinito de Deus

O silêncio, então, se transforma em luta,

Corpo a corpo com os vícios da alma,

E com os fantasmas e seus exércitos de medos,

E as novas exigências

De uma autonomia inesgotável.

O silêncio é tenso,

Implacável decisivo.

 

Na luta, algo em mim morre,

Algo volta a ser clandestino,

Mas também algo novo se firma.

Saio, no entanto marcado

Pela agonia do arrependimento,

E transformado pelo espírito.

 

O silêncio se cristaliza

Diante desta acolhedora e santa presença.

Passa-se da loucura do “cronos”

Para o descanso do “sabat”

E para a plenitude de uma “kairos”

Fértil de convicções infinitas

E de vida recém-nascida.

Sereno estar em companhia

De quem me abra o espaço

De seu amor discreto e silencioso,

Onde se faz consistente minha harmonia

E minha paz de alma

 

O silencio se faz silêncio pleno,

Confiante, alegre, repousante, inovador.

O silêncio é palavra encarnada

É oração sem palavras.

 

Poema de autor desconhecido traduzido por Osmar Ludovico da Silva, tirado do livro: O caminho do coração do autor Ricardo Barbosa, lançado pela Editora Encontro, páginas 115, 116, 117.

 

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