HOMEM INVISÍVEL

Há alguns anos atrás, enquanto procurava uma nova oportunidade de trabalho, resolvi aceitar um serviço temporário de panfletista. Era um trabalho fácil que não pagava mal, onde eu acabava tendo um bom tempo livre para as entrevistas de emprego.

Certo dia, enquanto eu panfletava em um semáforo, avistei o carro de um dos meus professores da faculdade, feliz de encontrá-lo ali, me dirigi a ele para cumprimentá-lo, sendo que o mesmo, acabou fechando a janela sem olhar em meu rosto para conferir quem era o panfletista. Confesso que fiquei chateado, afinal, aquele professor era muito bom e muito atencioso (pelo menos parecia).

Porém, depois deste episódio, lembrei-me de uma aula de filosofia onde outro professor falava das profissões que tornavam as pessoas invisíveis, como o gari, coletor de lixo, ou aqueles funcionários que nos atendem em supermercados, entre outras profissões. E entendi, por experiência própria, o que é ser uma pessoa invisível, sem importância, que ninguém olha na cara.

Vivemos em uma sociedade apressada, que não tem tempo para observar o próximo ou a pessoa ao lado. A vida corre depressa, enquanto em nossa volta, algumas outras vidas coexistem invisíveis em uma barreira de pobreza, miséria e tentam todos os dias ultrapassá-la para nos pedir socorro.

O que mais me impressiona na história de Jesus (que é quem imitamos) é a sua profunda capacidade de olhar o próximo, entender seus problemas e estender a mão, seja ele pobre ou rico. Coisa que nós muitas vezes não fazemos. Afinal, muitos acreditam que alguns merecem estar com os seus problemas, ou estão colhendo frutos de suas decisões. O que pode ter uma pontinha de verdade, mas a pergunta que fica é: Ninguém nunca errou na vida? Todos nós erramos, não é?

Tive a oportunidade de trabalhar na rua com artesanato por dois anos. Neste meio tempo, conheci muitas pessoas e vivenciei muitas histórias.

Conversei com viciados que antes eram gerentes importantes, mas que por conta das drogas, tinham perdido tudo. Conheci artesãos, que com um pedaço de ferro montavam coisas impressionantes. Troquei ideia com músicos, escritores, poetas, pessoas das mais gabaritadas, mas que viviam a margem de tudo e muitas vezes, não eram reconhecidas com a devida justiça.

 Somos cercados por homens invisíveis, cada um com sua história, dificuldades e erros. E não seria justo julgá-los, já que todos nós erramos. Jesus não julgava, não é curioso isso?

João 4:7-42 narra à história de uma mulher samaritana, a Bíblia diz que Jesus pediu água a ela (v. 7). Veja bem, judeus não conversavam com samaritanos, eles os odiavam, mas é claro que Cristo conversou. O curioso é que era por volta de meio dia, uma hora que não se tirava água e não sabemos o porquê aquela mulher tirava água justamente naquela hora. Provavelmente porque temia ser vista, talvez por ser uma mulher de índole duvidosa, coisa que Cristo teve certeza mais adiante do texto (v. 18-19). E o que Cristo fez? Mandou-a embora? Julgou-a? Apontou o dedo? Não; simplesmente ofereceu uma água que sacia toda a sede. E lendo o texto todo você vai ver como aquela mulher mudou de vida, testemunhou e falou sobre aquele Cristo que conhecia a sua vida. Jesus quando entra em nossa vida, Ele muda por completo, assim como mudou a vida daquela samaritana, oferecendo saída para as suas mazelas.

Eu sei que não é fácil sairmos da zona de conforto, muitas vezes o melhor é passar de largo, sem olhar para quem precisa, mas temos que tentar. Nosso chamado é para fazer a diferença, nossa missão é pregar e ajudar, e não subestimar pessoas.

Somos todos iguais, porém alguns foram tocados pelo evangelho. Somos salvos pela graça, sem merecermos e é com este mesmo ponto de vista que temos que olhar o próximo e transmitir a palavra.

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