JUGO DESIGUAL

Cresci ouvindo que o cristão tem que tomar cuidado com o jugo desigual, namorar ou casar com alguém que não professa a mesma fé era um pecado. Diante disso, pastores davam inúmeros possíveis problemas que podiam acontecer com quem se casasse com um não cristão.

O engraçado era que cristãos continuavam a se separar e o mais engraçado ainda é que alguns casais que tinham um dos conjugues que não eram cristãos, continuavam firmes. Contudo, o que o texto Bíblico realmente fala? Este jugo desigual é um casamento entre pessoas que não professam a mesma fé ou não? E aí é ou não é pecado? É o que vamos ver neste texto. 

Vou primeiro analisar o assunto à luz da Bíblia, para depois dar a minha opinião sobre o assunto, mas já vou adiantando, entender de forma plena este versículo é muito complicado. 2 Coríntios 6:14 diz:

 “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis; porque, que sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas?” (ACF). 

Jugo é uma canga que era colocada em animais para atrelá-los a fim de que pudessem puxar algo. Imagine dois animais de tamanhos bem diferentes, atrelados um ao lado do outro, tentando puxar uma carroça ou arado, seria um caos. Diante disso, muitos interpretam como se este versículo estivesse falando de casamento.  Muitos comentários Bíblicos, pastores e teólogos tem a mesma conclusão, contudo, o termo jugo raramente é usado em assuntos sobre casamento:

“Tradicionalmente, esse texto tem sido interpretado como uma proibição do casamento entre um cristão e um não cristão. No entanto, a metáfora de um jugo é raramente empregada na antiguidade para referir-se ao casamento, e não há absolutamente nada no contexto que, da forma mais remota, indique que o casamento esteja em foco aqui” (FEE; STUART, 2016, p. 94).

Ao contrário, ao lermos com cuidado vemos que o contexto do texto fala sobre adoração pagã:

“Paulo faz uma digressão para exortar os seus leitores a que nada tenham que ver com a adoração pagã, mas a que levem uma vida santa de reverência a Deus. O apelo não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos significa aqui não participar na adoração pagã com os incrédulos” (CARSON; FRANCE; MOTYER; WENHAM, 2012, p. 1801).

E isso fica claro por conta de algumas perguntas retóricas que se seguem nos versículos 14 ao 16, vejamos: Que comunhão tem a justiça e a maldade?  luz com trevas? Que acordo existe entre Cristo e Belial? O fiel e o incrédulo? O templo de Deus e os ídolos? E a afirmação do versículo 17 também dá a entender que era um ambiente impuro, pagão. 

O contexto todo nos mostra que ele fala de adoração pagã, principalmente a parte de Cristo e belial, entre o templo de Deus e ídolos. Em uma cidade como Corinto, onde a adoração pagã era comum, o texto aconselha os cristãos a não se misturarem a estas práticas pagãs, ouvindo e dando oportunidade para estes falsos mestres falar. Mas como falei no começo do texto, esta passagem é de difícil interpretação, a opinião não é unânime entre teólogos e pastores, porém acho complicado aplicar isso no quesito casamento, pois o texto não menciona nada sobre casamentos.

Contudo, vamos ser sinceros, é possível fazer uma aplicação prática quanto ao casamento. Afinal, a pergunta principal é: Que comunhão, que em grego é koinónia (e significa comunhão, comunhão espiritual, partilha, comunhão no espírito), pode haver entre coisas tão apostas como Luz e trevas (V14). O que há em comum entre o crente e o descrente? E por aí vai. A convivência entre duas coisas tão apostas assim é impossível, diante disso, um casamento entre duas pessoas tão diferentes se torna complicado, talvez em alguns momentos impraticável. Afinal, mais dia ou menos dia você terá alguns sérios problemas como: Em que religião criar um filho? E muitos outros exemplos que surgem durante o tempo. Porém, eu nunca diria que o casamento com conjugues não convertidos seria um pecado, acho uma afirmação complicada.

Como eu disse no começo do texto, conheço inúmeros casais, tanto cristãos com não cristãos, que vivem bem, alguns deles por sinal, levam e buscam suas mulheres nas igrejas sem problemas. Em contra partida, conheço alguns casais cristãos que vivem um verdadeiro inferno.

Aos casados com conjugues nãos cristãos Paulo dá um conselho: não se separarem (1Coríntios 7:13). E ainda acrescenta que o marido descrente é santificado pela mulher (1Coríntios 7:14). E não significa que ele será salvo por osmose e sim, que aquele espaço será um local que pertence a Deus, um ambiente de santidade cercado das bênçãos de Deus. (BOOR, 2004, p. 124). Mas lembre-se, o conselho é aos casados, não a quem vai casar.

Contudo, expresso agora a minha opinião.

Não é o ser ou não ser cristão que determinará o sucesso do seu casamento. Afinal, conheço cristãos que batem em suas esposas, traem e vivem seu casamento de maneira autoritária e egoísta. E conheço não cristãos que vivem otimamente bem, com um relacionamento harmonioso e em parceria. O que vai definir é a forma com que você conduz o seu casamento e quem você coloca como centro do seu casamento, se é o seu ego ou Deus.

Porém, não esqueça amigo que viver com um não cristão tem os seus pontos complicados. Você pode se sentir solitário, por não ter quem te acompanhar na igreja e nos ministérios. Quem sabe também que com o tempo ele possa implicar com o fato de você ir muito à igreja e muitos outros problemas que poderíamos listar, ou quem sabe você não terá problema algum, é impossível saber, só o tempo de casado dirá.

É claro que casar com um cristão não é a certeza de viver uma vida de flores, mas pode ser a certeza de ter alguém que te entenda e que pode caminhar com você como um companheiro de caminhada e em oração.

Se eu pudesse te aconselhar eu diria: não case com um não cristão ou pense bem e tente colocar tudo na balança antes de qualquer decisão. Pense também se você não está sendo um pouco apressado, ou se lá no fundo, algo lhe diz que você não deveria nem casar ou nem namorar, quem sabe isso seja um sinal para não continuar. Porém, eu nunca diria que a sua decisão seria um pecado, talvez uma decisão complicada, mas não pecaminosa. No mais, que Deus ilumine a sua decisão.

BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada – Bíblia de Jerusalém; Paulus, São Paulo, 2013.

BOOR, Werner de. Carta aos Coríntios: Comentário Esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2004.

CARSON. DA.; FRANCE , RT.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012.

FEE, Gordon D.; STUART, Douglas. Entendes o que lês?. São Paulo: Editora Vida Nova, 2016.

http://biblehub.com/greek/2842.htm

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