DESCONTROLE

Creio que viver se assemelha muito com dirigir, se você acelera demais, corre o risco de perder a paisagem ou derrapar em alguma curva fechada. Se você anda muito devagar, corre o risco de ficar para trás. Viver é procurar sempre o meio termo, só que, meio termo é algo que nós muitas vezes não conseguimos ter. Sobre equilíbrio, Leandro Karnal em um de seus vídeos, dá um ótimo exemplo:

“Se você não trabalhar, perderá a família, se só trabalhar, também perderá a família”.

Mas este ainda não é o grande desafio desta brincadeira chamada vida. Talvez o maior deles seja lidar com os buracos que aparecem no caminho e que não estão em nosso controle. Aqueles problemas que nós nunca imaginaríamos ter, mas que de uma hora para outra aparecem.

Conheci uma pessoa que era um grande ciclista. Todos os dias ele se exercitava, cuidava de sua alimentação, não fumava e bebia, mas de uma hora para outra descobriu ter esclerose múltipla, e deste dia em diante, só definhou. Enquanto conheci pessoas que nunca se exercitaram, só comiam porcarias, mas viveram muito bem até a velhice. A vida é assim, imprevisível, muitas vezes sem lógica, louca. Mas como lidar com estes infortúnios? Como desviar destes buracos perigosos e profundos que aparecem na estrada? Como lidar com o que foge ao nosso controle?

Penso que a primeira coisa é deixar de se ver como vítima, como um coitadinho. O vitimismo faz-nos ficar inertes, nos faz ficar parados esperando quem nos console, enquanto o problema continua forte e tomando conta da nossa vida.

Lembre-se, todos nós sofremos, você não é o único a passar dificuldade e a pergunta que devemos fazer é: Como eu posso sair desta dificuldade? E Não ficar se autoflagelando.

Eu tenho uma amiga que sofre de câncer há uns 20 anos e a força de vontade que ela tem de superar o problema e seguir em frente é invejável, ela é um exemplo para mim. E é assim que temos que tentar se posicionar como pessoa.

A segunda coisa é parar de se comparar com o próximo. Deixar de se perguntar por que eu sofro e o meu amigo que nem cuida da saúde não sofre? Por que o ímpio prospera e eu não? Se comparar com o outro é uma besteira, e esta pergunta é a mesma do autor do Salmo 73, Asafe. Ele não demorava em ficar se comparando, ele não entendia o porquê o ímpio prosperava e o justo não, mas ele confessou um erro que também pode ser o de quem fica se comparando:

Pois tive inveja dos arrogantes quando vi a prosperidade desses ímpios” (v. 3).

O problema de Asafe não é muito diferente do nosso. Quantas vezes não nos sentimos com inveja? Quantas vezes não caminhamos nos comparando, tirando conclusões precipitadas do próximo, como se Cristo já não tivesse avisado que nós teríamos aflições? (João 16:33).

A vida cristã deve ser vivida com o olhar em Cristo, temos que entender que na vida cristã passaremos por problemas, mas com certeza, não estaremos sozinhos. Temos que parar de nos vermos como super homens, nos despir destas falsas armaduras, e confiar apenas em Deus, mesmo sem entender o porquê do caos:

“Para sermos completa e autenticamente humanos, temos que nos preparar para despir a armadura com que geralmente nos cobrimos para evitar que o mundo nos magoe. Temos que estar prontos para aceitar a dor, ou então nunca ousaremos sentir a esperança ou o amor. Se não estivermos prontos para sentir, inclusive a dor, nunca conheceremos a alegria que o Eclesiastes classifica como uma das recompensas maiores da vida. Temos que abrir espaço em nossa alma para as tragédias da vida. Enquanto insistirmos em finais felizes, seremos ainda crianças, descontentes e zangadas com Deus, porque Ele, não atende a nossos apelos e não faz com que tudo seja da maneira que queremos” (KUSHNER, 2004, p. 94).

Nem tudo é da nossa forma, a vida não gira em torno de nosso umbigo, ao contrário, ela é dinâmica e tem os seus revezes. Entenda de uma vez por todas que o justo sofre e que o sofrimento tem que nos fazer nos aproximar mais de Deus, e acima de tudo, o sofrimento deve nos fazer mais compreensivos e não mais ranzinzas.

Deixe de se comparar com o próximo, dispa-se da armadura e entenda que o sofrimento faz parte da vida. Olhe para frente, olhe para Deus, e saiba que por mais que fraquejemos, que passemos por perrengues, Ele está conosco.

E entenda também que só existe uma maneira de passar pelo caos e é de joelhos, crendo que Deus nunca nos abandonará!

 

BIBLIOGRAFIA

KUSHNER, Harold. Quando Tudo Não é o Bastante. São Paulo: Editora Nobel, 2004.

CONNELY, Douglas.; RICHARDS, Larry. Guia Fácil Para Entender Salmos: Tudo Sobre os Salmos, Reunido e Organizado de Maneira Completa e Acessível. Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson, 2017.

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