SOBERANIA DIVINA E DETERMINISMO

Deus é soberano e nisto eu acredito, o que eu não acredito é na visão que muitos têm de Deus, mais especificamente no determinismo que prega que Deus por ser soberano, determina tudo o que acontece em nossa vida. Jonathan Edwards afirmava:

“Tudo, sem exceção, é direta e imediatamente causado por Deus, incluindo o mal” (apud OLSON, 2013. P. 117).

Tudo, segundo Edwards, é uma determinação divina e apesar dele usar muito a palavra permissão divina, o contexto era de determinismo mesmo. Fazendo com que ele tivesse que fazer um malabarismo muito grande para explicar o problema do pecado, do mal e inclusive da queda de Adão e Eva. Mas no fim, seu conceito acaba dando a entender que a culpa é toda de Deus e seu propósito divino (apud OLSON, 2013. P. 117).

Sproul é outro pastor que afirma que Deus controla tudo e quem assim não acredita ele chama de ateu. Loraine Boettner, defensor desta visão falava:

“Deus muito obviamente predeterminou cada evento que aconteceria… Até mesmo atos pecaminosos de homens estão inclusos neste plano” (apud OLSON, 2013. P. 125-126).

E tanto Sproul quando Boettner e muitos outros, afirmam que apesar de Deus determinar, o homem age segundo a sua natureza, apesar de fazermos o que Deus quer que nós façamos, Deus não peca, mas faz com que outros pequem e mesmo assim, com estas afirmações estes dois não acreditam que nosso Pai tenha qualquer culpa ou responsabilidade quanto ao pecado. Estes mesmos calvinistas defendem este posicionamento por acharem necessário o pecado e o mal, para que a glória de Deus seja mais visível, coisa que eu não acredito. Por crer que Deus é Deus, completo e perfeito e assim sendo, Ele não precisa de nada, nem do pecado, para que assim mostre a sua obra redentora, pois Deus é Deus sem nós, Ele se basta, Jeremy Evans conclui:

“Se Deus precisa da criação para exemplificar estas propriedades (justiça, ira), então os humanos podem corretamente questionar se Deus estava livre em Seu ato de criação” (apud OLSON, 2013. P. 147).

Quem segue esta teologia tem um problema deveras grande para entender o amor e a moral de Deus, se soberania divina significa que nada o que acontece vem sem a sua determinação, sendo que, todo o mal e pecado tem um propósito, temos um problema muito grande para conceituar este Deus. Pois se toda a pobreza, toda a doença, pecado ou caos vem d’Ele, logo, Ele tem parte no pecado do homem e de alguma maneira, o diabo é o seu parceiro. Se o caos vem de Deus, Ele é moralmente responsável, diante disso, não sei o porquê nós seremos julgados. Habacuque 1:13 diz:

“Teus olhos são tão puros, que não suportam ver o mal; não podes tolerar a maldade”.

E Tiago 1:13 nos dá outro aviso importante:

“Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: “Estou sendo tentado por Deus”. Pois Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta”.

Deus a ninguém tenta e Ele não tem parte com o pecado, diante disso e de muitos outros versículos, temos que ter reservas com algumas interpretações calvinistas da soberania divina. Porém, temos uma explicação um pouco mais centrada para a afirmação: “Deus é soberano”. Uma explicação que nos poupa saliva, teorias mirabolantes, explicações confusas e que não vai de encontro com a santidade de Deus e nem do que a Bíblia fala que Ele é.  

A soberania Divina diz respeito ao fato que Deus faz o que quer e ninguém pode o impedir. Isaías 53:13 diz:

“Agindo eu quem impedira?”.

Deuteronômio 10:17 diz:

“Pois o Senhor, o seu Deus, é o Deus dos deuses e o Soberano dos soberanos, o grande Deus, poderoso e temível, que não age com parcialidade nem aceita suborno”.

Enfim, Ele é único, o Criador, o Rei dos Reis, porém nem tudo o que acontece foi determinado por Ele. Pode estar de baixo de sua permissão, Ele também tem controle sobre tudo, porém, nem tudo o que acontece transcorre por sua vontade, por conta de sua autolimitação e o livre-arbítrio dado ao homem. Vamos ver como alguns teólogos definem Deus e a sua soberania.

“O teólogo reformado do século XX, Karl Barth, definiu Deus como “aquele que ama em liberdade” […]. Para Barth, a magnitude de Deus é mais bem expressa como sua liberdade absoluta. Deus não está preso por nada exceto à própria palavra” (apud OLSON, 2003, p. 155).

Deus é soberano, nada o prende, nada impede que Ele cumpra a sua vontade. Alister E. Mcgrath diz:

“Mas a ideia da onipotência divina parece implicar no fato de que Deus deva ser capaz de fazer qualquer coisa que não envolva contradição evidente” (MCGRATH,2005, p. 332).

Deus pode fazer tudo o que não é absurdo, como um círculo quadrado ou uma pedra que ninguém, nem mesmo Ele, possa carregar. E nem ir contra as suas características divinas como amor e justiça. Porém é do calvinista Wayne Grudem a definição que eu acho mais centrada:

“A onipotência (poder, soberania) é o atributo de Deus que lhe permite fazer tudo o que for da sua santa vontade” (GRUDEM, 1999, p. 159).

Enfim, Deus é soberano, faz tudo o que lhe apraz (Salmos 135:6), porém nem tudo o que acontece é fruto de sua determinação apesar d’Ele permitir, permissão esta, fruto de nossa liberdade. É claro que Deus pode exercer um controle determinista, mas escolheu não fazer, assim como escolheu curar apenas com a presença da fé e por isso acabou não realizando alguns milagres (Marcos 6:5). Termino o texto com uma ótima síntese da soberania e do amor de nosso Pai:

“Quão radicalmente o evangelho está permeado por um sentido de que a falência do mundo caído é a obra do livre-arbítrio racional rebelde, que Deus permite reinar, e também por um sentido de que Cristo vem genuinamente para salvar a criação, conquistar, resgatar, derrotar o poder do mal em todas as coisas” (OLSON, 2003, p. 155).

O mal é fruto de nossa escolha livre, o caos e o pecado não vem de Deus. Deus é santo e puro e não compactua com o mal.

Deus é soberano, pode fazer o que quiser, mas escolheu nos amar e dar o seu Filho por nós, com isso, em meio ao caos e pecado, Ele faz brilhar o seu amor e sua redenção é visível, por causa de suas características divinas.

 BIBLIOGRAFIA

OLSON, Roger. História das Controvérsias da Teologia Cristã: 2000 Anos de Unidade e Diversidade. São Paulo: Editora Vida, 2003.

OLSON, Roger. Contra Calvinismo. São Paulo: Editora Reflexão, 2013.

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática:  Atual e Exaustiva. São Paulo:  Editora Vida Nova, 1999. 

MCGRATH, Alister. Teologia Sistemática, Histórica e Filosófica: Uma introdução a Teologia Cristã. São Paulo: Shedd Publicação, 2014.

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