LEMBRA-TE DE MIM

“E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lc 23:42).

 Considero esta passagem Bíblica um grande tapa na cara de quem não entende a graça. Porém muito maior que a sua mensagem é o cenário onde tudo acontece.

O texto diz que Cristo estava crucificado ao lado de dois malfeitores (Lc 23:33), quando um deles começou a zombar dele (Lc 23:39). Veja bem, Jesus já tinha sido açoitado (Jo 19:1) e para piorar, carregava uma cruz que o condenaria, para o local da crucificação (Jo 19:17). Estava sendo alvo de zombaria da plateia que o assistia e dos soldados (Lc 23:35-37), quando aquele ladrão, também crucificado, começou a zombar dele. Levando em conta que Cristo devia estar sangrando, sujo e sofrendo com o castigo, aquele ladrão poderia até ter alguma razão em seu escárnio. Afinal, Jesus poderia parecer com tudo, menos com um Deus. Porém, algo inusitado acontece, o outro ladrão defende Cristo e repreende aquele criminoso zombador, suplicando salvação a Cristo.

Aos olhos humanos um Deus verdadeiro não pode sofrer, afinal, ele é superior, poderoso e intocável. E se dependesse de nossa forma de fazer justiça a coisa pioraria ainda mais. Se tivéssemos o poder que Cristo tem, o episódio da cruz viraria um apocalipse e não um momento de salvação. Mas Jesus sofreu, sangrou, se doou calado e mesmo crucificado, arranjou tempo para cuidar de um homem moribundo, criminoso, a beira da morte (Lc 23:40-43).

Mas não é só isso que me impressiona neste episódio todo, aquele ladrão crucificado me instiga a algumas boas reflexões. A principal delas é: Como ele chegou à conclusão de que aquele homem crucificado era o Messias e não um farsante como todos achavam? De que forma aquele condenado notou que ao seu lado pendia um homem inocente?

 Será que ele conhecia a Bíblia e sabia as referências sobre o Messias? Será que ele teve uma revelação divina? Ou quem sabe uma mensagem misteriosa soprou em seus ouvidos revelando quem sofria ao seu lado? Talvez ele tenha lido o jornal descobrindo que um Deus morreria naquele dia. Pode ser que ao olhar aquele sangue inocente ele tivesse lembrado de seus crimes e do quanto era pecador. Quem sabe aquele sangue tivesse gritando e a mensagem que esbravejava era a de redenção. Não sei quem ou o que aquele homem viu, nem como ele sabia de Cristo e muito menos quem aquele homem era, mas sei que a inocência devia ser gritante e aquela morte visivelmente injusta. Sei também que um Deus morre, mas também ressuscita. E que a morte não o segura e sei que Ele também morreu por você quando naquela cruz pendia em brutal sofrimento.

Muitas vezes tento entender porque muitos ouvem a mensagem e não entendem, não sei porque muitos não o seguem e nem acreditam no seu sacrifício. Calvino afirmaria que estes não eram predestinados, o problema é como sabermos se somos predestinados já que o coração do homem é enganoso? Outros afirmarão que quem não crê é porque está cheio de conceitos do mundo, ou até, que estão possuídos pelo maligno enfim, elucubrações são muitas, mas nenhuma certeza, entretanto, eu imagino que o que aquele ladrão tinha como única certeza era a sua culpa.

A principal pregação de Cristo sempre foi: “Arrependa-se” e não tem como nos arrependermos sem termos a consciência de que somos culpados.

Eu não sei como aquele ladrão sabia que aquele Deus pendurado ao seu lado era inocente, mas ele sabia que era culpado e que precisava do perdão de Deus. Porém, assim como aquele malfeitor tinha consciência de quem era, pediu perdão a Cristo e ganhou a salvação. Nós também podemos ser alcançados por esta graça. Afinal, somos um pouquinho deles, temos uma grande culpa e mereceríamos estar crucificados no lugar de Jesus, que era puro e sem pecado. Porém, assim como um deles, temos que reconhecer quem somos e clamar a Cristo por ajuda, ou zombarmos d’Ele e viramos as costas.

Você escolhe, mas também arca com as consequências!

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