ENTRE LEGALISMOS

Eu tenho um pé atrás com cristãos legalistas, com gente que não demora a acusar e se sentir o mais santo da terra. Acredito que uma boa parte destes, no fundo, estão querendo esconder algum problema pessoal. Brennan Manning tem uma teoria parecida com a minha, sobre estes:

“A violência com a qual alguns cristãos expõem suas convicções me faz pensar que eles estão tentando convencer a si mesmos. O espectro de sua incredulidade oculta com habilidade me assusta à medida que eles se tornam mais militantes e barulhentos. Quando esse mesmo medo passa a controlar as igrejas, elas se desintegram, tornando-se propagadoras de rituais formais ou agentes intolerantes de repressão. Sem um conhecimento íntimo e sincero de Jesus, os pregadores que lideram essas igrejas se assemelham a agentes de viagem distribuindo panfletos de lugares que nunca visitaram” (MANNING, 2007, p. 180).

Há muitos anos, um pai de um amigo não cansava de apontar meus erros, julgar minhas tatuagens e cabelos compridos. Este mesmo fugiu com a mulher de um irmão da igreja um tempo depois. Conheci uma pessoa que vivia apontando o erro do próximo, mas que vivia uma vida ainda mais errada. É por estas e outras experiências que concluo que uma boa parte dos que acusam, ou queriam estar lá, ou tem problemas com aquele pecado no qual condenam ou talvez quem sabe não percebam suas próprias atitudes erradas. Porém eu não posso esquecer algo que li em um livro de Philip Yancey:

“O legalismo é um perigo sutil porque ninguém se considera legalista. Minhas próprias regras parecem necessárias; as regras de outras pessoas parecem excessivamente severas” (YANCEY, 2012, p. 189).

Muitas vezes, devido a nossa posição de liderança, acabamos nos tornando legalistas. Sabe aquela coisa de se achar melhor do que o outro? Então, isso é muito mais comum do que imaginamos e é o começo de tudo.

Eu quando novo fui legalista, me achava o santarrão, quando no fundo o que eu sentia era inveja, queria estar no lugar das pessoas que eu acusava. Quando conheci a graça, descobri o quão podre era e o quanto precisava de Cristo.

Não quero com este texto compactuar com o pecado, muito menos vou listar o que é ou não pecado. E sim enfatizar o quão complicado é a liberdade cristã:

“À primeira vista, o legalismo parece duro, mas na realidade a liberdade em Cristo é o caminho mais difícil. É relativamente fácil deixar de matar, mais é difícil amar; é relativamente fácil evitar a cama do vizinho, mas é difícil manter um casamento vivo; é fácil pagar impostos, mas é difícil servir pobres” (YANCEY, 2012, p. 199).

As vezes olhamos para a Bíblia e ficamos felizes quando vemos Cristo repreendendo os fariseus, nos escandalizamos com as suas friezas e falta de amor, porém não vemos quando fazemos o mesmo.

Nem sempre é legal ajudar o outro, sair de nossa zona de conforto é um desafio, mas é preciso. O mundo precisa que preguemos a palavra, só não podemos esquecer que pregar não é só falar, é também demonstrar, fazer e estender a mão.

O cristão declara guerra a tantos pecados e heresias hoje em dia, que não vê o quanto tem errado. O mesmo erro dos fariseus, que se fechavam em seus legalismos, sua falta de amor, sua “religião”

Nietzsche tem uma frase que é genial, perfeita para terminar este texto :

“Tenha cuidado para que ao lutar contra o dragão, você não se transforme em um” (YANCEY, 2012, p. 199).

Cuidado com o legalismo, ele é sutil e muitas vezes entra sem percebermos. Contudo, no afã de combatê-lo, podemos sem querer nos tornarmos iguais.

Não podemos esquecer quem somos, da graça que nos alcançou mesmo sem merecermos e do quando temos que replicar estas atitudes.

Não se trata de compactuar com o pecado e sim de ser compreensivo, entender que todos falham e que todos tem seus defeitos.

Fomos alcançados pela graça, é por isso, por Deus ter sido gracioso conosco, que temos que reproduzir a sua atitude para com o nosso irmão. Oferecendo sempre a mão e não um soco na cara.

 BIBLIOGRAFIA

YANCEY, Philip, Maravilhosa Graça, Editora Vida, São Paulo, 2012.

MANNING, Brennan, A Sabedoria Da Ternura, O Que Acontece Quando Compreendemos E Aceitamos O Amor Poderoso De Deus Que Transforma Nossas Vidas, Editora Palavra, Brasília, 2007.

 

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