APRENDENDO A PENSAR

Engana-se quem acha que o estudo e o conhecimento muda o mundo. Penso ser um erro tremendo achar que um diploma produz seres pensantes, que raciocinam e têm uma vida relevante. É claro que fazer uma faculdade ajuda, abre a nossa cabeça, é evidente que uma pessoa com um diploma tem muitas portas abertas, mais do que quem não tem. Mas isso não quer dizer que quem tem um canudo sabe pensar, sabe sair do comum e enxergar as contradições da vida.

Tenho conhecido muita gente doutrinada nesta minha caminhada acadêmica, pessoas que não raciocinam, não enxergam o contraditório, que aceitam qualquer coisa sem questionar quando preciso, e o pior, tenho conhecido muitos professores que o seu intuito é doutrinar, e não ensinar pessoas a pensar. Bertrand Russell resume bem qual é o verdadeiro papel do professor:

“O papel do professor é de orientador, de levar o aluno a ver por si mesmo” (RUSSELL, 2017,p. 84).

O professor não é aquele que empurra ideias, que ensina conceitos apenas, mas que ensina a pensar.

Eu tive um professor de filosofia que sempre que nos perguntava o porquê acreditamos na coisa que acreditamos quando esboçávamos nossa opinião, fazia com que resumíssemos de onde tínhamos tirado tal conceito e o porquê. Tal atitude tinha o propósito de nos mostrar como muitas coisas no qual acreditávamos vinha de teorias furadas, de ideias sem conceito e coesão. Duvidar, rever nossas crenças, ter fundamento no que acreditamos é o caminho para ser um pensador. Em contrapartida, o doutrinado não questiona, não vê os erros e incoerências nas crenças e ideias no qual ele acredita. Bertrand Russell acrescenta de forma perfeita quem sabe pensar independentemente:

“Mas aprender a pensar independentemente não é habilidade que venha de uma só vez. Precisa ser adquirida à custa de esforço pessoal e com a ajuda de um mentor que possa dirigir esses esforços. Esse é o método de pesquisa sob supervisão, tal como o conhecemos hoje nas nossas universidades. Pode-se afirmar que uma instituição acadêmica cumpre a sua função própria à medida que inculca hábitos mentais independentes e um espírito de investigação isento das tendências e dos preconceitos do momento. Quando a universidade falha nessa tarefa, desce para o nível da doutrinação” (RUSSELL, 2017,p. 84).

Eu tenho conversado com muitos doutrinados, tenho vistos muitos com a mente calcificada que não conseguem ouvir, nem pensar fora da caixinha no qual ele foi condicionado.

Sou muito grato por ter conhecido em minha jornada acadêmica inúmeros professores que me ensinaram a pensar. Sou grato por todos os que me questionaram e me ensinaram a ver minhas inconsistências. Se sou o que sou é por conta deles e do extremo zelo pelo ensino e pelo pensar.

Penso que tudo começa na humildade, entender que não sabemos de tudo é um dos segredos da caminhada para a relevância. A humildade também nos faz aprender em qualquer situação, nos ensina que todos têm um pouco para nos ensinar, aprende quem está aberto para o conhecimento. Mas não é só isso, para que consigamos aprender a pensar temos que ter conteúdo, buscar informação e leitura. Enxerga pouco quem pouco lê, opina de modo simplista quem não tem conhecimento e repertório. Conhecer bons autores ou ter lido alguns dos principais livros é o caminho básico para aprendermos a pensar.

A terceira coisa que um pensador tem é a dúvida, é importante duvidarmos de tudo e tentar enxergar as questões por todos os ângulos. Existe sempre o outro lado, a opinião oposta, a tese e a antítese, opina melhor quem conhece os dois lados.

A última coisa é a dedicação, afinal, conhecimento não surge do nada, um pensador não é forjado com preguiça e desleixo. É importante estudar, separar tempo e arregaçaras mangas para que consigamos crescer como pessoa. Aprender a pensar é tarefa árdua, ter uma vida relevante vem apenas com muito esforço e tempo gasto com livros e estudos.

 

 

BIBLIOGRAFIA

RUSSEL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2017.

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