DEBATE E DISCUSSÃO

Eu gosto muito de um bom debate, a troca de ideias e de pontos de vista é fundamental para o nosso desenvolvimento. Crescemos muito defendendo o nosso ponto de vista, afinal, o debate faz com que possamos expor nossos argumentos e verificarmos se eles realmente são concisos. É em um debate que você vai perceber se está certo, ou se o seu argumento é incoerente, é defendendo o seu ponto de vista de forma honesta que você reafirmará sua crença, ou abandonará por perceber que seus argumentos são fracos. Porém, apesar de eu gostar de debates, eu raramente o faço, por perceber que a motivação da maioria dos debates não é a verdade e sim, defender um ponto de vista a qualquer custo. Na filosofia existem dois termos que nomeia quem quer fazer um debate em nome de se chegar à verdade, e quem quer apenas vencer uma discussão, os termos são erística e dialética:

“É importante distinguir a erística da dialética. Os que praticam a primeira só querem vencer, enquanto aos dialéticos tentam descobrir a verdade. Na realidade, trata-se da distinção entre debate e discussão” (RUSSEL, 2017, p.61).

Conheci muitos que sabiam ganhar uma discussão, eu mesmo já perdi alguns debates para quem dominava tal arte, mesmo eu tendo bons argumentos. Nem sempre quem ganha a discussão é alguém que tem razão, às vezes o indivíduo sabe apenas falar. Os sofistas eram os indivíduos que dominavam esta prática, eles acreditavam que a verdade era relativa e não eram amantes da investigação, enquanto os filósofos eram quem seguiam em busca da verdade:

“Embora os sofistas tenham desempenhado valioso papel no campo da educação, a sua visão filosófica foi hostil à investigação. Pois o seu ceticismo foi de desesperanças, uma atitude negativa frente ao problema do conhecimento. O resumo dessa posição é a famosa frase de Protágoras: ”O homem é a medida de todas as coisas, do ser daquilo que é, do não ser daquilo que não é”. Assim, a opinião de cada homem é verdadeira para ele, e as desavenças entre os homens não podem ser resolvidas com base na verdade. Portanto, não admira que o sofista Trasímaco defina a justiça como a vantagem do mais forte” (RUSSEL, 2017, p.61).

Concordo que a pesquisa e a investigação dá trabalho, não é fácil estudar, é mais fácil ficar vendo filmes o dia inteiro. Concordo também que algumas desavenças são difíceis e até impossíveis de se resolver. Somando isso ao fato que queremos sempre ter razão, a missão se torna quase impossível, contudo, o debate é importante, a busca por diálogo é fundamental para chegarmos à verdade, a leitura e o estudo é crucial para uma vida centrada.

São muitos erros por conta da falta de conhecimento, a ignorância e o orgulho têm fabricado discursos de ódio, segregação e exageros dos mais diversos, por isso, temos que reaprender a dialogar. Gosto de uma citação de Hesíodo que resume bem a importância de estar aberto a aprender, tirado do livro de Aristóteles: Ética a Nicômaco:

“Ótimo é aquele que de si mesmo conhece todas as coisas; Bom, o que escuta os conselhos dos homens judiciosos. Mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, esse é em verdade, um homem inteiramente inútil” (2013, p. 12).

Se conhecer, saber quem somos de verdade, escutar o sensato, o justo em seus julgamentos e saber colher a sabedoria alheia, saber aprender, é o caminho para não sermos inúteis.  Eu gosto da definição que o dicionário dá para inútil:

Desnecessário; sem utilidade; desprovido de serventia; que não serve para nada (Dicio)

E isso ninguém quer ser, apesar da preguiça que muitos têm de estudar. Por isso não seja como os sofistas, aprenda a ser humilde e reconhecer os pontos falhos em seus argumentos. O conhecimento vem de busca, a relevância vem quando encontramos nossas incoerências e nos dirigimos em busca da verdade, seja ela qual for.

Não tenha como prioridade ganhar uma discussão e sim, a de chegar à verdade. Ouça, preste atenção e pesquise. Esteja sempre aberto a duvidar e reavaliar seus pontos de vista. Nem sempre estaremos certos, ganha mais quem está aberto para o conhecimento.

 

 

BIBLIOGRAFIA

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Editora Martin Claret, 2013.

INÚTIL. In: DICIO, Dicionário online de português. Porto: 7 Graus, 2024. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/inutil&gt;. Acesso em: 20/06/2018.

RUSSEL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2017.

 

 

 

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