OS DEZ LEPROSOS

Um deles, quando viu que estava curado, voltou, louvando a Deus em alta voz… (Referência: Lucas 17:11-19).

Fui criado em um contexto religioso onde buscar por milagres era um dos propósitos de ser cristão. Eu tinha um parente que dividia as igrejas em frias e quentes, ou seja, igrejas que tinha milagres e outras que não tinham. Hoje, já adulto, eu questiono muitos dos “milagres” que eu vi, pois eu nunca enxerguei algo realmente milagroso. Veja bem, não estou afirmando que Deus não tem o poder de fazer milagres, como por exemplo: ressuscitar mortos ou curar pessoas. Eu só estou afirmando que nunca evidenciei isso, ao contrário, o que vi foram curas totalmente subjetivas e questionáveis. E é bom deixar claro que eu não preciso de um milagre para crer em Deus, não vivo com este propósito.

Em toda a Bíblia vemos Cristo fazendo milagres, um dos motivos é que os milagres autenticam que Jesus é o Messias prometido. Champlin explica que: 

“Os milagres podem autenticar uma reivindicação, como se deu no caso de Jesus. Suas obras poderosas são postas em realce principalmente por autenticarem sua missão messiânica” (CHAMPLIN, 2013, p. 274).

Este é um dos motivos que Jesus fazia milagres e a Bíblia também enfatiza como os apóstolos também faziam milagres (Atos 5:12, 5:15), autenticado a mensagem profética,  dando continuidade a missão de Cristo. Mas não é sobre milagres o tema deste texto e sim, uma questão um pouco mais profunda, o fato de que nem todos os que Cristo curou foram salvos.

A Bíblia diz que dez leprosos foram ao encontro de Jesus e pediram sua ajuda (v. 13).  E não é por menos, os leprosos eram vistos como escória naquela época. Um leproso vivia separado do convívio dos familiares e era considerado impuro conforme a regra descrita em Levítico 13 e 14. O grande problema era que provavelmente algumas outras doenças de pele eram também consideradas lepra e com isso, estas pessoas também acabavam sendo excluídas. Estes homens deviam viver longe da sociedade e se reuniam em bandos, a fim de se protegerem e quando se aproximavam de alguém, deviam manter a distância de cem passos (CHAMPLIN, 2014, p. 215-216).

Estes homens sofriam muito, imagine você ter que viver longe do convívio dos seus familiares, amigos e de sua igreja. Ter que manter distância das pessoas e ser considerado impuro. A cura proporcionada por Cristo não só trazia uma bênção física, mas também a inserção destes na sociedade. É por isso que Jesus ordenou que aqueles leprosos fossem ver os sacerdotes (V14). Pois eram eles que verificariam se eles estavam ou não curados e os considerariam novamente aptos para viverem em sociedade ou não. O curioso é que o texto nos mostra que todos foram curados, mas só um voltou para agradecer, só este que era samaritano (v. 19). 

O milagre não nos traz conversão, Deus cura, por conta de sua misericordiosa graça, mas isso não significa que o curado é salvo. Fritz explica esta passagem: 

“Os nove judeus que consideraram sua cura como algo natural prosseguiram a caminhada até o sacerdote. O décimo, um samaritano, profundamente tomado pelo sentimento de ser indigno, entendeu sua cura como dádiva, por causa da qual se sentiu impelido a agradecer de coração” (FRITZ, 2005, p. 356).

Milagres não nos trazem salvação, a salvação só vem quando entregamos a nossa vida a Deus. A busca por milagres e moveres não muda nosso caráter, não nos faz sedentos por Deus, ao contrário, pode ser, tal quais os nove leprosos, que no fim você nem veja a bênção como uma dádiva, mas como uma obrigação de Deus.

O milagre maior que podemos celebrar aconteceu em uma cruz, quando um Deus se doou por nós, o resto é consequência. Se não somos gratos a Cristo por tudo o que Ele nos fez na cruz, porque você acha que seremos gratos só porque recebemos algo d’Ele? Nove leprosos não foram, ao contrário, foram curados, mas apenas um agradeceu, apenas ele se entregou e glorificou ao Pai pela cura, apenas um homem consciente de sua condição e grato a Deus recebe a salvação por completo.

O milagre não nos aproxima mais de Deus, um coração grato, consciente de quem realmente é, sim, este com certeza é quem vai ser salvo. O resto continuará com o corpo curado e a alma doente.

BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada – Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2013.

RIENACKER, Fritz.  Comentário Esperança: Evangelho de Lucas. Curitiba: Editora Esperança, 2005.

CHAMPLIM, RN. Enciclopédia bíblica de teologia e filosofia. 10° ED. São Paulo: Hagnos, 2011.

Deixe um comentário