A IMPORTÂNCIA DA REFLEXÃO

Quando eu era muito novo eu trabalhei em um frigorífico, neste local, conheci um funcionário, um dos melhores por sinal, que só tinha dois dedos na mão direita. Por tempos eu fiquei curioso para saber o motivo daquele homem ter somente dois dedos na mão e um dia, ele me falou que perdeu os dedos por saber operar muito bem uma máquina. É claro que fiquei com cara de dúvida diante daquelas palavras. Como é possível alguém bom em algo, se acidentar? A resposta é simples. 

É comum com o tempo pegarmos prática em determinadas áreas, é totalmente normal executarmos certas tarefas tão no automático que com o tempo perdemos a cautela. Segundo o dicionário cautela significa:

“Precaução; excesso de cuidado que se toma com o objetivo de prever um mal, um dano, um perigo” (Dicio).

Quando estamos no automático não raciocinamos, ao perdermos o medo deixamos de lado as precauções e sem querer não nos protegemos. O medo é um ótimo companheiro, em doses pequenas ele nos ajuda a tomarmos cuidado, a ter atitudes seguras. Provérbios 14:16 diz:

“O sábio é cauteloso e evita o mal, mas o tolo é impetuoso e irresponsável”.

Impetuoso é aquele indivíduo que age sem pensar, que não faz uma reflexão, que é movido pela emoção. Este não têm o mínimo de responsabilidade e age movido por seus impulsos. O cauteloso já pensa antes de falar e tenta controlar a emoção antes de dar uma resposta.

Não viva a vida como se estivesse no automático, como o impetuoso vive, aprenda a olhar em volta, aprenda a analisar a sua vida e descubra o que você tem feito dela. A reflexão faz parte de uma vida relevante, pense, reflita e busque conhecer antes de tomar alguma atitude. Sócrates já nos avisou que:

“Uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida” (apud KLEINNMAN, 2014, 12).

Sendo que viver no automático é viver sem reflexão, é compartilhar notícias sem verificar os fatos, é usar argumentos sem o mínimo de lógica, verdade e bibliografia, como temos visto neste nosso infeliz cenário político polarizado. Gosto de uma citação de Heráclito que resume bem o que temos visto por aí:

“Os tolos, quando de fato ouvem, são como os surdos; a eles se aplica o ditado de que estão ausentes quando presentes” (RUSSEL, 2017, p. 29).

O tolo é aquele que ouve e não faz uma reflexão, nem pensa no que está sendo falando, ou deixa de ouvir uma boa argumentação. Um indivíduo assim é orgulhoso, se considera suficientemente sábio demais para ouvir alguém, o problema é que normalmente um indivíduo assim não é sábio.

Eu falei no começo do texto sobre o medo e como em pequenas doses ele nos traz cautela. Eu não dei o exemplo à toa, só por ser uma boa história, eu falei do medo por justamente estar em falta em nossa sociedade ultimamente.

Tenha medo de falar opiniões sem o mínimo de reflexão, busque a relevância, cultive o hábito de ler e estudar. Tenha medo de ser uma pessoa vazia, que segue a opinião da maioria, que não reflete e nem enxerga as contradições. Tenha medo de ser o dono da verdade, mas, quando achar a verdade e tiver uma opinião embasada, aprenda a argumentar de forma construtiva. Tenha medo de falar muito, só por falar, pois o ouvir é igualmente importante. Tenha medo também de querer estar sempre certo, pois nem sempre estamos, às vezes achamos que estamos vendo a verdade, mas no fim pode ser apenas um ponto de vista simplista e egoísta. Não sabemos de tudo, entenda isso, e tenha a humildade de pontuar bem suas limitações, só cresce e se desenvolve quem cultiva tais práticas.

Boas opiniões vêm de boas reflexões, mas para termos boas reflexões precisamos de boas bases, boas informações, leituras e estudos. Práticas difíceis, ainda mais em nossos corridos dias, mas não impossíveis, basta cultivarmos.

 

BIBLIOGRAFIA

CAUTELA. In: DICIO, Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2024. Disponível em: https://www.dicio.com.br/cautela. Acesso em: 25/08/2018.

KLEINMAN, Paul. Tudo o que você precisa saber sobre filosofia. São Paulo: Gente Editora, 2014.

RUSSEL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2017.

BONDER, Nilton. A Cabala da Inveja. Rio de janeiro, Editora Rocco, 2010.

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