INTRODUÇÃO A MISSIOLOGIA: DICAS PARA UMA MISSÃO EFICAZ II

Em um texto passado eu comecei dando algumas dicas para que a missão seja realmente eficaz, o texto que segue é a continuação destas dicas. Porém se você não leu o texto passado, segue o link para a leitura: INTRODUÇÃO A MISSIOLOGIA: DICAS PARA UMA MISSÃO EFICAZ

  1. Para que a missão seja eficaz devemos entender o contexto do lugar ou da pessoa.

A fim de que a missão seja efetiva, é fundamental juntamente com os dois outros pontos, entendermos o contexto em que vivemos ou onde vamos evangelizar antes de nos empenharmos na tarefa. Entender o contexto é a diferença de um trabalho que vai dar ou não resultado. Acyr de Gerone Junior no livro Missão que Transforma, divide os problemas humanos em quatro principais pontos:

Miséria moral (discriminação por etnia, raça ou religião).

O racismo em pleno século XXI ainda é enorme, muitos ainda sofrem com isso e alguns ainda sofrem preconceito por terem determinada religião, por serem pobres e os mais diversos motivos. A nossa missão é sermos diferença e o desafio é dialogar com as diversas culturas e costumes sem impor e sem sermos intolerantes ou pedantes.

Miséria social (violência, desemprego, menores nas ruas, mendigos).

É visível os problemas sociais, a falta de oportunidade, a miséria. Não que eu compactue com o comunismo e ache que o mundo deva ter uma sociedade linear, sem ricos e pobres, contudo eu também não quero uma sociedade miserável. O nosso desafio é justamente buscar o equilíbrio e ajudar a quem não tem ter muito.

Miséria emocional/intelectual (pessoas desiludidas, doenças psicológicas, depressão, suicídio).

Segundo o ministério da saúde, estima-se que anualmente 800 mil pessoas morrem por suicídio no mundo, sendo que para cada suicida outros 20 já tentaram. Isso que não falamos ainda sobre a ansiedade, o medo que algumas religiões incutem nas pessoas, doenças psicológicas e por aí vai.

A cada avanço científico parece-me que muito mais problemas vêm na bagagem. E o evangelho está aí para fazer diferença, por isso que precisamos da informação e do preparo.

Miséria religiosa (cristãos decepcionados com a religião) (GERONE, 2014, 14).

Nós estamos em um período onde temos que evangelizar os próprios cristãos, pois são tantas mensagens deturpadas que estamos ouvindo por aí. São tantos falsos evangelhos, tantos pastores despreparados que seguem machucando pessoas, plantando mágoas ao invés de vida, que não tem como olhar para a igreja sem ficar preocupado.

Estes são alguns desafios de uma sociedade que precisa de Deus e de restauração espiritual e física. Contudo, não podemos esquecer os povos que vivem em tribos, com pouco ou nenhum contato com a sociedade como a conhecemos ou as chamadas tribos urbanas, que têm os seus costumes, ritos e maneiras de se comportar e de se vestir. É de igual importância entender estes, para que a aproximação seja certeira e a mensagem efetiva, sem esquecer que não existe uma cultura melhor que a outra, existem culturas sendo que nem tudo que é diferente é errado.

Precisamos antes conhecer, entender a cultura ou os costumes antes de fazer alguma coisa. Pois no afã de querer fazer a vontade de Deus podemos sem querer destruir pontes onde o evangelho poderia passar. E isso não acontece só em tribos indígenas é em tudo, conhecer é essencial para saber onde se pisa e como se fala.

  1. Para que a missão seja eficaz precisamos oferecer a melhor tradução Bíblica.

A fim de que a missão possa acontecer, temos que proporcionar a quem ouve a melhor tradução da mensagem. Com isso, entender o contexto de onde você está, como otimamente falamos no ponto três, é fundamental, aliás note como todos os pontos são interligados.

É realmente importante conhecermos as diversas traduções bíblicas, a fim de que possamos orientar a quem pregamos a palavra, para que a linguagem seja mais acessível a esta pessoa.

Conheci muitos que não liam a Bíblia por não entenderem o texto, diante desta realidade, incentivei eles a comprarem traduções Bíblicas com uma linguagem mais atual. Todos estes meus amigos que compraram uma Bíblia nova passaram a ler a Bíblia diariamente.

Eu sempre falo da Bíblia NTLH, que é uma Bíblia com uma tradução dinâmica e linguagem acessível e clara, gosto desta tradução, pois qualquer um conseguirá ler e compreender. Cuidado com o costume de defender uma tradução bíblica, pois na hora de indicar uma Bíblia a um novo convertido, você tem que priorizar em um primeiro momento indicar a Bíblia que mais se encaixa em sua compreensão e em seu contexto. É claro que existem inúmeras outras, mas preze sempre em conhecer todas, para que na hora de indicar uma Bíblia você saiba qual indicar, aliás, tenha sempre mais de uma tradução bíblica, para quando você tiver dúvidas, possa ter outros textos para consultar. Lutero tem uma citação que resume bem isso:

“É preciso perguntar a mãe em casa, às crianças na rua, ao popular na feira, ouvindo como falam, e traduzir do mesmo jeito, então vão entender e notarão que se está falando alemão com eles” (GERONE, 2014, 19).

Pois o foco nunca é defender uma tradução, e sim proporcionar a tradução mais coesa, no qual o leitor entenderá de forma clara e plena a mensagem do evangelho. O mesmo é feito quando vão traduzir a Bíblia para uma tribo indígena, o tradutor, sempre que vai fazer este serviço, procura usar coisas conhecidas a fim de contextualizar a mensagem e fazer com que a mesma seja conhecida.

Não podemos esquecer que até Lutero e a reforma, que combateu vários pontos negativos da igreja Católica, a missa era realizada em latim e de costas para a igreja.  A reforma veio para mudar isso, pois proporcionou aos cristãos uma oportunidade de leitura e entendimento da palavra, já que a Bíblia foi traduzida nas diversas línguas na época, além de trazer  a mudança na forma de pregar a palavra, que proporcionou a todos o entendimento da mensagem que estava sendo pregada. Acyr de Gerone Junior complementa:

“A tradução bíblica, certamente, é fundamental para a missão da igreja. Se quisermos que a palavra de Deus se torne acessível a todas as pessoas, devemos entender que Deus precisa falar à linguagem que essas pessoas falam e entendem” (GERONE, 2014, 20).

Eu curso uma segunda graduação em pedagogia, e é comum falarmos muito de Paulo Freire quando falamos em pedagogia. Pois ele criticou bastante as cartilhas de alfabetização que usavam palavras e imagens que a criança não conhecia, como camelo, uva (dependendo da região do país) e por aí vai.

Meu professor de missão nos contou de um exemplo usado há muito tempo atrás que fala justamente deste conceito, na hora traduzir para uma tribo indígena a passagem de João 6:35: onde Jesus diz que é o pão da vida. Os tradutores optaram por mudar a palavra, pois os índios não sabiam o que era pão, mas sabiam o que era mandioca, pois era o seu alimento principal, tal qual o nosso pão. Com isso eles optaram por traduzir que Jesus era a mandioca da vida, o que não mudou a essência da mensagem e fez com que os índios entendessem melhor a palavra.

 São apenas quatros dicas, contudo são pontos fundamentais para fazer com que a missão seja realmente efetiva e eficaz. Entender que não é só pregar, mas também cuidar do ser humano como um todo ou que a missão é de Deus e não nossa. Aprender a entender o contexto do lugar no qual vamos fazer missão e procurar dar a tradução Bíblica que mais se encaixa na compreensão de quem está ouvindo a palavra é básico para que a missão frutifique.

Não se esqueça de que não estamos lidando com máquinas, quando falamos do ser humano, falamos de um ser complexo, com sua identidade, dificuldades e mazelas. Estar aberto para está realidade já é um passo dado para um trabalho que constrói pontes e não muros, por isso entenda bem estes pontos antes de se prontificar a fazer a missão, seja onde for.

Se não nos prepararmos, além de não sermos ouvidos não teremos o que oferecer a quem queremos alcançar, por não conhecermos quem está do outro lado e por não sabermos falar a sua língua.  

 

BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada – Bíblia de Jerusalém; Paulus, São Paulo, 2013.

Bíblia Sagrada – Nova Tradução na Linguagem de Hoje; Ed. Soc. Bíblica do Brasil, São Paulo, 2005.

Shedd, Russell, Missões Vale a Pena Investir, Shedd Publicações, São Paulo, 2001.

GERONE, Acyr de, Missão que transforma, A evangelização integral da Bíblia, Publicações ICD, 2014.

https://www.dicio.com.br/missionario/

http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/21/2017-025-Perfil-epidemiologico-das-tentativas-e-obitos-por-suicidio-no-Brasil-e-a-rede-de-aten–ao-a-sa–de.pdf

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