O BOM SAMARITANO

Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão… (Referência Lucas 10:25 a 37).

 

Cristo contava muitas parábolas quando queria ensinar, tal recurso é didático e uma ótima ferramenta de ensino.  Uma boa história nos ajuda a contextualizar a questão e entender o conteúdo de uma forma muito mais ampla. Creio ser este um dos motivos para Jesus usar tal ferramenta.

Esta passagem conhecida como a parábola do bom samaritano é uma das mais conhecidas e talvez até uma das mais incompreendidas. O texto tem como tema principal “graça e obras”. Sendo que e parábola foi contada por causa de duas perguntas: “O que farei para herdar a vida eterna?” (Lucas 10:25) questão que tinha como propósito testar Cristo seguido da pergunta “quem é o meu próximo?” (Lucas 10:29), que seria a sua justificativa por ter feito a pergunta.

Na pergunta “o que farei para herdar a vida eterna?” Fica claro que desde os primórdios o homem continua com a mania de achar que a salvação está ao alcance de suas mãos, que através das suas obras ele poderá comprar a sua entrada no céu. A verdade é que tudo vem pela graça, as obras não são um caminho para a salvação e sim é o resultado de quem foi realmente tocado por Deus, no que chamamos de frutos do espírito (Gálatas 5:22).

A parábola diz que um homem que descia de Jerusalém a Jericó foi assaltado e espancado, deixado quase morto à beira do caminho. Só que para a infelicidade daquele homem, um sacerdote que se aproximava não quis ajudar, ele passou de largo, sendo que depois um levita fez a mesma coisa. Estes homens que trabalhavam no templo não queriam perder tempo com alguém caído na beira da estrada, deviam ter coisa melhor para fazer na igreja ou gente mais importante para atender em suas comunidades. Quem sabe até que eles pensavam que aquele homem estava sofrendo porque tinha pecado, que Deus o estava castigando, como era comum um judeu da época pensar ou apenas não queriam se meter na vida dos outros. Só que o texto diz que um samaritano apareceu em cena e ele não agiu como aqueles dois homens, ele fez diferente, cuidou do moribundo até a sua recuperação.

Veja bem, um samaritano era alguém odiado pelos judeus, o exemplo que Cristo dá não poderia ser mais ácido. Judeus e samaritanos não podiam se ver sem brigar, eles discordavam quanto ao local de cultos, além de serem vistos como semigentios, já que samaritanos se casavam com não judeus, coisa que um judeu não concordava.

Na verdade a parábola que Cristo contou denunciava a hipocrisia daqueles homens, que viravam as costas para quem estavam passando necessidade. Eles sabiam de cor a lei, mas não a praticavam. O mais curioso foi que Jesus não respondeu a pergunta “o que devo fazer para herdar a vida eterna?”, quem respondeu foi o próprio mestre da lei induzido pela pergunta de Cristo (V27).

A verdade é que é fácil nos perdermos em nossa religiosidade, é comum cultivarmos uma vida cristã sincera e cairmos depois no ativismo e no autocentrismo. Gosto de como Stott pontua o que é ser cristão:

Por que eu sou cristãos? Intelectualmente falando, é por causa do paradoxo de Jesus Cristo. É porque aquele que afirmou ser o Senhor dos seus discípulos humilhou-se para ser servo deles (STOTT, 2004, p. 50).

Ser cristão é ser servo, é olhar para o próximo, é fazer o bem sem olhar quem é o beneficiado. E é esta lição que Cristo estava tentando ensinar aquele mestre da lei. A parábola denunciava um legalismo, mostrava que o mestre da lei falava de algo que não vivia, ou seja, ele era um hipócrita.

“O hipócrita não é alguém que falha em alcançar os alvos espirituais que deseja, porque todos nós falhamos de um modo ou de outro. O hipócrita é a pessoa que nem sequer tenta alcançar quaisquer objetivos, mas faz com que pensem que tentou. Sua confissão e a sua prática não condizem” (SWINDOLL, 2004, p. 214).

O hipócrita é um ator, alguém que diz que vive uma vida que nem de perto ele segue.

A parábola denuncia uma hipocrisia vinda dos mestres da lei e fariseus, mas também denuncia a nossa vida contraditória quando falamos de uma coisa que não vivemos.

O bom samaritano, que era mal visto por todos os religiosos, nem quis saber quem era o moribundo, ajudou a pessoa sem ao menos conhecê-la, ele era bom e nem pensou agir de modo diferente, este é o exemplo que Cristo deixou para seguirmos.

A parábola nos deixa uma pergunta implícita, quem é você e como você age quando alguém precisa de ajuda? A resposta acabará mostrando quem você é tal qual mostrou aqueles fariseus!

BIBLIOGRAFIA

Bíblia Sagrada – Bíblia de Jerusalém; Paulus, São Paulo, 2013.

CHAMPLIM, Rn. O Novo Testamento interpretado Versículo a Versículo, Editora Hagnos, SÃO PAULO, 2014.

RIENECKER, Fritz, Evangelho de Lucas Comentário Esperança, Editora Esperança, Curitiba, 2005.

STOTT, John, Por Que Sou Cristão, Editora Ultimato, Minas Gerais, 2004.

SWINDOLL, Charles, Jó, Editora Mundo Cristão, São Paulo, 2004.

Deixe um comentário