GUETO GOSPEL

No gueto gospel encontramos de tudo, música gospel, roupa gospel, casa gospel e por aí vai, o mercado é lucrativo, empresas de todos os tipos já descobriram o nicho e tem se preocupado em atingir tal público.

Sobre o gueto, nada contra, eu só acho que a desculpa de evangelizar já está ultrapassada e não funciona mais, pois no afã de “não se contaminar”, como eles mesmos dizem, acabam não se misturando e não fazendo diferença.

O sal serve para salgar e para isso, deve estar presente na comida, dando sabor, realçando os aspectos importantes do prato. O cristão é a mesma coisa, quando ele não se mistura umedece dentro do recipiente e estraga, isso quando não vira uma pedra, autocentrada e presa nas quatro paredes, sem servir para muita coisa. Sem falar do fato de que o gueto gospel tem uma linguagem tão diferente, que o mundo não consegue prestar atenção e até ri dela. Não podemos esquecer que são os cristãos que querem ser entendidos, somos nós que temos a missão de passar a mensagem a todos, com isso, a linguagem deve ser acessível e entendível.

A minha crítica ao movimento é que ele não faz diferença, acaba virando produto para cristão consumir, divertimento para crente ou desculpa para crente se reunir e farrear, novamente nada contra, acho que as vezes é até positivo, o erro é achar que as baladas gospels são meios evangelísticos, a minha crítica é esta.

Michael S. Horton resume bem a questão no livro O cristão e a cultura, e apesar da sua reflexão ser dirigida primordialmente aos cristãos americanos, creio que também se encaixa a todos os cristãos, sejam brasileiros, europeus ou cidadãos do mundo em geral:

“Chamados para fora da igreja e para dentro do mundo, os evangélicos foram novamente estimulados, especialmente pelos reavivamentos do último século e meio, a construir um império cristão dentro dos Estados Unidos. Finalmente, chegamos a ponto de possuir nossas próprias estações de rádio e televisão, cinemas, programas de entrevistas, cruzeiros, estrelas de rock, divertimentos e outros apetrechos do hedonismo moderno, sem ter que nos preocupar com deixar o gueto. Chamamos isso de evangelismo, e talvez até intencionássemos que fosse evangelismo, mas acabou criando apenas uma igreja que é do mundo mas não está no mundo, em vez de estar no mundo mas não ser do mundo” (HORTON, 2006, p. 129)

Não adianta disfarçar o discurso, nós estamos no mundo, e fomos chamados para sermos diferença. Ser cristão não é se ausentar do mundo, ao contrário, é sem dúvida estar presente e atuante, o que nos diferencia é que apesar de estarmos, não somos do mundo, pois seguimos imitando outro modelo de vida.

Marcos 16:15 diz para “irmos” por todo o mundo, mas muitos cristãos insistem em esperar nos bancos da igreja, ao invés de sair e fazer a diferença. O chamado é para irmos para fora e não esperarmos dentro das quatro paredes. Lâmpada que fica embaixo da cama não ilumina, não foi isso que Cristo nos ensinou em Mateus 5:15?

Enfim, que possamos sair de nossos guetos e sermos diferença, que aprendamos a realmente estar no mundo e salgá-lo com a palavra da verdade.

Quando aprendermos a andarmos pelas esferas públicas, a respeitarmos os pensamentos contrários e a pregarmos sem sermos legalistas e hipócritas, penso que o evangelho passará de meras narrativas, para ser vida e transformação.

 

BIBLIOGRAFIA

HORTON, Michael, S. O cristãos e a cultura, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2006

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