MISSÃO URBANA I: A DIFERENÇA ENTRE SER E ESTAR

Em minha vida a Missão Urbana entrou de uma forma bem natural, pois desde novo fui músico e quando cresci fui conquistado por um estilo musical que eu ouço até hoje. Este estilo, bem como muitos outros, carrega consigo uma cultura, forma de falar e de vestir. Com o tempo comecei a fazer parte desta tribo, ter bandas e ir a shows e descobri como tudo funciona. Depois de anos, Deus me chamou para evangelizar esta mesma tribo, o que culminou algum tempo depois em fazer parte de uma igreja voltada para tribos urbanas, ou, para a cultura jovem global, que é outro nome para o termo.

É claro que Missão Urbana é muito mais que rock, punk ou coisas do tipo, e quando falamos desta nossa sociedade que muda em uma velocidade impressionante, falamos em estar preparados para muita coisa que está surgindo, para desafios que aparecem tão rápido quanto as soluções, é por isso que está matéria acaba sendo fundamental. Sem entender a cultura, faremos pouca diferença, sendo que o propósito da matéria é justo este, dar ferramentas para o entendimento à leitura e a compreensão da sociedade.

Eu costumo ouvir de cristãos que o mundo está um caos porque as pessoas têm se esquecido de Deus e deixado de frequentar a igreja, seguindo sem qualquer escrúpulo o mundo. Tal reflexão é verdadeira e legítima, no entanto, eu a considero simplista por demais, afinal, existem muitas variáveis quanto ao assunto.

Existem dois fatos quando falamos de pessoas que não mais vão a igreja. O primeiro é: “sim o mundo está um caos”, o homem tem se distanciado cada vez mais de Deus e piorado cada vez mais por conta disso. C. S. Lewis têm uma frase que eu gosto muito e resume bem a questão:

Só existe um único ser bom, e esse é Deus. Tudo o mais é bom quando olha para Ele e mau quando se afasta d’Ele (LEWIS, 2006, PG 70).

Cada vez que o homem se distancia de Deus, mais ele fica mau, autodestrutivo e o mundo um lugar caótico. Apesar disso, existe ainda uma segunda questão quando falamos do assunto: “a igreja tem parado de pregar o evangelho”.

É claro que eu não vou generalizar, pois existem igrejas cumprindo o ide que Cristo nos deixou, mas em sua maioria as igrejas têm pecado neste quesito, têm se fechado em seus guetos gospels e esquecido das pessoas.

Entendam que sempre que vocês olharem para o mundo, observarem todo o caos e os problemas, é básico compreender também que é sua a responsabilidade de pregar a anunciar o evangelho, é a sua função estar presente e fazer diferença, ou pelo menos tentar.

Michael S. Horton no livro O cristão e a cultura, fala da diferença entre “ser do mundo” e “estar no mundo”. Nós não “somos” do mundo, mas estamos no mundo, para fazermos diferença devemos estar sem ser, e uma citação sua define bem como isso é possível:

“Estar no mundo, mas não ser do mundo requer que conheçamos a fé cristã o bastante para reconhecer quando estamos permitindo que definições, atitudes, percepções e modelos seculares formem a nossa crença e expressão” (HORTON, 2006, p. 172).

Não adianta fugir, nós estamos no mundo, é impossível não estar, conquanto nós não somos do mundo, por isso, temos que conhecer e estudar a palavra para que percebamos quando estamos ou não sendo influenciados.

Quando falamos de missão urbana, falamos da cidade, do evangelho, de pessoas e culturas, tudo dentro da mesma cidade em uma espécie de mundo paralelo, com seus modos, linguagem e jeito de viver. A missão urbana trata desta cidade, destas pessoas perdidas e leva o evangelho e a graça a quem nunca ouviu ou talvez até ouviu, mas de forma equivocada. Arzemiro Hoffmann define missão urbana de uma forma bem interessante, que conclui de forma perfeita o significado e a importância dela para nós cristãos:

“A missão urbana é um protesto contra a ruína da cidade “civilizada” que experimentamos” (HOFMANN, 2008, p.13).

Em um mundo caído, autodestrutivo e perdido, a missão urbana é um protesto, um grito de “basta” que põe fim no caos e na maldade humana. É por isso que precisamos assumir a responsabilidade, arregaçarmos as mangas e trabalharmos a fim de que a mensagem chegue e construa vida onde tudo já está morto.

Pouco adiantará se você não assumir a sua responsabilidade, não entender que levar a palavra as pessoas é a sua missão. Estar no mundo não é ser do mundo, por isso que não é errado você ir de encontro as pessoas para fazer diferença, e acima de tudo, se você não se importa com as pessoas, a missão urbana nem é para você. Pois tudo começa com a empatia, com se importar, em se condoer e se doar, Arzemiro Hoffmann novamente complementa a questão no livro “A cidade na missão de Deus”:

“Se nada na cidade me comove; se nenhuma injustiça me causa indignação; se nenhuma violência me machuca; se nenhuma perversão ma degrada; se nenhuma corrupção agride meu senso de justiça; se nenhuma dor me leva às lágrimas… Então, eu nada tenho a fazer, não tenho chamado de Deus para a missão urbana” (HOFMANN, 2008, p.87).

Que nosso coração possa aprender a se doar pelas pessoas, que nós consigamos nos importar pelos que estão se perdendo, ao invés de criticá-las e exigir que vivam uma vida calcada em valores que eles não conhecem.

Esteja no mundo, se importe com as pessoas, aprenda a sair do seu gueto e ir de encontro aos perdidos. Marque almoços e churrascos, confraternize com seus amigos não cristãos aprenda a ouvi-los e apoiá-los.

Você não é do mundo, mas está no mundo, com isso, é importante estar. Uma cidade construída em cima de um monte é enxergada em todo o lugar, é impossível não vê-la. Ninguém acende uma lanterna e a coloca em baixo da cama, ao contrário, deixamos em um lugar onde possa iluminar o ambiente todo, e para isso, nós precisamos estar no mundo e não apenas ficar trancado em quatro paredes (Mateus 5:13-16).

BIBLIOGRAFIA

LEWIS, C. S, O Grande Abismo, Editora Vida, São Paulo, 2006.

HORTON, O cristão e a cultura, Orientação bíblica para o crente, Editora Cultura Cristã, São Paulo, 2006.

HOFFMANN, Arzemiro, A cidade na missão de Deus, O desafio que a cidade representa para a Bíblia e a missão de Deus, Editora Encontro, Curitiba, 2007.

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