LIBERDADE

Uns anos atrás em um ônibus lotado, enquanto me dirigia para casa, começou a cair uma chuva grossa. Em um reflexo instintivo fechei a janela, deixando apenas uma fresta para não morrer sufocado, mas o suficiente para que não entrasse chuva. 

Todavia depois de alguns minutos, eis que entra no ônibus uma moça encalorada, daquelas que entram abrindo as janelas como loucas, sem ver as consequências de uma janela aberta para quem está sentado. Infelizmente uma das janelas era a minha, sendo que novamente resolvi fechar a janela para não chegar em casa ensopado. O resultado da minha atitude foi ver uma moça histérica, gritando como louca, enquanto eu tentava explicar, sem sucesso, que eu apenas não queria me molhar. Foi um caos, um misto de gritaria e infantilidade crônica de quem não sabia dialogar.

Há quem acredite em um mundo livre, onde todos possam fazer o que bem entendem, na hora que bem quiserem. Conheço pessoas que lutam por um mundo sem regras, sendo a liberdade à única norma. Como se um mundo assim fosse possível, soa até como piada, pois o homem mal consegue beber e não dirigir, quanto mais viver com ética e responsabilidade.

Roger Scruton no livro: “As vantagens do pessimismo…” resume bem a importância das leis para que assim tenhamos uma vida realmente livre:

“A liberdade é genuína somente quando limitada pelas leis e instituições que nos tornam responsáveis uns pelos outros, que nos obrigam a reconhecer a liberdade dos outros e também a tratar os outros com respeito” (SCRUTON, 2015, 49)

Imagine um mundo onde todos fazem o que bem entendem, alguns ouvindo som alto em plena madrugada, outros andando em alta velocidade e até agindo de uma forma que agrida o próximo? O mundo seria um caos se não existissem leis que nos obrigassem a olhar para o vizinho e respeitá-lo.

Não existe liberdade sem leis, é impossível sermos realmente livres, se não tivermos reguladores que impeçam o homem de fazer mal ao próprio homem. A própria busca da tal felicidade já iria de encontro com a busca de felicidade de um outro, com isto o caos estaria instalado. Afinal, cada um pensa de um jeito, crê de uma forma e vive de determinada maneira. Se não tivéssemos leis, com certeza nos consumiríamos.

A verdadeira liberdade está em saber viver em sociedade. Um cidadão livre é aquele que sabe viver o “nós”. Um país sem leis justas não é um país livre, um cidadão que não sabe viver em sociedade, certamente não é feliz.

Deus nos livre de um país sem leis, para que não sejamos destruídos pela felicidade alheia, penso que o homem fosse realmente livre, o mundo já seria um caos, o mundo já estaria acabado, a natureza um projeto da decadência.

Por isso, lembre-se o que é liberdade antes de ligar o som alto, aprenda a colocar-se no lugar da pessoa que só quer um dia de paz. Quando abrir a janela do ônibus, observe se com isso você não vai prejudicar o outro com sua atitude, você não tem o direito de prejudicar ninguém em nome de estar bem.

 

 

BIBLIOGRAFIA

SCRUTON, Roger, As vantagens do pessimismo e o perigo da falsa esperança, É Realizações Editora, São Paulo, 2015

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