REFLEXÕES SOBRE UM PRÓDIGO I: O FILHO

“Um certo homem tinha dois filhos…” (Referência: Lucas 15:11-32).

Quando falamos do filho pródigo, falamos de uma passagem Bíblica conhecida, talvez uma das mais pregadas, lidas e interpretadas, mas muitas vezes incompreendida. Cristo contou esta parábola para que aprendêssemos uma lição importante, porém, muitas vezes não entendemos a profundidade de seu ensino porque não conhecemos os costumes e ritos judaicos e é isso que vamos ver, para que entendamos a parábola um pouquinho melhor.

Temos como pano de fundo desta parábola Jesus rodeado de publicanos e pecadores, que ouviam e aprendiam com suas parábolas. E os fariseus e escribas julgando o fato de Jesus estar no meio daquela ralé (segundo eles). Na verdade, Judeus não se misturavam, pois tinham medo de se contaminar com pessoas pecadoras, eles tinha até um provérbio rabínico que dizia:

“Não se associe o homem com o ímpio, nem mesmo para trazê-lo para a lei (CARSON, 2012, p. 1512)”.

Lembrando que quando os judeus falavam de ímpios, eles queriam se referir aos não judeus. Mas Cristo não ligava para isso, afinal, quem contaminava as pessoas com seu amor e cuidado era ele.

Nós temos no capítulo quinze três parábolas que falam sobre misericórdia, sobre buscar ou encontrar algo que se havia perdido, a parábola do filho pródigo é a terceira e a mais detalhada e a meu ver, a parábola com o mais profundo dos ensinamentos. A parábola do filho pródigo me impressiona de várias maneiras, mas confesso que comecei a entender melhor depois que comecei a ter uma certa idade.

Com o tempo, você a prende a observar, você começa a notar as atitudes dos que estão a sua volta e até ver como eles agem para com seus pais e parentes. Principalmente quando estes são filhos, é normal um filho desdenhar de seu pai quando estes têm certa idade. É comum vermos adolescentes não respeitarem os cabelos brancos e agirem como se soubessem de tudo, normalmente, são estes que quebram a cara, pois se nem nós, que já temos certa idade, sabemos de tudo, quem dirá eles, que começaram a caminhar faz poucos anos.

Quando eu leio a passagem do filho pródigo não consigo deixar de fazer um link com os muitos adolescentes arrogantes que eu já vi por aí ou até comigo, quando fui adolescente, é comum vermos eles agirem como senhores de si. Mas eu vou mais além, pois conheço alguns adultos arrogantes, que agem como adolescentes, achando que sabem de tudo e só pensam em seus umbigos. A arrogância é um mal que faz com que não tenhamos a capacidade ouvir o próximo, aprender com os nossos erros ou refletir sobre nossas atitudes, eu ainda acho que o filho pródigo era um adolescente, entretanto, isso não tem muita importância.

O texto diz que este filho teve a desfaçatez de pedir a seu pai a sua parte da herança.  Sendo este um pedido muito ofensivo, afinal, não era comum um filho pedir a herança ao seu pai vivo, é como se ele dissesse: olha pai, já que você não morre, dê a minha parte da herança para eu fazer o que quiser.

Eu descreveria o filho pródigo ou este estilo de pessoa arrogante, como pessoas cegas pela vontade de ser feliz a qualquer custo. Pessoas que acreditam que apenas a sua fórmula, seu modo de agir ou a sua receita é a melhor. Por isso estes não medem esforços para terem sucesso em seus empreendimentos.

O filho pródigo da parábola não demorou para exigir sua parte da herança, mesmo com o seu pai vivo, pois ele tinha um plano e o seu pai tinha o dinheiro. É fácil sonhar com o fruto do esforço alheio, é fácil magoar os outros para ter condição de fazer as coisas do nosso jeito, o difícil é batalhar, trabalhar e correr atrás.

Aprendemos muitas coisas com esta parte da parábola, sendo que entre todas as lições, talvez a principal seja: “como a arrogância tem a capacidade de nos fazer passar por cima dos outros, sem perceber o estrago que estamos fazendo”. Talvez não tenhamos um pai vivo para pedir a herança, mas temos parentes ou amigos com uma idade muito mais avançada do que a nossa, com costumes tão opostos e estranhos onde não temos a paciência de respeitar e dialogar. Não precisamos aceitar tudo de todos, mas podemos aprender a conversar de forma mais amorosa e paciente, respeitando e sendo grato pelo fato que até aquele momento, estas pessoas têm nos dado a mão.

A resposta mais coerente deste pai diante do pedido que o filho pródigo fez, segundo o costume da época, seria um tapa na cara em público, lembrando que naquela época um filho desobediente era apedrejado, conforme Deuteronômio 21:18-21. Seu pedido era incoerente, ofensivo e irracional, mas aquele pai resolveu atender ao pedido do filho, quem sabe o pai quisesse ensinar algo ao filho, por isso, decidiu tomar um caminho diferente, não sabemos, só temos a certeza que aquele pai cedeu ao pedido do filho desobediente no qual muito amava (MACARTHUR, 2009, p. 64).

Com certeza, aprendemos muito mais quando quebramos a cara, esteja certo de que eu aprendi muito quando caí no mundo e vi que ele não era como eu imaginava. Eu me lembro das muitas das lições que ouvi quando morava com meus pais, o problema foi que no momento em que eu lembrei, já era tarde demais.

Não se esqueça que o mundo ensina, mas cobra caro, e aquele pai sabia disso. Já que aquele filho queria seguir o seu caminho, o pai, que era muito sábio, resolveu não o impedir. Ele sabia que tendo sucesso ou não nos seus planos, existia a possibilidade daquele filho aprender muito e acabar descobrindo o valor de ter um pai que cuida e zela por ele.

O filho pródigo é uma parábola que fala muito de nós e das nossas arrogâncias, fala do quanto muitas vezes nos sentimos superiores a tudo e a todos, e acabamos por seguir nosso caminho alheio a conselhos e ajudas. Mas a parábola não acaba aqui, no texto seguinte iremos ver este filho vivendo como bem queria na cidade grande.

BIBLIOGRAFIA

MACARTHUR, John. A parábola do filho pródigo: Uma análise completa da história mais importante que Jesus contou. Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson, 2016.

CARSON. DA.; FRANCE , RT.; MOTYER, J. A.; WENHAM, G. J. Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012.

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