PSEUDOS INTELECTUAIS

Quando eu assistia televisão, gostava de um personagem da Praça é Nossa que se chamava João Plenário. O personagem era um político corrupto, que gostava de enganar os outros em nome de ganhar dinheiro, um retrato claro e preciso da política brasileira. O curioso do personagem é que ele falava de uma forma que ninguém entendia, com trejeitos de um homem inteligente, mas que no fundo não falava nada.

Isso é comum no meio acadêmico, muitos ficam impressionados com professores ou escritores que falam coisas incompreensíveis, como se um sábio fosse alguém que falasse coisas difíceis, o próprio significado da palavra já nos mostra que não. Um erudito, segundo o dicionário é:

“Aquele que tem um excesso de cultura e de conhecimento, geralmente conseguidos através da leitura” (Dicio).

Um erudito não é alguém que fala palavras difíceis, e sim uma pessoa que estuda e tem muito conhecimento e acima de tudo, sabe comunicá-lo.

Eu desconfio de quem fala difícil, quem não tem a capacidade de se adequar a plateia que o assiste. Um sábio transita pelos vários estilos de público e sabe se comunicar de forma adequada. Roger Scruton fala muito destes pseudo intelectuais, que falam difícil a fim de passar uma imagem de sábio, mas que no fundo, não falam nada.

“Sua própria incompreensibilidade era uma garantia de sua relevância. Somente alguém que tivesse “compreendido todas as pretensões” poderia escrever assim” (SCRUTON, 2015, 165).

Em seu livro, Scruton cita como exemplo o escritor Louis Althusser e um livro de sua autoria que todos entendiam apenas o título, o exemplo que o autor dá, através de uma citação é hilária, pois realmente o autor não falava nada com nada. É claro que eu não estou falando de autores, principalmente os clássicos, que possuem linguagem rebuscada e de difícil compreensão. Mas de escritores que são tidos como intelectuais, mas que no fundo não são nada. Na internet existe um site chamado gerador de lero lero, que possuí frases sem coerência, vazias e sem sentido, que imitam conteúdos intelectuais, o site serve como um ótimo exemplo do que eu quero dizer.

Penso que na ignorância muitos têm como referência pessoas que não possuem o mínimo de conteúdo, que passam uma falsa imagem de intelectual, mas que no fundo nem eles sabem o que estão falando. É por isso que eu falo muito da importância da leitura, do estudo e do conhecimento, para que não caiamos na armadilha de quem só tem lero lero como fundamento.

Não basta falar difícil, tem que saber comunicar. Não importa muito você conhecer todas as palavras complexas, se você não tem conteúdo e não sabe passar o conteúdo da maneira adequada, ou pior, se não sabe identificar quem está falando bobagens dos que têm fundamentos.  

BIBLIOGRAFIA

SCRUTON, Roger, As vantagens do pessimismo e o perigo da falsa esperança, Editora É Realizações, São Paulo, 2015.

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