A tecnologia surgiu com um ótimo discurso, a sua fala era que um dia, teríamos muito mais tempo, por conta das facilidades tecnológicas, e viveríamos muito mais, por conta da longevidade que a ciência nos proporcionaria. Este sempre foi o mote do avanço científico. O grande impasse é que nunca estivemos tão doentes, com doenças psíquicas das mais diversas, fruto do nosso frenético modo de vida. Tão desinformados, afinal, o excesso de informação nos obriga termos critérios e ferramentas para verificar a veracidade das notícias, coisa que nem todos (se não a maioria) possuem. E tão sem tempo, pois com as facilidades, decidimos ocupar o tempo com mais trabalho, ou mergulhando em um mundo de fantasia e alienação, que são as redes sociais.
Byung-Chul Han, no livro “Sociedade do cansaço”, começa a sua obra pontuando que:
“Cada época possui suas enfermidades fundamentais” (HAN, 2020, P. 7).
Sendo que foi graças aos avanços, costumes e formas de encararmos certas situações, é que mudamos. Estes avanços nos trazem benefícios, mas também nos proporciona alguns ônus, situações precisamos aprender a lidar, para não nos consumirmos.
Hoje temos tudo na palma da mão, literalmente, embora tudo em excesso. Muita notícia, muito trabalho e um monte de escolhas que fazemos que só nos trazem enfado e cansaço.
Poucos sabem hoje parar, desacelerar para refletir, poucos aprenderam a se desligar, a observar o céu ou a natureza, muito menos a prática contemplativa, que por alguns é vista como coisa do passado, de pessoas ultrapassadas. A questão é que estas eram as rotinas das grandes mentes e dos grandes filósofos, práticas que temos esquecido. O mesmo autor, acrescenta afirmando que:
“Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto” (HAN, 2020, P. 37).
Durante a quarentena que a pandemia obrigou o Brasil a fazer, eu me impressionei com o desespero de muitos amigos que não aguentavam mais ficar em casa, por não ter o que fazer. Ocupar a cabeça é uma das nossas ideologias, fazer ou estar em constante estímulo, o modo de viver de muitos.
A solitude, a reflexão, ou a própria prática de ficarmos um pouco em silêncio, desligados de tudo, são práticas inconcebíveis por muitos. Coisa de pessoas loucas que não têm o que fazer. O próprio hábito de verificar o celular e as redes sociais a todo o instante, já tem gerado, cada vez mais mentes inquietas, que não param um segundo sequer.
O avanço do retrocesso tem sido grande, a cada nova tecnologia, novas doenças surgem, por conta de pessoas que não se desligam, não conseguem observar seus próprios passos, nem prestar atenção no caminho, por estarem dirigindo e falando no celular ao mesmo tempo.
O mundo não para, mas a pandemia nos faz parar, e nos dá a chance de observarmos as nossas rotinas, para mudarmos para um estilo de vida um pouco mais saudável.
A questão é que para que isso aconteça, as pessoas precisam prestar menos atenção no mundo virtual, e olhar mais para o mundo real, um hábito que é difícil de acontecer, pois se desconectar está fora de moda.
BIBLIOGRAFIA
HAN, Byung-Chul, Sociedade do cansaço, Editora Vozes, Petrópolis, 2020
