Não é raro vermos episódios de falta de amor através dos cristãos. Seus posicionamentos em nome das mais diversas causas, faz com que tenham atitudes contraditórias. Nem todos conseguem olhar uma situação por todos os ângulos, por isso, é normal observarmos algumas de suas discrepâncias, como por exemplo, no protesto em frente ao hospital, onde uma criança de 10 anos, que engravidou por ter sido estuprada por anos, iria abortar, amparada pela justiça.
Alguns casos não são simples. Apesar de ser contra o aborto, eu sei bem que certos acontecimentos são complicados, impossíveis de se resolver com meia dúzia de palavras. Por possuírem inúmeras variantes. Seja a saúde da criança que engravidou. Seu emocional, por passar por tal barbárie, entre tantos fatores, eu sei bem que alguns problemas não são simples, e a grande verdade é que, o problema dos outros é sempre mais fácil de resolver.
A falta de amor é comum, principalmente no meio cristão, pois muitos seguem seus conceitos, crendo estarem certos. Nada muito diferente do que acontecia no tempo de Jesus. Quando os fariseus, que acreditavam estarem certos, e serem santos, irrepreensíveis e escolhidos, seguiam alheios as necessidades do povo.
Seguimos a Jesus, um Deus que chorou (João 11:35) e se compadeceu da viúva que havia perdido o seu filho (Lucas 7:13). Imitamos a Cristo, um Deus que teve misericórdia até daqueles que o pregaram em uma cruz (Lucas 213:24), entre tantos episódios que mostram o tamanho do amor de Jesus. John Stott complementa:
Jesus chorou pelos pecados de outros, pela devastação decorrente do juízo que haveria de vir e por uma cidade apinhada de pessoas que não iriam recebê-lo. Quantas vezes choramos pelo mal no mundo e pelo juízo iminente contra aqueles que recusam a graça de Deus? (STOTT, 2018, p. 19, 20).
Eu sei que não somos Deuses e que Cristo era Deus. Contudo, eu também sei que somos convidados a imitá-lo. Com isso, não posso fugir da responsabilidade de pregar e muito menos de sentir, por aqueles que recusam a graça.
É fácil desejar que alguém vá para o inferno, ou ficar feliz ao imaginar alguém que não aceitou o evangelho, queimando eternamente no lago de fogo. Principalmente quando a pregação não é feita com amor e misericórdia. O normal de quem não tem Deus é justamente desejar o mal. O desafio é olhar para a cruz, e se sentir responsável por aqueles se seguem um caminho oposto. Amar é a marca da verdadeira conversão, não se esqueça disso (1 João 4:7-21).
Eu sinto muito por esta criança ter passado pelo episódio que passou. Ser estuprada, esconder o acontecimento dos pais, por medo, não é uma situação simples. E depois ter que enfrentar opiniões que não ajudam. Como a do padre que disse que “a menina estava gostando do estupro, se não gostasse, ela teria denunciado”. Novamente, alguns assuntos são complicados, não temos informações, não sabemos quem é a criança e o quanto de medo ela tinha do estuprador.
Precisamos aprender a chorar, e olhar para os outros com amor, empatia e clamar a Deus por misericórdia. Não podemos simplificar problemas, que por si só, já são gigantes.
A você que fica feliz com aqueles que recusam a mensagem de Jesus, lembrando que eles vão para o inferno, eu só digo uma coisa. Cristo bateu de frente com a religião legalista de sua época, mas chorou por aqueles que a religião ignorou.
Se você não chora por todo o mal no mundo, ou pelo menos se sente infeliz, por um acontecimento como o desta menina de 10 anos. Eu o convido a rever seus conceitos. Pois o meu Deus chorou e teve misericórdia até daqueles que o crucificaram. Se você não tem misericórdia, arrisca estar seguindo o deus errado.
BIBLIOGRAFIA
STOTT, John, Lendo o Sermão do Monte com John Stott, Editora Ultimato, Minas Gerais, 2018.
