O CAMINHO DO MEIO

Tento ficar neutro nesta discussão política, não que eu não tenha opinião, é claro que tenho, e sim, porque no fim, temo a motivação deste palavreado todo.

Transitar pelo caminho do meio é primeiramente ter certeza que podemos estar equivocados. E quando eu vejo tais discussões, percebo que a grande maioria parece não abrir espaço para esta possibilidade. Por isso, diante de tal fato, me resta o silêncio. Não posso me prestar a discutir, quando o interlocutor não pensa que existe, mesmo que a mínima possibilidade, de estar errado. Quem tem a plena certeza em estar certo, não dialoga, não conversa e mesmo sem querer, impõe.

Percorrer o caminho equilibrado é também entender que as respostas não são simples. Soluções são em alguns casos complexas e dependem de inúmeras variantes. O ditado popular que diz “que a generalização é burra”, significa que quem generaliza não leva em consideração as inúmeras variantes e simplifica, achando que todas as questões são semelhantes.

O caminho do meio não é o caminho do isentão, como alguns falam, e sim, a estrada de quem sabe que pode estar equivocado, de quem não exclui a possibilidade de estar vendo uma miragem, uma impressão falsa de uma situação.

Temo a certeza de muitos, foi a certeza, durante a inquisição, que condenou muitos inocentes. Foi a certeza que provocou guerras e divisões. Mas calma lá, eu tenho os meus pecados, pois estou certo de que posso estar errado.

Em uma aula, há um tempo atrás, um aluno afirmava que cristãos protestantes não dialogavam, todos eles, segundo este aluno, gostavam de impor seus pontos de vista. Eu concordei com o aluno em partes, falei sim que, muitos protestantes tinham esta mania, mas não acreditava que todos eram assim. Ele discordou de forma veemente, afirmando que eu, um protestante que estava tentando dialogar, estava errado. No fim, o aluno não percebeu que estava agindo igual ao seu alvo de crítica, e seguiu produzindo contradições.

Eu sou um cara desconfiado, desconfio das boas ações postadas na internet, desconfio de quem milita por causas, sejam elas quais forem, e principalmente, de quem crê que está certo o tempo todo, ou de quem não se abre para a possibilidade de estar errado.

Prefiro dialogar com quem não tem certeza e que não se cansa de buscar as melhores perguntas, do que com pessoas que têm opinião formada, e excluem a possibilidade de estar errados, prefiro aqueles que pensam e fazem, ao invés de gastar tempo com quem acha que sabe de alguma coisa.

O caminho do meio é antes de tudo a opção por dialogar, é não impor, é fazer perguntas e duvidar, com um pouco de respeito é claro, mas sem abrir mão da ironia, a vida é muito complexa para sermos austeros.

Gosto de quem ri, principalmente daqueles que riem de si, seus problemas e suas falhas. Sou amigo de quem não dá desculpa, de quem assume a culpa, mesmo sem ter certeza quem é o culpado.

A mente nos prega peças, ela por pura preguiça, sempre opta pelo mais fácil, pelo óbvio, pelo que é simples, e faz parecer tudo complexo, tudo para agradar o nosso ego e fazer-nos crer sermos divinos, seres acima da média.

Já tive muitas certezas quando era novo, até mergulhar nos estudos e perceber que o saber nos mostra apenas o tamanho da nossa ignorância. Não é que não conhecemos a verdade, e sim que, muitos creem saber de tudo, só porque sabem aquele pouco.

A sabedoria é entender quem somos, e o quanto precisamos aprender. Quem sabe disso aprendeu e descobriu o saber.

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