O FUNDAMENTALISTA SEM FUNDAMENTO

“Muitos fundamentalistas acreditam ser obedientes à palavra de Deus. Na realidade, porém, a distorcem através de suas próprias projeções” (GRÜN, 2014, p. 61).

Eu sempre via o mesmo pegador no terminal de ônibus do centro da cidade. Ele vociferava acusações, seguia apontando o dedo para todos, anunciando uma palavra de medo e de ódio a quem passava. “Quem não aceitar Jesus”, dizia o pregador raivoso, “vai arder no fogo do inferno”. Estas palavras, vinham acompanhadas de um sorriso de prazer, como se fosse muito gostoso imaginar alguém queimando no inferno.

O problema do fundamentalista, como é normalmente chamado o religioso que não consegue ouvir as pessoas, é a sua falta de diálogo. Conversar e ouvir uma opinião oposta, é impraticável para estes. O fato de crerem na palavra da verdade, lhes dão uma crença perigosa de que o diálogo não é necessário e é até errado.

O que eles não percebem é que quando alguém acusa, condena e aponta o dedo, falando de forma soberba, estão sendo contraditórios com o próprio ensino bíblico. A falta de amor, de paciência e cuidado com o próximo foi uma das críticas de Cristo aos religiosos da época.

Pregar é anunciar o Evangelho, e o significado de Evangelho é “Boas Novas”, notícias boas, e não palavras de condenação e acusação. É preciso dialogar, ouvir e ponderar, pois não é acusando, que o evangelho vai entrar no coração das pessoas. É só com amor, que seremos ouvidos, e com diálogo que a palavra vai se fazer presente.

O fundamentalista distorce a palavra, modifica através de suas projeções e pontos de vistas equivocados. As próprias palavras brutas, de acusação, demonstram raiva, e não o amor, que é o princípio de tudo. Aliás, os momentos de ira, de Jesus, curiosamente foram dirigidos justamente aos religiosos do seu tempo, que também acusavam, apontavam o dedo e ignoravam os necessitados.

Eu tenho um grande receio de quem anuncia o inferno, e principalmente quem assim o faz, com um sorriso nos lábios. Se alegrar com a condenação, demonstra falta de amor e responsabilidade com o próximo. Servimos um Deus de amor, por isso, nós devemos amar, simples assim (1 João 4:7-21).

Mateus 12:34 diz que “a boca fala do que está cheio o coração”, com isso, é inevitável olhar para estes pregadores raivosos e perceber a contradição instalada no sorriso de quem se alegra com o sofrimento alheio. Que Deus nos livre desta falta de amor. 

BIBLIOGRAFIA

GRÜM, Anselm, Ser uma pessoa inteira, Editora Vozes, Petrópolis, 2014.

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