“O perfeccionismo torna a pessoa cruel e desumana. Porque, por causa dos seus ideais, o perfeccionista não deve tolerar a fraqueza e a imperfeição. Assim, ele procura impor seus ideais com obstinação e brutalidade” (GRÜN, 2016, p. 52).
Conheci um excelente músico que estava se preparando para gravar o seu primeiro álbum. Ele gastava horas e horas em cima das composições e melodias, para que a sua obra saísse próxima da perfeição. Coisa que acabou nunca acontecendo, ele nunca lançou o CD, pois estava esperando as músicas ficarem perfeitas, ou seja, nunca ficariam prontas.
O perfeccionismo é o princípio mais perigoso que alguém pode seguir, seja para a espiritualidade cristã, para o trabalho ou mesmo os hobbies. Pois ser perfeito é impossível, é um padrão inatingível. O perfeccionismo nos paralisa, e acaba sendo o modo mais incoerente de se viver. O perfeccionista segue em direção a uma meta que nunca vai ser alcançada, terminando por estagnar, esperando chegar em um padrão inalcançável.
Quem segue o perfeccionismo é um impositor, que segue padrões absurdos e exige que todos também sigam. Na igreja, ele é aquele que tenta ser o mais santo, o que mais ora, o que mais lê a Bíblia e acaba exigindo que todos também sejam assim.
Em outras áreas, o perfeccionista é aquele que mergulha em algo, e como um tolo, não descansa até que aquela determinada atividade esteja em seu padrão, a questão é que na maioria dos casos, este padrão nunca vai chegar.
Não estou falando daqueles que procuram fazer o seu trabalho bem feito, e muito menos daqueles cristãos que tentam ter uma vida cristã centrada na palavra. Que estão sempre tentando ser melhores, orando mais ou estudando mais a Bíblia. E sim, daqueles que possuem um padrão exagerado, e exigem de si e de todos o máximo para que cheguem neste patamar impossível.
É preciso aprender a conviver com as imperfeições, assumir nossos defeitos e limitações, e depois, propor alvos mais palpáveis, sem exageros e idealizações. Ter o pé no chão é o melhor caminho para avançar, sem cultivar neuroses e doenças psíquicas.
Fui fã de um músico que não era dos melhores, ele tocava bem bateria, mas não era o mais rápido nem o mais técnico, contudo, ela tinha algo que me impressionava, suas linhas de bateria eram bem criativas. Ele me inspirou a ser criativo, enquanto eu buscava vencer minhas limitações técnicas, que eram muitas na época.
Quem foge do perfeccionismo, e cultiva objetivos equilibrados, metas e padrões coerentes, consegue empreender e conseguir, aos poucos, a melhoria e a evolução. É preciso ter os pés no chão e um dado momento aceitar que aquilo é o melhor que você pode fazer. Nem sempre dá para esperar chegarmos em um certo patamar. As vezes é melhor fazer o simples e bem feito, do que esperar para executar as coisas no modo mais perfeito.
Buscar o aperfeiçoamento e entender que a evolução é diária, é o caminho daqueles que são realistas e que estão com os dois pés no chão. É preciso ser honesto e saber ser prático, unindo a capacidade que você tem hoje com um pouquinho de engenhosidade.
Esta é a fórmula de quem faz, com as ferramentas e capacidades que possui no momento.
BIBLIOGRAFIA
GRÜN, Anselm, Ser uma pessoa inteira, Editora Vozes, Petrópolis, 2016.
