INCOERENTE OBSTINAÇÃO

““A obstinação e a convicção exagerada”, alerta Montaigne, “são a prova mais evidente da estupidez”. Onde há fumaça arde a fogueira – o calor da crença trai a falta de luz” (GIANNETTI, 2012, p. 75).

Já ouvi muitos falarem que o termo militante se tornou pejorativo. Em outros tempos, segundo estes, o termo exprimia a ação daqueles que defendiam uma causa genuína. Tenho as minhas dúvidas quanto a estas interpretações. Embora a minha certeza é que a pessoa obstinada e com aquela convicção extrema, quase sempre produz muitas injustiças. O posicionamento do militante ou do obstinado que possui uma convicção exagerada, nem sempre é positivo.

Temo a maioria dos militantes, principalmente aqueles que querem mudar o mundo com aquelas simplistas divisões de mocinhos e bandidos. O curioso é que eles sempre são os mocinhos, e aqueles que discordam, ou tentam apresentar suas contradições, são os bandidos, são as pessoas que querem estragar tudo. Como eu sempre digo, alguns acreditam que o culpado é sempre o outro. Outros, creem que discordar, é estar no lado do inimigo, com isso, o diálogo passa a não existir, e a militância segue sem qualquer abertura para ouvir, o que é um erro gigantesco.

O fundamentalista segue uma lógica parecida, ele se considera o herói, o dono da verdade e vê a todos como bandidos, criminosos que precisam ser condenados. Ele se coloca como o único, a pessoa que entende da verdade, e olha os outros como cegos, mergulhados em seus erros. E por fundamentalista, me refiro não só aos religiosos, mas também aos ateus ou qualquer outro militante da causa que for. O exagero existe em todos os âmbitos.

O obstinado normalmente olha apenas para si, ele é o parâmetro, e dialogar está fora de questão, já que ele é o dono da verdade. Com isso, quem discorda é inimigo, alguém que não entendeu o seu conceito de verdade, ou não foi iluminado pela luz divina.

Quem realmente sabe, reflete; quem estuda e se informa, pondera, dialoga e entende que estamos sujeitos ao equivoco e ao erro a todo o momento. A obstinação, na maioria das vezes, não é inteligente, e esconde uma falta, que em uma boa parte dos casos é apenas a falta de conhecimento.

O medo de dialogar, esconde a inépcia. Quem sabe, dialoga, por entender a extensão do conhecimento e o tamanho das nossas limitações. O conhecimento produz sempre uma visão realista de nós e nos mostra como alguns assuntos são complexos.

É importante defendermos nossas causas, mas não de maneira cega. Confessar os equívocos e contradições das causas que defendemos, é seguir rumo a mudança, calcado sempre na coesão. Dialogar, respeitar e entender de cada leitura e interpretação é estar certo que há uma grande possibilidade da pessoa que discorda de nós estar correta.

Você não precisa concordar com todos, pois sabemos que nem todos possuem opiniões coerentes ou que combinam com o que acreditamos. Mas é preciso respeitar e dialogar, para que com o diálogo, a ponte do conhecimento seja construída, e a sua causa, ganhe ares bem mais coerentes e menos idealizados.

BIBLIOGRAFIA

GIANNETTI, Eduardo, O valor do amanhã, Editora Companhia das Letras, São Paulo, 2012.

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