A ODISSEIA DA DOR XIX: LIBERDADE INTERIOR

Há muito tempo atrás, em uma empresa que eu trabalhava, alguém conseguiu abrir o armário onde eu deixava as minhas coisas e roubar o meu pagamento. No local não havia câmeras e o armário não tinha sinais de arrombamento, com isso ao levar o acontecido aos meus chefes, ninguém acreditou que o dinheiro havia sido roubado e eu terminei sendo mal visto por todos.

Você já sofreu injustamente? Já passou por alguma situação onde sem motivo o acusaram de cometer algo que você não havia cometido? Frequentemente alguns missionários cristãos têm sofrido por pregar ou mesmo acreditar em um Deus diferente da religião e crença daqueles países. E eu creio que justamente estas pessoas entendem bem o termo injustiça.

Nós cristãos podemos cometer muitos erros ao fecharmos os olhos para a fome em muitos países, para a perseguição política ou religiosa e principalmente, para o que aconteceu nos campos de concentração durante a segunda guerra. Por isso que é fundamental tentar sair da nossa cômoda posição e tentar observar a realidade que pessoas de outras culturas enfrentam. Esta atitude nos trará uma opinião mais coerente e embasada e também humildade na hora de falar de um tema tão complicado como a dor e o sofrimento.

O livro “Em busca de sentido” de Viktor Frankl é uma obra ótima para mergulharmos um pouco na injustiça que o ser humano é capaz de fabricar. Na obra, o autor fala um pouco de suas experiências em alguns campos de concentração durante a segunda guerra mundial.

O que salta os olhos, logo nas primeiras páginas da obra é justamente em meio ao caos e injustiça, existir prisioneiros com privilégios que tratavam com desprezo e extrema violência o restante dos presos comuns (FRANKL, 2020, p. 15).

Estes prisioneiros privilegiados eram chamados de Capos. Normalmente estes homens eram escolhidos para ajudar os guardas a fiscalizar e também torturar prisioneiros, quando era preciso. Sendo que muitos deles se mostravam mais cruéis que os próprios guardas do campo de concentração, quando realizavam a tortura (FRANKL, 2020, p. 16).

É inevitável olharmos para a Bíblia nestas horas e ver que ela está certa ao falar do pecado e do egoísmo humano. E não é difícil encontrar em nossos dias de paz, aqueles que se aproveitam de situações calamitosas a fim de tirar vantagem de alguém que está passando por dificuldades.

A apatia ante a dor é outra situação que impressiona quem lê o livro. É realmente surreal ver como o ser humano se acostuma a ver caos, dor e morte (FRANKL, 2020, p. 35, 36). Contudo, o mais legal do livro é ver que mesmo em meio a dor e injustiça, existiram muitos que não se conformaram e fizeram diferença, mostrando que o meio não havia moldado a sua mente. Viktor Frankl complementa:

“E mesmo que tenham sido poucos, não deixou de constituir prova de que no campo de concentração se pode privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas” (FRANKL, 2020, p. 88).

Muitos mesmo que presos e passando pelas mesmas dificuldades que os outros, conservavam uma liberdade interior e acabavam ajudando, dividindo o pouco (ou quase nada) com o próximo e oferecendo a mão ao necessitado.

Somos chamados a influenciar, precisamos entender que o externo não pode definir nosso interior e colocar a nossa fé em Deus é o melhor caminho para sermos sal e luz na vida das pessoas.

Ou olhamos para a cruz e buscamos forças em Deus ou a todo o momento permitiremos que a calamidade transforme a nossa vida em uma caminhada sem propósito. Precisamos entender que a verdadeira liberdade interior vem apenas de Deus, não há outro modo de seguir relevante e fazer diferença na vida das pessoas, é só através da sua graça. É em Deus que temos a verdadeira liberdade!

BIBLIOGRAFIA

FRANKL, V. E. Em busca de sentido. 50. ed. São Leopoldo: Editora Sinodal; Petrópolis: Editora Vozes, 2020.

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