Eu já ouvi muito, ao dar aula de Introdução à Ciência da Religião, a pergunta: “Como respeitar as diferentes religiões, sendo cristão?”. A minha resposta é sempre a mesma, eu respeito da mesma forma que respeito as inúmeras igrejas cristãs que são diferentes da minha.
Viver em sociedade é seguir em um mundo plural, onde a diversidade de crenças, religiões e credos é grande. O que torna a tolerância um desafio e também uma importante missão.
Tolerar é permitir, aceitar de bom grado a diferença, sendo que ela existe tanto dentro da igreja, já que a igreja cristã é muito diversa e diferente como eu pontuei no começo do texto, quanto fora dela.
O princípio da tolerância é primeiro se perceber como único, mas parte de um todo plural. Não somos iguais, temos nossas diferenças, anseios e crenças bem distintas, a questão é que o próximo também tem, com isso, respeitar segundo eu mesmo quero ser respeitado é o único caminho lógico. E este posicionamento serve tanto para questões religiosas quanto políticas.
Existe uma linha tênue entre defender um ponto de vista e ofender, deixar claro uma opinião e diminuir o outro. Uma ação que é vista em vários momentos em discussões religiosas ou políticas acaloradas. Muitos a fim de defender uma visão ou até mesmo com o propósito de ensinar a verdade, acabam perdendo a razão tudo e apenas pela forma que estão comunicando.
Certos assuntos, em um país laico ou livre, são apenas resumos de posicionamentos ou crenças que uma pessoa se sente confortável em seguir. Impor uma religião ou posicionamento político, em um país laico, acaba sendo um retrocesso, visto que hoje somos livres para escolher e seguir nossas escolhas como bem entendemos.
Eu sou cristão, como é possível constatar através dos textos deste blog, mas não posso impor ou ofender. Preciso falar da verdade, mas com respeito e cuidado, entendendo que ninguém é obrigado a aceitar a minha opinião.
Miroslav Volf no livro “Exclusão & Abraço”, fala das religiões como ferramentas políticas e marcadoras de identidade de uma tribo ou grupo. Seguir uma tribo, cultura ou religião não é ruim, o problema é transformar estas religiões em uma ferramenta para causas políticas particulares, definindo assim quem devemos excluir e quais pessoas devemos abraçar em nome da guerra política. O ponto de partida é entender que acima de tudo, somos seres humanos e Deus não é um ser a serviço de uma causa particular e sim, ele é Senhor de tudo e veio nos trazer libertação (2021, p. 17). Miroslav Volf complementa este problema resumindo que:
“Isso constitui claramente uma traição à fé monoteísta em si mesma, um rebaixamento imposto a Deus de Senhor do Universo para a condição de criado a serviço dos interesses de um grupo particular” (2021, p. 17).
A lógica é que Deus olhou para o ser humano, tendo assim graça para com ele. E não é Deus que nos serve, somos nós que servimos a Deus. Quando entendemos que nós amamos porque ele nos amou primeiro (1 João 4:19) ou que nós perdoamos porque Deus nos perdoou (Mateus 18: 21-35), entendemos a graça e buscamos assim agir de acordo com o mesmo padrão.
Cristo é o caminho, a verdade e a vida (João 14:6), algo que ele deixou bem claro na Bíblia, contudo, não podemos impor a sua palavra, visto que estamos em um país livre e também porque não somos nós que convencemos, é o Espírito Santo (João 16:7-11).
Quando conhecemos a verdade, entendemos que devemos amar como Jesus amou ao invés de impor o evangelho a todos. O amor é o princípio de tudo, o maior mandamento, conforme Jesus mesmo deixou claro (Mateus 22:36), sendo que quando amamos, respeitamos, acolhemos, ouvimos e não ofendemos. E desta forma, apresentaremos um evangelho escrito através das nossas atitudes.
A tolerância é um desafio, visto que nem sempre é fácil conviver em um ambiente plural, está é uma verdade que precisamos aceitar. Contudo, ao entendermos a graça, respeitaremos e buscaremos meios mais adequados para ser luz e falar da palavra da verdade para as pessoas.
BIBLIOGRAFIA
VOLF, Miroslav. Exclusão & abraço: Uma reflexão teológica sobre identidade, alteridade e reconciliação. 1. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2021.
