A MÚSICA E SEUS MISTÉRIOS

Sou músico há muitos anos, gosto de compor, tocar e ver de uma melodia e alguns poucos versos, uma música nascer, o sentimento é indescritível. Quem escreve e compõe, sabe muito bem disso.

Na filosofia a música pode ser entendida como uma forma oculta e imperceptível da alma filosofar, além de suscitar inúmeras perguntas e questionamentos sobre o assunto, tornando a música um interessante tema filosófico. O filósofo Josef Pieper aborda um destes questionamentos filosóficos acrescentando que:

“A questão que intriga de modo especial a mente perscrutadora do filósofo dedicado ao fenômeno da música é: o que de fato percebemos quando escutamos?” (PIEPER, 2021, p. 44).

A pergunta pode ser simples ou soar abstrata demais, contudo, quando falamos de música falamos de algo totalmente subjetivo, visto que, uma determinada música agrada alguns e desagrada outros. É difícil encontrar uma canção que todos gostem, tornando a questão realmente filosófica. O que realmente alguém que escuta uma música está ouvindo? No final as pessoas ouvem muito mais do que sons quando escutam uma música.

Contudo, a música não se fecha apenas nesta discussão, ela é muito mais ampla e possui muitos benefícios. Na teologia cristã por exemplo, Lutero via a música como uma ótima ferramenta para ensinar. Seguindo está mesma lógica, alguns filósofos atribuirão um caráter pedagógico a arte, o próprio Platão acreditava que a única arte que merecia ser mantida e deveria ser cultivada era a música, visto que ela ensina e educa (MONDIN, 2019, p. 167).

Já na igreja, usamos a música como instrumento de louvor e adoração. Louvar a Deus cantando, derramando o coração é um dos momentos mais valorizados no culto. O problema é que nem todos dão a real importância para a música ou percebem a capacidade que ela tem de nos tocar, nos aproximar de Deus e o quanto algumas vezes ela se torna a nossa trilha sonora. Josef Pieper novamente colabora, pontuando algo que eu, como músico, já vivenciei várias vezes:

“Todavia, a “música” nunca é uma energia impessoal, abstrata; é “tocada” por músicos, cada qual com sua individualidade. Por conseguinte, desse dinamismo interno, mil expressões musicais diferentes podem aparecer” (PIEPER, 2021, p. 49).

A música quando bem executada, se torna uma expressão individual, um bom músico consegue dar identidade e feeling a uma música, deixando assim uma parte de si na execução.

Cresci ouvindo música, a trilha sonora da minha vida é muito vasta, visto que, eu tenho sons para várias ocasiões e momentos, mas a principal parte é poder compor. Criar é algo inexprimível, é uma oportunidade que Deus nos dá para construir algo, sendo este um sentimento realmente difícil de explicar.

Na igreja, o louvor é um momento de adorar e oferecer o nosso melhor a Deus, por isso precisamos buscar entender de música, pelo menos um pouco, para assim, conseguirmos oferecer o melhor as pessoas e a Deus que é o centro de tudo, é por conta disso que precisamos entender que uma música mal executada nos tira a concentração e prejudica todo o andamento do culto.

Na vida pessoal, a música pode ser desde um momento de descontração, fuga ou alívio. Ela, assim como os livros, pode ser um lugar particular que nos transportamos a fim de admirarmos e sermos guiados para estes mistérios.

Enfim, a música guarda esta característica de ser única e de nos tocar, ela nos aproxima, quando encontramos alguém que também ouve o mesmo estilo, mas nos separa, quando não respeitamos o gosto alheio.

Para um músico, a música pode ser uma forma de se expressar e tocar as pessoas. Para um ouvinte, ela pode ser uma estrada que nos leva as mais profundas experiências.

BIBLIOGRAFIA

PIEPER, Josef. Só quem ama canta: A arte e contemplação. 1. ed. São Paulo: Quadrante Editora, 2021.

MONDIN, B. Introdução à filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 1. ed. São Paulo: Paulus, 2019.

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