A TEOLOGIA DO TANTO QUANTO

É comum em um cenário pseudointelectual, “pensadores” polarizados defenderem seus pontos de vistas como únicos. Como se só houvesse apenas uma forma certa de pensar (geralmente a deles) e uma forma errada (geralmente a dos outros).

Na política vemos isso a toda hora, só existe esquerda e direita, e quem é centrado é chamado de isentão. Para quem tem pouco conteúdo, existe poucas opções, normal, já para quem estuda e tenta olhar para os dois lados de uma questão, é comum concluir que as soluções nunca são tão simples, sendo que existem várias formas de interpretar algo. São muitas opções e maneiras de se resolver uma questão.

Quando refletimos sobre alguns modos de pensar, como a política, por exemplo, onde é possível constatar atitudes equivocadas, exageros e corrupção nos dois lados, ser centrado consiste em não compactuar com nenhuma das opções que ambos os lados oferecem. É se concentrar em buscar uma outra saída, entendendo que o equilíbrio é o único caminho para escapar de todos os exageros.

Ao falarmos em teologia discorremos sobre um problema semelhante, pois ela também transita em um ambiente polarizado que é o calvinismo e o arminianismo. Ser centrado nestes casos é buscar um meio termo em questões onde a palavra não dá um ponto final, e Roger Olson no livro História das controvérsias na teologia cristã, discorre justamente sobre isso ao abordar a teologia do “Tanto quando”:

“Infelizmente, muitas vezes deixamos de perceber a possibilidade do “tanto… quanto” em numerosos casos de divergências e controvérsias doutrinárias. Não haveria possibilidade de Deus ser tanto três quanto um? A possibilidade de Deus ser tanto autolimitante (para dar às criaturas um espaço para certa autodeterminação) quanto soberano?” (2004, p. 31).

A doutrina do “tanto… quanto” surge quando um preceito é tanto uma coisa, quanto outra. Assim como Jesus é cem por cento Deus e homem. Ou Deus é soberano, mas escolhe se autolimitar, entre tantos pontos da fé cristã.

É normal o ser humano tomar um partido, defendendo assim seu ponto de vista com muita sede e certezas. O problema é que muitas doutrinas, não as fundamentais, são complicadas e difíceis de gerar uma conclusão centrada. E eu creio que alguns até têm conclusões, por não conhecerem o todo, não perceberem todos os pontos que ficam sem explicação.

Não há como aceitar posicionamentos polarizados quando falamos de cristianismo e da teologia cristã, pois dialogar e respeitar algumas doutrinas opostas à nossa, não é pecado.

Entender que em muitas doutrinas há a possibilidade de aplicarmos a teologia do “tanto… quanto” é perceber que quando falamos de um Deus soberano, discorremos sobre um ser que é impossível de se quantificar.

A nossa guerra não deveria ser entre nós e a união deveria ser a principal atitude que podemos tomar para que consigamos crescer ao incentivarmos o diálogo.

Uma vez que a Bíblia está no centro da nossa vida, e as doutrinas fundamentais do evangelho entraram em nossa mente e coração. É possível dialogar sobre pontos complicados e entender que certas doutrinas poderíamos aceitar sendo “tanto… quanto”.

BIBLIOGRAFIA

OLSON, Roger. História das controvérsias na teologia cristã: 2000 anos de unidade e diversidade. São Paulo: Editora Vida, 2004.

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