INFELIZ AUTORRETRATO

Nas redes sociais é comum pintarmos um autorretrato, de preferência bem pintado, com o intuito de mostrar a alguém o que não somos, para vender uma vida falsa, já que nem sempre é possível vendermos a vida que temos.

A necessidade de ser aceito move o mundo e as redes sociais ampliaram ainda mais este problema. Eu não demonizo as redes sociais, elas são boas, nos conectam e é através dela que eu divulgo meus textos. A questão é que sem delimitação, podemos naufragar neste mar de futilidades através das armadilhas que nos aprisionam.

O ser humano tem seguido cada vez mais solitário, sem vínculos, buscando ser ouvido por um mundo surdo, que ouve apenas a si e as suas vontades. Cultivando um vazio que só aumenta a cada like.

A falta de significado é outro ponto que leva muitos a pintar um quadro falso de si. Entenda que a vida é simples, contraditória e nem sempre tem um significado, na verdade, a falta de significado é o que mais encontramos e isso nos confronta e nos assombra. Aceitar isso é cultivar um pouco de paz e ter um pouco de consciência que nos auxiliará a não cairmos nestas armadilhas.

Aquele papo de jogar para o universo o bem e esperar ele dar o retorno. Ou tentar ser positivo para ter seus caminhos abertos, é uma tentativa light de tentar mascarar o caos, a aleatoriedade e a falta de significado que experimentamos todos os dias. Vivemos uma vida infeliz e sem significado justamente porque o ser humano se distanciou da verdade, que é Deus, é imprescindível colher tais frutos estando longe Dele.

Quando o iluminismo colocou o ser humano no centro de tudo e vendeu a ideia de que a razão iria salvar a humanidade, ele na verdade, não percebeu o tamanho do erro. Se esqueceu da ambivalência que é o ser humano e colheu as suas consequências por este ato. É curioso perceber como o ser humano andou na contramão dos próprios ideais iluministas de liberdade, tolerância, progresso e fraternidade. A própria Primeira e Segunda Guerra Mundial atesta a falha destes ideais, isso só para citar estas duas catástrofes.  

O erro do ser humano é não se perceber, é seguir seus autoenganos, crendo estar de posse da verdade. Ele quer ser importante, deixar uma marca no mundo, mas não aceita a sua própria condição e muito menos enxerga a contradição que é a sua vida.

Eu temo crer que no final, o problema do ser humano é colocar muita fé em si, crendo que a sua razão é a única a lhe guiar. Mas é preciso olhar, enxergar de verdade para constatar que quase sempre o retrato que pintarmos de nós, nossa sabedoria e nossa vida, são quase todos falsos, frutos de uma visão equivocada de quem somos.

Na verdade, o ser humano é infeliz e tenta disfarçar a tristeza com um monte de coisas fúteis. O problema é que a máscara que esconde a nossa tristeza e o peso da realidade, é a mesma que também nos engana.

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