Gosta de poesia? Esta era a pergunta que eu costumava fazer no período em que eu trabalhava na rua, durante a minha juventude. Por três anos, mais ou menos, vivi a vida vendendo zines de poesia para amantes da arte. Era um tempo onde a vida era incerta, não era possível imaginar se naquele dia eu conseguiria dinheiro suficiente para uma refeição, mas a liberdade que eu experimentei foi muito grande.
Na rua, aprendi que algumas pessoas são invisíveis, vivenciei esta realidade na pele, percebendo como no final, enxergamos o que queremos enxergar. O mundo é o que priorizamos olhar, sendo que para olhos atentos, existe mais do que aparentemente parece existir. São universos percebidos através de cada pessoa e cada contexto social.
Certas profissões também têm o poder de tornar invisível um ser humano, ainda mais quando alguém exerce uma tarefa que é vista como inferior. Muitos ignoram pessoas consideradas inferiores e percebem apenas quem para si são importantes ou que de alguma maneira, conseguem agregar valor à sua carreira ou relação social, em uma amizade totalmente utilitária.
No tempo de Jesus não era diferente, na sociedade da época, tal qual a nossa, havia muitos que eram invisíveis e considerados inferiores. Mas Jesus andou justamente com eles, ouviu desde pessoas tidas como impuras, como os leprosos, alguns vistos como traidores como os cobradores de impostos até alguns mestres da lei ele dialogou. Foram estes que ele atendeu e ofereceu a mão, sem pensar em qualquer tipo de retorno como muitos hoje em dia pensam.
Cada um tem uma história, este é um fato fundamental que precisamos guardar, e a rua esconde justamente estas pessoas e disfarça o seu rosto fazendo-os parecer insignificantes. Por isso que ouvir, acolher e receber é importante caso queiramos agir como Cristo.
É fácil nos considerarmos melhores que o outro, visto que, a sociedade tem o poder de dividir as pessoas em classes e se você estiver em uma classe importante e não tiver uma mente crítica, você certamente vai olhar alguns com desdém, reproduzindo assim uma injustiça que sempre foi vista desde que o mundo é mundo.
Mas como seguimos a Cristo, precisamos receber a todos como iguais e levar a luz do evangelho sem qualquer preconceito. E eu espero que neste ínterim você consiga ouvir as várias histórias que cada um leva consigo, aprendendo desta forma, a enxergar outras realidades.
Ver é muito mais que admirar algo, é perceber o outro, é entender alguém ou uma realidade, não a partir das nossas vivências e sim, do contexto real. É fácil projetarmos a nossa realidade para a realidade do outro, distorcendo assim, uma história e a nossa conclusão sobre o fato.
No mundo existem muitos cidadãos invisíveis, com histórias e contextos que são desconhecidos, percebê-los é a missão daqueles que seguem a Cristo e buscam seguir os seus passos.
Saber olhar com amor, com aquele calor que só quem está aberto a ouvir consegue olhar é a atitude de quem acima de tudo, busca fazer a diferença na vida das pessoas.
