MÚSICA E SILÊNCIO

Eu gosto do silêncio tanto quanto gosto de música, creio que os dois momentos são igualmente enriquecedores para quem experimenta, mesmo que a princípio as duas situações soem contraditórias, contudo, veremos como não são.

O silêncio é um momento de contemplação, é quando você larga o controle e permite que o ambiente assuma o comando. E por conta disso, se você estiver em um lugar solitário ou mesmo em meio a natureza, você passa a ouvir mais do que normalmente ouve. Os muitos ruídos dificultam o processo de escuta e atenção, inclusive os ruídos internos.

Por outro lado, para ouvirmos uma música é também necessário silêncio, entrega e atenção, caso contrário, todos os barulhos impedirão você de desfrutar a doce melodia das notas musicais de uma canção. Não é possível apreciar uma canção, entender todos os detalhes e nuances da música, sem o silêncio e a atenção.

O silêncio é tudo, a música é uma sincronia de som e silêncio. Sem as pausas, uma canção viraria um incessante e desconexo ruído. C. S. Lewis fala que as duas únicas coisas que não podemos encontrar no inferno é justamente a música e o silêncio (PIEPER, 2021, p. 55). Música e silêncio, dois elementos fundamentais para a sanidade mental neste mundo de excessos.

Para quem vive em meio a uma rotina de barulho e ruídos, o meu conselho é óbvio: “Aprenda a cultivar um momento de silêncio em sua vida, coloque-se em solitude e aprenda a calar todos os sons, sejam externos ou internos”.

Costumo em alguns períodos, me colocar em silêncio diante de Deus, largando realmente o controle, deixando que ele fale comigo através da sua palavra ou mesmo sentido o seu abraço em meio ao silêncio. Se não nos calarmos, nos afogaremos no mar de palavras. Falar é bom, mas ouvir é uma prática fundamental para a nossa vida e é através da disciplina do silêncio, que cultivamos o hábito de ouvir.

A música é também uma outra forma de relaxar, aprender a ouvir todos os detalhes e a meditar no que você está ouvindo. Parar e silenciar seu coração é necessário para não ser engolido por este mundo que fala muito, mas não diz nada.

Quando eu era um pouco mais novo, para ouvir música era preciso ligar o rádio e procurar uma boa estação, ou mesmo colocar na vitrola aquele disco, CD ou fita cassete. Era quase que um ritual, onde parar e ouvir, era um evento. Cansei de me reunir com os amigos para ouvir o CD novo de uma banda, hoje este momento é pouco valorizado. Por isso, insisto no conselho, aprenda a parar, ouvir e ser levado pela melodia, muitas vezes não valorizamos, justamente porque temos tudo a mão e por isso, deixamos escapar momentos que são totalmente benéficos para nós.

Hoje nós temos tudo, mas perdemos os critérios por conta dos excessos e da vida corrida e conectada. Viver é muito mais do que estar online o dia inteiro, rolando o feed e consumindo conteúdos que não agregam.

A entrega é a característica de quem ouve, seja uma música ou um amigo, e separar um tempo para escutar, sem todos os estímulos e notificações é um bom caminho para aqueles que pretendem manter um pouco de sanidade em meio a este mar de exageros.

BIBLIOGRAFIA

PIEPER, Josef. Só quem ama canta: A arte e contemplação. 1. ed. São Paulo: Quadrante Editora, 2021.

Deixe um comentário