LIBERDADE VIGIADA

Eu costumo avaliar o que vejo e ouço, tento sempre me demorar ao máximo na reflexão, lendo, estudando e me informando antes de ter alguma conclusão. Esta série de textos é a prova disso, demorei muito para falar sobre o totalitarismo e inclusive sobre o comunismo. Foi apenas após um bom tempo de leituras e estudos que resolvi emitir uma opinião sobre esta visão política.

Um fenômeno interessante que acontece neste cenário político brasileiro é que a troca de ideias ou a discussão não são bem-vindas. Não é possível alguém divergir de qualquer ponto do pensamento de esquerda, sem ter algum problema. É muito raro encontrar uma pessoa desta vertente política, que dialogue e reflita sobre um pensamento oposto. Normalmente quem discorda, mesmo sendo apenas em alguns pontos, logo é chamado de inimigo, de fascista ou qualquer um destes termos, em uma atitude que curiosamente replica o que alguns pensadores comunistas acabaram fazendo.

Ludwig Von Mises traz à tona um pensamento curioso do escritor comunista Nikolai Bukharin (1888 – 1938). Ele relembra um panfleto de Nikolai quando ele afirma que em tempos passados, a liberdade de imprensa, a liberdade civil e de pensamento eram exigências daqueles comunistas, eles brigaram por isso até chegar ao poder. Já de posse do poder, em um tempo em que o regime comunista dominava, já não era mais necessária tal liberdade (2015, p. 35).

A contradição deste fato é que no final, Nikolai Bukharin, um dos dirigentes dos Bolcheviques, tendo também atuado ao lado de Stalin e ocupado cargos importantes na política, terminou por ser condenado a morte, acusado de deslealdade. Ele acabou sendo vítima da sua própria teoria. Von Mises complementa:

“Infelizmente, expurgos não acontecem só porque os homens são imperfeitos. Expurgos são a consequência necessária dos fundamentos filosóficos do socialismo marxista. Se você não consegue discutir diferenças de opinião filosóficas do mesmo jeito que discute outros problemas, precisa achar outra solução – por meio da violência e da força” (2016, p. 45).

Estes expurgos foram comuns na URSS durante o poder de Stalin. Muitos foram presos e mortos, todas as pessoas que possuíam alguma crítica a sua política foram exterminadas, calados a força. Não era permitido discordar, ou você concordava ou pagava o preço com a própria vida. Sendo que muitos foram mortos mesmo sem prova, mostrando como na dúvida, matar era a opção. Milhões morreram em nome de uma ideologia política totalitária, injusta e cruel.

Na URSS, por exemplo, os dois grupos de oposição ao regime Czarista russo que se consideravam a favor da classe proletária, os Bolcheviques e os Mencheviques, divergiam quanto a como tudo deveria acontecer, acreditavam que eliminar o adversário era a única maneira de resolver o problema. E dentro do próprio grupo dos Bolcheviques, que ganharam o poder um tempo depois, as pessoas que discordavam foram exiladas e mortas a machadadas. A receita é parecida, calar o adversário ou ridicularizar, sem pensar e buscar um ponto de união entre as duas formas de pensar é a única forma de resolver a questão, segundo estes (MISES, 2016, 45).

É inevitável relembrar estas histórias quando ouço alguém se intitular de comunista. E mesmo que alguns afirmem que a intenção é criar um novo comunismo, não consigo esquecer como algumas revoluções ou levantes políticos surgiram com as melhores intenções, mas no final, se mostraram como sendo tirânicos e opressores.

Sou contra qualquer tipo de totalitarismo, eu creio na liberdade de pensamento, crença e ideologia. E por conta disso, tenho sempre um pontual conceito destas ideias que se mostraram infelizes.

Eu me preocupo com aqueles que colocam a sua esperança em ideais milagrosos, que não dialogam e querem impor a força as suas mágicas soluções políticas. Pois são estes que ao chegar no poder, na maioria das vezes, praticam as mais cruéis atrocidades. 

BIBLIOGRAFIA

MISES, Ludwig. Von. Marxismo Desmascarado. 1. ed. Campinas: Vide Editorial, 2016.

Deixe um comentário