ESPANTO CONSTRUTIVO

Eu aprendi a tocar bateria ainda muito novo, a vontade surgiu na primeira vez em que eu havia ido em um show e fiquei impressionado em ver um baterista tocar com tanta habilidade. Na verdade, desde novo a música me espantava, tirava todo o meu fôlego, isso me fez querer aprender.

O espanto é um elemento fundamental para o aprendizado. Quem se espanta, aprende e mergulha no conhecimento, quem não se espanta não vê, não contempla e muito menos aprende com algo. Segundo a tradição filosófica, a contemplação provoca o espanto, que seria uma realidade que tira todo o nosso fôlego e nos assombra, sendo que é através deste espanto que aprendemos, pois este sentimento nos tira do comum e nos leva em direção ao conhecimento (PIEPER, 2020, p. 169). Se você sabe ou acredita que sabe de tudo, você não se espanta e com isso, permanece estagnado. Josef Pieper complementa:

“Na tradição, a contemplação é qualificada como ato de conhecimento acompanhado de assombro” (PIEPER, 2020, p. 169).

Eu sou um professor que busca sempre estudar, considero fundamental para um bom profissional aprender e estar sempre se reciclando. Sendo que o espanto é um elemento que eu estou sempre tentando manter vivo, entendendo principalmente que não sabemos de tudo e sempre podemos aprender mais, este é um primeiro passo para o espanto.

O espanto nos traz duas lições, a primeira é que precisamos tomar cuidado e não deixar que o conhecimento roube de nós a capacidade de nos espantar, de admirar e perder o folego com a vida e com as coisas. As vezes estudamos tanto, que perdemos aquele olhar simples de criança que se espanta com tudo o que é novo. Não racionalize tudo, não permita que o conhecimento tire de você aquela simplicidade que é rica e inspiradora.

Eu sou músico há muito tempo e ainda me espanto com os habilidosos bateristas que eu assisto. Eu sei como é desafiador estudar e aprender, por isso, quando eu vejo um bom músico eu me espanto, me assombro com aquela habilidade e busco me inspirar como músico e profissional. É este espanto que não podemos perder, principalmente porque a habilidade não é fácil de construir, ela é fruto de muito empenho e isso é uma verdade que não podemos esquecer.

A segunda lição é entender a importância de sempre buscarmos algo novo, de sempre nos desafiarmos intelectualmente, seja aprendendo algo diferente, lendo um livro diferente ou mesmo visitando um lugar onde você nunca esteve. É bom sair do comum e deixar que a novidade tire o seu fôlego e inspire você através do espanto.

Assistir a aula de um bom professor ou mesmo de um músico habilidoso. Buscar bons livros, autores que tirem o nosso fôlego é um importante passo para o espanto e para aprendermos e crescermos sempre.

É comum paralisarmos, perdendo o encanto pelo saber, principalmente se você teve sucesso em seus planos, por isso, fique atento e não permita que a vida engesse a sua capacidade de se espantar e com isso, deixar de aprender ou se inspirar.

BIBLIOGRAFIA

PIEPER, Josef. Ócio & contemplação: Ócio e culto, felicidade e contemplação. 1 ed. São Paulo: Kírion, 2020.

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