IDEOLOGIAS TOTALITÁRIAS

“Portanto, as ideologias totalitárias invariavelmente dividem os seres humanos em grupos de inocentes e culpados” (SCRUTON, 2015, p. 70).

Tenho um certo receio de ideologias totalitárias, como tem ficado claro nesta série de textos. Esta forma de pensamento transforma o mundo em um grande cenário de guerra. Como se a sociedade fosse dividida em nós (os mocinhos) e os outros (os bandidos). É fácil seguir apontando os culpados, enquanto você se considera inocente, o desafio é conseguir olhar os problemas de forma ampla e perceber todos os detalhes.  Sendo que é possível ver estas ideologias totalitárias em vários setores da sociedade.

Esta atitude existe na política, na religião e também no convívio familiar. Nestes ambientes é comum vermos culpados serem apontados, são bodes expiatórios que levam com eles todas as nossas culpas e responsabilidades. O curioso é que a culpa nunca é destas pessoas, são sempre os outros os culpados. Ver alguém assumir suas responsabilidades por seus fracassos é sempre raro.

Conheço muitos destes que se colocam como vítimas, como seres injustiçados por um mundo cruel. Mas ao ouvirmos seus problemas, constatamos a sua culpa velada, disfarçada ao apontar o próximo. Veja bem, viver não é fácil e em alguns momentos somos atingidos por pessoas sem caráter. A minha desconfiança paira apenas naqueles que acreditam que não possuem culpa alguma por seus problemas e acreditam serem detentoras de soluções infalíveis. São destes que eu estou falando. Temo aqueles que se veem como inerrantes!

O totalitarismo basicamente é um estilo de governo, seja ele político ou religioso, que busca abolir qualquer tipo de discordância. É um regime onde ideias opostas não existem, o contraditório é abolido e combatido como se fosse um inimigo ou culpado por todos os erros da vida (CHAMPLIN, 2013, p. 459). Normalmente a justificativa destes regimes de governo ou lideranças, para as suas imposições, é combater um problema e suprimir o mal. Diante disso, o diálogo não existe, visto que a solução, segundo estes, parte somente deles.

É fácil culpar alguém e seguir combatendo um suposto vilão, o desafio é justamente assumir a culpa e dialogar em busca de soluções. Entenda que qualquer solução simples, para a nossa sociedade que é complexa por si só, já tende a ser errada. O erro do totalitarismo é pensar ser detentor da solução e seguir forçando a todos, obrigando-os a seguir seus ideais.

Nesta mesma direção seguem algumas igrejas que não dialogam tendo líderes que lideram suas comunidades com mão de ferro. Apesar de termos princípios inegociáveis que partem da Bíblia, o diálogo é fundamental para que possamos construir pontes. E acima de tudo, conviver com o pensamento oposto é sinal de inteligência e equilíbrio. Obrigar alguém a seguir nossa fé é algo desconexo e incoerente.

O totalitarismo começa procurando um culpado, arranjando um responsável pelos problemas da vida. Depois ele se mostra como alguém detentor da solução, e obriga a todos a seguirem suas regras. Este é o caminho do caos, construído por líderes que talvez por serem tão inseguros, não possuem a menor capacidade de dialogar e conviver com o contraditório.

Que a liberdade e o respeito possa ser o ponto de partida das nossas ideias, atitudes e da nossa fé!

BIBLIOGRAFIA

SCRUTON, Roger. As vantagens do pessimismo: E o perigo da falsa esperança. 1. ed. São Paulo: É Realizações Editora, 2015.

CHAMPLIN, R. N. Enciclopédia de Bíblia, teologia & filosofia: Volume 6. 11. ed. São Paulo: Hagnos, 2013.

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