DISCURSO REVOLUCIONÁRIO

Tenho um certo receio daqueles discursos revolucionários, que pregam sobre a importância de derrubar o sistema, calar os opressores e a burguesia, justamente porque a fala é genérica e o suposto inimigo nem sempre é tão definido assim.

Eu sempre digo que sou a favor da liberdade, não creio em qualquer tipo de imposição e muito menos tenho problema com as pessoas que têm dinheiro. Acredito em um país com liberdade de expressão, liberdade política, inclusive para aqueles que possuem uma opinião política e uma religião diferente da minha. Liberdade é isso.

O problema da exploração dos mais pobres, da falta de condições dignas para as pessoas viverem, são problemas genuínos, mas não é uma questão simples e muito menos a culpa é, propriamente dita, dos chamados burgueses.

Tais pautas são verdadeiras, mas não devem ser trabalhadas a partir de um levante de guerra contra os ricos e sim, de programas governamentais que fomentem o estudo, mais moradias e ferramentas para que as pessoas possam mudar de vida.

Trabalho em uma grande universidade que realmente valoriza os funcionários e dá condições para que eles cresçam e se desenvolvam. E tal qual esta empresa, existem muitas, que proporcionam as mesmas oportunidades. Existem muitos empresários conscientes, por isso, acaba sendo injusto, colocar todos em um mesmo patamar a fim de combater a tal burguesia exploradora, conforme muitos da esquerda falam. Esta suposta guerra é incoerente e parte de um senso comum, que acredita que prosperar e mudar de vida é algo errado.

George Orwell no livro O caminho para Wigan Pier, faz críticas realmente ácidas ao socialismo. Sendo que o autor busca mostrar as pautas incoerente de muitos destes revolucionários e como, por fim, ele acaba atraindo gente estranha e também charlatões. Orwell complementa:

“Além disso, há a horrível – na verdade, inquietante – predominância de excêntricos onde quer que haja socialistas” (2021, p. 143).

Por fim, Orwell usa alguns capítulos do livro para justificar tal forma de pensar e falar do socialismo certo, da real luta contra as injustiças. Ele é corajoso em fazer críticas a ideologia que ele acredita, o que fica no ar é se realmente existe ou é possível existir um socialismo verdadeiro. A história nos mostra apenas que todos os regimes socialistas foram tirânicos, por conta disso, não são confiáveis.

O problema é que discorrer sobre o verdadeiro socialismo, se é que ele existe, buscando criar um mundo igual para todos, não é o caminho certo, a meu ver. Promover justiça, acesso a oportunidade e condições para que uma pessoa possa mudar de vida, isso sim é verdadeiro. Na política eu não acredito neste tipo de igualdade e sim na equidade, visto que muitos, por estarem em condições inferiores, precisam ser tratados de forma diferente, eles precisam receber o que eles realmente precisam. É assim que funciona a equidade.

A vida não é uma corrida, como alguns descrevem, é uma caminhada onde a dignidade deve ser o ponto de partida. Não é possível existir um país onde todos sejam milionários, mas é possível existir um lugar onde todos possam viver com dignidade.

Como eu já provei em outros textos desta série a partir da história e de muitas obras relevantes, o socialismo já criou muitas injustiças, com certeza mais do que o capitalismo. E muito mais do que combater um suposto inimigo, precisamos nos posicionar e brigar por políticas que ajudem as pessoas a mudarem de vida, a crescerem e poderem viver com dignidade.

Não sonho com um país sem classes e sim, com um lugar onde a dignidade seja a prioridade em sua política.

BIBLIOGRAFIA

ORWELL, George. O caminho para Wigan Pier. 1. ed. São Paulo: Lafonte, 2021.

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