A DOR COMO CENTRO DE TUDO

Quem já teve algum problema de saúde que trouxesse dor, sabe muito bem como a dor é debilitante. Mesmo as mais suportáveis, nos paralisam e mudam a forma como vemos as situações e o que está acontecendo em nosso entorno.

A dor tira toda a nossa alegria e vontade de estar em qualquer lugar, mesmo naqueles locais que gostamos muito. Em contrapartida, quando conseguimos a cura da dor, sentimos um alívio inexplicável. Saber que eu não terei mais aqueles episódios de dores é um sentimento muito maravilhoso.

Quem está sofrendo, certamente se desconstrói, não pensa em outra coisa e acaba fazendo com que o centro do universo seja ele e o seu sofrimento. A dor faz com que pensemos apenas em nós e em nosso problema, ela amplifica tudo, amargando o gosto pelas coisas que mais gostamos. O sofrimento tem o poder de retirar o sabor e o prazer de fazer as atividades que deveriam nos deixar alegres. Rubem Alves acrescenta afirmando que:

“O centro do universo se encontra no lugar que está doendo” (ALVES, 2015, p. 103).

Creio que a dor sentimental ou uma decepção também tem um efeito parecido. Ela nos deixa no centro, faz com que tudo gire a nossa volta, nos deixando sem saber como podemos silenciar ou amainar a falta. Quando tudo está doendo ou mesmo quando estamos sofrendo, nos sentindo injustiçados, pensamos apenas em nós, e paramos de perceber o outro.

Eu já conversei com muitos que passavam por momentos difíceis, seja por conta de uma separação, a perda de um ente querido ou mesmo por conta de enfermidades, e era visível constatar como estes não conseguiam olhar para outro lado. Em uma atitude totalmente normal, já que perder alguém não é muito fácil. O problema é quando o luto se estende e tampa a visão da vida, das possibilidades ou do próximo.

Não existe uma fórmula para passar por um momento difícil, só precisamos entender que a dor faz parte da vida, não adianta querer fugir. Em momentos difíceis eu sempre olho para a cruz, lembrando-me que Deus entende muito bem o que é sofrer. Se a dor tapa a nossa visão, a cruz e a palavra de Deus, nos faz olharmos para Ele, sendo que é através desta atitude, tendo esperança, e buscando o conforto em sua graça, que conseguimos colocar a nossa vida no centro da vontade de Deus. Que diga-se de passagem, é o melhor lugar para estar.

Ao olhar para Deus, eu olho também em volta. A sua graça tem o poder de nos sustentar e nos fazer olhar para o próximo, percebendo que cada um tem as suas dores e dificuldades. Mas quando olho só para mim, deixando de olhar para a cruz, eu me fecho em um egoísmo, me colocando como o centro, o único que sofre e que tem problemas.

Entregar nossos problemas nas mãos de Deus é ter a certeza que seja qual dor que for, Ele vai entender. Pois além de ser Deus, Ele foi também um ser humano, sentiu dor, a falta e a fragilidade que é estar encarnado na condição de um homem. Mas olhar para Deus é também ser liberto do meu egoísmo, tendo a minha vida inundada pela sua graça que me ajuda a realmente ver.

Sem Deus, seguimos olhando apenas para nós, nossas dores e prioridades, mas quando temos Deus no centro de tudo, além de termos esperança, conseguimos olhar em volta e perceber as pessoas.

Que Deus possa estar no centro da nossa vida, que a sua graça nos ajude a perceber o quanto somos pequenos e falhos sem Ele!

BIBLIOGRAFIA

ALVES, Rubem. O Deus que conheço. 4. ed. Campinas: Verus Editora, 2015.

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